quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dos sermões de São Fulgêncio de Ruspe, bispo (Sermo 3,1-3.5-6:CCL 91 A, 905-909) (Séc. VI)



As armas da caridade

"Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado.
Ontem o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um seio virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda de seu corpo, parte vitorioso para o céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos vazias. Trouxe para seus soldados um grande dom, que não apenas os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate: trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo do modo admirável a pobreza dos seus fiéis, ele conservou a plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estevão da terra ao céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no soldado.
Estêvão, para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o apedrejavam. Por esta caridade, repreendia os que estavam no  erro para que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.
Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter como companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra.  Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela oração, a quem não pudera converter pelas admoestações.
E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro, martirizado pelas pedras de Paulo,  chegou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estevão.
É esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha mais da morte de Estêvão, mas Estevão se alegra pela companhia de Paulo, porque em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a crueldade dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em ambos, a caridade mereceu a posse do reino dos céus.
A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o caminho que conduz ao céu.  Quem caminha na caridade não pode errar nem temer.  Ela dirige, protege, leva a bom termo.
Portanto, meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo cristão pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai-a uns para com os outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no caminho da perfeição."

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Sermo 1 in Nativitate Domini, 1-3; PL 54,190-193) (Séc. V)




Toma consciência, ó Cristão, da tua dignidade

"Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com promessa da eternidade.
Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. A causa da alegria é comum a todos, porque nosso senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida.
Quando chegou a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com seu criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes vencera.
Eis por que, no nascimento do Senhor, os anjos cantam jubilosos: Glória a deus nas alturas; e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14). Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo. Diante dessa obra inexprimível do amor divino, como não devem alegrar-se os homens, em sua pequenez, quando os anjos, em sua grandeza, assim se rejubilam?
Amados filhos, demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós. E quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo (Ef 2,5) para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos.
Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.
Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus.
Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo."

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Aparição de Nossa Senhora de Beauraing, na Bélgica



Onde aconteceu: Na Bélgica.

Quando: Em 1932 (1° parte).
              Em 1933 (2ª parte).

A quem: A cinco crianças (1932) e a um adulto (1933)

Os fatos: Beauraing em 1932 era um minúsculo povoado que nem nos mapas constava. Situado na região das Ardenas, planalto caracterizado por grandes penhascos, desfiladeiros e rios caudalosos, distante dez quilômetros da fronteira com a França.
        
Ao entardecer de 29 de novembro de 1932, cinco crianças, entre 09 e 15 anos, viram uma forte luz que envolvia um minúsculo Santuário de Nossa Senhora de Lourdes (estilo Capital), chamado na região de “gruta”.
        
As crianças eram três irmãos da família Voisin e dois da família Degeimbre.

Em 1 de dezembro já foi possível visualiza em meio a grande luminosidade que envolvia a “gruta” , a presença de uma pessoa de pequena altura. No dia seguinte, com maior nitidez, foi possível identificar no vulto uma belíssima Senhora, então as crianças caíram de joelhos, rezaram uma ave-maria e Albert Voisin indagou:

- A Senhora é, realmente a Virgem Imaculada?

Ela com a cabeça, respondeu afirmativamente. Voltou a perguntar:

- O que deseja que façamos?

Ela respondeu:

- Quero que sejam muito bons!
        
Os cinco retornaram em 4 de dezembro, e quando Nossa Senhora apareceu, Albert indagou:

- Quando devemos voltar?

A Virgem Santíssima disse:

- No dia da Imaculada Conceição!

Fernanda, irmã de Albert, questionou: 

- Precisamos conseguir a construção de uma Capela para a Senhora?

E a resposta foi simples e clara:

- “Sim”. E desapareceu.
        
Até o dia 08 de dezembro, Nossa Senhora manifestou-se por mais 3 vezes.

Chegando finalmente a quinta-feira, Festa da Imaculada Conceição, após tudo ter tomado conhecimento do que acontecia na pequena Beauraing, uma imensa aglomeração de aproximadamente dez mil pessoas se faziam presentes.

Nesse dia existia inclusive uma equipe médica para investigar a autenticidade dos fatos. Quando a Virgem Santíssima apareceu e as crianças caíram de joelhos em êxtase, foram propositalmente molestados, inclusive picados com fósforo acesos e cutucados com canivetes, não demonstrando nenhuma reação física, o que caracterizou um autêntico estado de êxtase.
 Após saírem dessa abstração espiritual comandada por Deus, nem marcas físicas das contusões foram encontradas.

Durante o mês de dezembro as crianças rezavam o terço, quase que diariamente, em frente ao minúsculo Santuário (Capital), sempre acompanhados por um número imenso de devotos e romeiros, porém Nossa Senhora poucas vezes manifestou-se.

Reafirmando o seu desejo de construírem ali um grande Santuário, disse:

-“Para que as pessoas se reúnam em romaria”.

A Aparição final ocorreu em 3 de janeiro de 1933, e ao questionarem Albert Voisin sobre o conteúdo da mensagem final, ela apenas disse:

- Bem, se querem saber, era um tanto desalentadora...

Quando todos davam por encerradas as manifestações de Nossa Senhora de Beauraing, os Céus ainda tinham planos para a região.

Em 11 de junho de 1933, um artesão chamado Tilman Come, morador de Pontaury, distante 50 quilômetros de Beuaraing, foi até a pequena “gruta” de Nossa Senhora de Lourdes local das Aparições, buscar um pouco de conforto, tendo essa decisão por fé, devido ao grande sofrimento que vivia nesse momento de sua vida, acometido de uma gravíssima moléstia na coluna vertebral, denominada espondilite, e que trazia dores terríveis, além do enrijecimento definitivo das articulações.
Em suma, estava morrendo.

E que grande sacrifício foi percorrer a distancia, apesar de pequena, pelas irregularidades da sala da entrada. Lá chegando, rezou diversas Ave-marias chamando a Deus, por intercessão de Nossa Senhora, por misericórdia. Quando já retornava sem nenhuma melhora, eis que, começa a retorcer-se dentro do carro por dores fortíssimas, causando pânico em sua esposa, ao lado, pensando que estava morrendo.

 As pessoas que também rezavam e estavam próximas ficaram chocadas ao verem seu estado, mas logo a seguir muito impressionados, pois de um momento para outro, viram-no deixar o carro caminhando normalmente, com o rosto sereno e fisicamente perfeito, sem nenhuma seqüela.

O fato espalhou-se rapidamente por toda a região e o país. Tilman Come explicou o momento em que contorceu-se de dores no carro, como um êxtase, pois perdeu a noção de tudo em seu redor, viu nitidamente Nossa Senhora que lhe sorria maternalmente, dizendo que “o veria amanhã”.

No dia seguinte ao retornar a “gruta”, já acompanhado por grande número de pessoas, Nossa Senhora manifestou-se novamente e disse-lhe:

- “Vim aqui para a glória da Bélgica e para preservar esta terra do invasor. Você precisa se apressar”.

OBS: Neste momento é preciso deixar bem claro que a Mãe de Deus está profetizando Hittler que em 1939, ou seja, 06 anos depois, durante a II Guerra Mundial, invadiria a Bélgica, apesar de todos os tratados de paz e neutralidade da Bélgica assinados com a Alemanha.

Lamentavelmente mais uma vez os homens preferiram acreditar nos homens, não levando em conta os Misericordiosos avisos de Deus. Pela incredulidade e ceticismo das classes dominantes, o povo belga sofreu terrivelmente nas mãos dos nazistas. Com isso Tilman Come passou a ser o principal interlocutor da Santíssima Virgem nesta Aparição.


Outros fatos importantes desta Manifestação:

__ Na Aparição de 5 de agosto de 1933 houve um comparecimento estupendo de devotos e romeiros, estimados em duzentas mil pessoas;

__ Na construção da grande Capela pedida por nossa Mãe, ela lembrou para preservarem a pequena capital;

__ No final do verão de 1933 em torno de 150 mil devotos compareciam na pequena “gruta”;

__ Durante as grandes romarias centenas de curas aconteciam;

__ Até junho de 1934, no Santuário provisório, compareceram aproximadamente 1,7 milhões de devotos; (Na época em Lourdes chegavam a 1 milhão, anualmente).

__ O bispo autorizou a devoção publica a Nossa Senhora de Beauraing, em 02 de fevereiro de 1943, durante a II Guerra Mundial e a ocupação nazista que sangrou o povo belga.

Por que não acreditam nos avisos de Deus, que sua Mãe Santíssima nos traz?

__ Dentre várias centenas, pelo menos a diocese reconheceu como autênticas duas curas por intercessão de Nossa Senhora de Beauraing;

__ O bispo diocesano em documento publico reconheceu perante o clero que a Mãe de Deus esteve em Beauraing; era o dia 02 de julho de 1949;

__ Finalmente em 21 de agosto de 1954, foi consagrada a belíssima basílicasolicitada pela Rainha do Céu e da terra.

__ A visitação anual, atualmente, aproxima-se de um milhão de romeiros, de diversos países.
        
“Foram precisos vinte e dois anos, mas mais uma vez a Celeste Comandante venceu pela força do Amor”.


 



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Árvore de Natal: uma tradição católica criada por santos



            O costume de ornar um pinheiro nas festas de Natal data dos tempos do Papa São Gregório Magno (540-604), que impulsionou a cristianização das tribos germânicas no início da época medieval.
           Estas tribos tinham o costume esdrúxulo de adorarem árvores e lhes oferecerem sacrifícios.
           Os missionários e monges aproveitaram então a forma triangular do pinheiro para explicar aos bárbaros o mistério da Santíssima Trindade.
             Mas as coisas não eram fáceis.
            A primeira árvore de Natal remonta ao longínquo ano 615. São Columbano, monge irlandês fora à França para abrir mosteiros.
            Mas a indiferença dos habitantes era tal que ele estava quase desanimando.

          Numa noite de Natal, teve ele a ideia de cortar um pinheiro, única árvore verde nessa época do ano e iluminá-lo com tochas.
       Todo mundo ficou intrigado.
      A aldeia correu em peso a ver a maravilha.
       Então o santo monge pregou o nascimento do Menino Jesus!
      Mas são muitas as cidades que disputam a autoria da encantadora árvore.
        Segundo muitos, ela nasceu na Alsácia.
       Lá, na cidade amuralhada de Sélestat, o imperador Carlos Magno passou a Santa Noite do ano 775.
       Teria sido ele o inspirador da primeira árvore de Natal.
    Posteriormente, os habitantes da cidade deram forma definitiva à árvore natalina católica.

    Porém, o documento mais antigo que há em Sélestat é de 1521.
     A cidade de Riga, na Letônia, diz ter sido a primeira em expor uma árvore de Natal no ano do Senhor de 1510.
     É certo que no século XVI a árvore de Natal era montada no coro das igrejas da Alsácia representando a árvore do Paraíso.
     Ela era ornamentada com maçãs para lembrar o fruto da tentação dos primeiros pais.
   Mas tinha também representações de hóstias figurando os frutos da Redenção.
    Elas também contavam com anjos, estrelas de papel e muitas outras decorações.
      Escolhendo a árvore do Paraíso como símbolo das festividades do Natal, a Igreja Católica estabeleceu uma ponte entre o pecado de Adão e Eva numa extremidade, e a vinda de Jesus, o novo Adão que veio regenerar a humanidade nascendo do seio virginal da nova Eva, Nossa Senhora, na outra.
     É fato assente que o costume generalizou-se na França quando a princesa Hélène de Mecklembourg o trouxe a Paris em 1837, após seu casamento com o duque d’Orléans.
     Em 1841, o príncipe consorte Alberto, esposo da rainha Vitória da Inglaterra, ergueu uma árvore de Natal no castelo de Windsor.
      A partir da corte inglesa, então a mais influente da terra, o católico costume propagou-se para todo o povo inglês, e de ali para o mundo inteiro.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Do Tratado sobre a Contemplação de Deus, de Guilher­me, abade do Mosteiro de Saint-Thierry. (Nn. 9-11: SCh 61,90-96)



Deus nos amou primeiro

"Somente vós sois realmente Senhor, vós para quem Cominar sobre nós é salvar-nos; enquanto, para nós, servir-vos nada mais é do que ser salvos por vós.
Senhor, de vós procede a bênção e a salvação para vosso povo. Mas que salvação é esta senão a graça que nos concedeis de vos amar e de ser amados por vós?
Por isso, Senhor, quisestes que o Filho que está à vossa direita, o homem que fortalecestes para vós, fosse chamado Jesus, isto é, Salvador:pois ele vai salvar o povo de seus pecados (Mt 1,21) e em nenhum outro há salvação (At 4,12). ]Ele nos ensinou a amá-lo, ao nos amar primeiro e até à morte de cruz. Por seu amor e sua dileção, suscita nosso amor por ele, que nos amou primeiro e até o fim.
Foi assim mesmo: vós nos amastes primeiro para que: Vos amássemos. Não tínheis necessidade de ser amado por nós, mas não poderíamos atingir o fim para o qual fomos feriados se não vos amássemos.
Eis por que, tendo falado outrora a nossos pais muitas vezes e de muitos modos por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos nos falastes pelo vosso Filho, pelo vosso verbo; por ele é que os céus foram criados, e pelo sopro de seus lábios, todo o universo (Sl 32,6).
Para vós, falar por meio do vosso Filho não foi outra coisa senão trazer à luz do sol, isto é, manifestar claramente B quanto e como nos amastes, vós que não poupastes vosso próprio Filho, mas o entregastes por todos nós. E ele também nos amou e se entregou por nós.
É essa, Senhor, a Palavra que nos dirigistes, o Verbo todo-poderoso. Quando todas as coisas estavam envolvidas no silêncio (cf. Sb 18,14), ou seja, nas profundezas do erro, ele desceu do seu trono real (Sb 18,15) para combater energicamente todos os erros e fazer triunfar suavemente o amor.
E tudo o que ele fez, tudo o que disse na terra, até aos opróbrios, até aos escarros e às bofetadas, até à cruz e à sepultura, não foi senão a palavra que nos dirigistes em vosso Filho, suscitando pelo vosso amor o nosso amor por vós.
Bem sabíeis, ó Deus, Criador dos homens, que este amor não pode ser imposto, mas que é necessário estimulá-lo no coração humano. Porque onde há coração não há liberdade, e onde não há liberdade também não há justiça.
Quisestes assim que vos amássemos, pois não podería­mos ser salvos com justiça sem vos amar; e não poderíamos amar-vos sem receber de vós esse amor.
Por isso, Senhor, como diz o Apóstolo do vosso amor e nós também já dissemos, vós nos amastes primeiro; e amais primeiro todos os que vos amam.
Nós, porém, vos amamos com o afeto do amor que pusestes em nós. Mas vosso amor, vossa bondade, ó suma­mente bom e sumo bem, é o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. Desde o princípio da criação ele pairava sobre as águas, isto é, sobre os espíritos indecisos dos filhos dos homens; ele se oferece a todos, atrai tudo a si, inspirando, encorajando, afastando as coisas nocivas, providenciando as úteis, unindo Deus a nós e unindo-nos a Deus."

Do Cântico espiritual, de São João da Cruz, presbítero (Red. B, str. 36-37, Edit. E. Pacho, S. Juan de la Cruz, Obras completas, Burgos, 1982, p. 1124-1135) (Sec. XVI)


Conhecimento do mistério escondido em Cristo Jesus

"Embora os santos doutores tenham explicado muitos mistérios e maravilhas, e pessoas
 devotadas a esse estado de vida os conheçam, contudo, a maior parte desses mistérios
 está por ser enunciada, ou melhor, resta para ser entendida.
Por isso é preciso cavar fundo em Cristo, que se assemelha a uma mina riquíssima,
contendo em si os maiores tesouros; nela por mais que alguém cave em profundidade,
nunca encontra fim ou termo. Ao contrário, em toda cavidade aqui e ali novos veios de
novas riquezas.
Por este motivo o apóstolo Paulo falou acerca de Cristo: Nele estão escondidos todos os
tesouros da sabedoria e da ciência de Deus (Cl 2, 3). A alma não pode ter acesso a estes
tesouros, nem consegue alcançá-los se não houver antes atravessado e entrado na
espessura dos trabalhos, sofrendo interna e externamente e sem ter primeiro recebido
de Deus muitos benefícios intelectuais e sensíveis e sem prévio e contínuo exercício
espiritual.
Tudo isto é, sem dúvida, insignificante; são meras disposições para as sublimes
profundidades do conhecimento dos mistérios de Cristo, a mais alta sabedoria a que se
pode chegar nesta vida.
Quem dera reconhecessem os homens ser totalmente impossível chegar à espessura das
riquezas e da sabedoria de Deus! Importa antes entrar na espessura das labutas,
suportar muitos sofrimentos, a ponto de renunciar à consolação e ao desejo dela. Com
quanta razão a alma, sedenta da divina sabedoria, escolhe antes em verdade entrar na
espessura da cruz.
Por isso, São Paulo exortava os efésios a não desanimarem nas tribulações, a serem
fortíssimos, enraizados e fundados na caridade, para que pudessem compreender, com
todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura, a profundidade, e conhecer o
amor de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento, a fim de serem cumulados até
receber toda a plenitude de Deus (Ef 3, 17-19).
Já que a porta por onde se pode entrar até esta preciosa sabedoria é a cruz, e é porta
estreita, muitos são os que cobiçam as delícias que por ela se alcançam; pouquíssimos os
que desejam por ela entrar."

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Do Tratado de Santo Agostinho, bispo, «Contra Fausto» (L. 20, 21: CSEL 25, 562-563) (Sec. V) Celebremos os Mártires com um culto de amor e comunhão




Celebremos os Mártires com um culto de amor e comunhão

          "O povo cristão celebra a memória dos seus Mártires com religiosa solenidade, para se animar a imitá los, participar dos seus méritos e ser ajudado com a sua intercessão; não dedica, porém, altares aos Mártires, mas apenas em memória dos Mártires.
           Com efeito, qual é o bispo que, ao celebrar a missa sobre os sepulcros dos Santos, disse alguma vez: Nós te oferecemos a ti, Pedro, ou a ti, Paulo, ou a ti, Cipriano? A oblação é feita a Deus, que coroou os Mártires, junto dos sepulcros daqueles que Deus coroou, para que a evocação desses lugares santos desperte em nós um sentimento mais vivo de amor àqueles a quem podemos imitar e Àquele cujo auxílio nos torna possível a imitação.
            Veneramos os Mártires com um culto de amor e de comunhão, semelhante ao que dedicamos nesta vida aos santos homens de Deus, cujo coração sabemos estar já disposto ao martírio em testemunho da verdade do Evangelho. Mas àqueles que já superaram o combate e vivem triunfantes numa vida mais feliz, prestamos este culto de louvor com maior devoção e confiança do que àqueles que ainda lutam nesta vida.
Contudo, o culto chamado de latria, que consiste na adoração devida à divindade, reservamo-lo só para Deus, e não o prestamos aos Mártires nem ensinamos que se lhes deva prestar.
            Como a oblação do sacrifício faz parte deste culto de latria – e por isso se chama idolatria a oblação feita aos ídolos – nós não o oferecemos nem mandamos oferecer aos Anjos, aos Santos, aos Mártires; e se alguém cai em tão grande tentação, é advertido com a verdadeira doutrina, para que se corrija e tenha cuidado.
            Os Santos e os homens recusam-se a apropriar-se destas honras devidas exclusivamente a Deus. Assim fizeram Paulo e Barnabé quando os habitantes da Licaónia, impressionados com os milagres feitos por eles, quiseram oferecer-lhes sacrifícios como se fossem deuses; mas eles, rasgando os seus vestidos, proclamaram que não eram deuses, e deste modo impediram que lhes fossem oferecidos sacrifícios.
            Uma coisa, porém, é o que nós ensinamos, e outra o que nós suportamos; uma coisa é o que mandamos fazer, e outra o que queremos corrigir e nos vemos forçados a tolerar, enquanto não conseguimos corrigi-lo."