terça-feira, 19 de junho de 2012

Dos Tratados de Balduíno de Cantuária, bispo (Tract.6:PL204,466-467) (Séc.XII)


O Senhor é quem discerne os pensamentos
e as intenções do coração

       "O Senhor conhece os pensamentos e as intenções de nosso coração. Quanto a si,  conhece-os todos, sem dúvida alguma; quanto a nós, conhece aqueles que sua graça nos  faz devidamente discernir.O espírito que há no homem não conhece tudo que existe no  homem, e percebe a respeito de seus pensamentos quais os que deve ou não aceitar.  Contudo, nem sempre julga conforme a realidade. O que vê pelos olhos da mente não o  discerne com exatidão, por causa da fraqueza da vista.
       É freqüente que, pela própria imaginação ou por outra pessoa ou pelo tentador, se  apresente algo sob a aparência de piedade que, aos olhos de Deus, não merece o prêmio  da virtude. Pois existem simulacros das verdadeiras virtudes e também dos vícios, que  iludem os olhos do coração. Como por artifícios, de tal forma pressionam a penetração  do espírito que muitas vezes lhe parece ver o bem onde não existe ou o mal onde não  está. Faz isto parte de nossa miséria e ignorância, muito triste e muito de se lamentar e  temer.
       Está escrito: Caminhos há que parecem retos ao homem, cujo fim leva ao inferno. Para  evitar esse perigo, São João nos adverte: Provai os espíritos a ver se são de Deus.  Quem poderá provar se os espíritos são de Deus, se não lhe for dado por Deus o  discernimento dos mesmos, para que possa examinar com precisão e verdadeiro juízo os  pensamentos, afetos e intenções espirituais? Na verdade a discrição é a mãe de todas as  virtudes, necessária a cada um, seja para a orientação da vida de outros, seja para o  governo e correção da sua.
       É reto o pensamento do que há a fazer, se dirigido pela vontade de Deus, se a intenção é  simplesmente dirigida para ele. Desta forma todo o corpo de nossa vida ou de qualquer  ação nossa será luminoso, sendo simples os olhos. O olho simples é olho e é simples  porque pelo julgamento reto vê o que deve fazer e, pela intenção pura, age com  simplicidade naquilo que nunca deveria fazer-se com duplicidade. O julgamento reto  não admite o erro; a intenção pura exclui o fingimento. Este é o verdadeiro  discernimento: a junção do reto juízo e da pura intenção.
        Tudo isto se há de fazer à luz da discrição, como em Deus e diante de Deus".

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