quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Oração a Beatíssima Virgem do Carmo



 

         "Oh! piedosíssima Virgem! Vós, que nove séculos antes de existir fostes vista em profecia pelo servo de Deus nosso pai São Elias, e venerada por seus filhos no Carmelo... Vós, que em carne mortal vos dignaste visitar-lhes e lhes dispensaste celestiais alegrias... Vós, que vigiais sempre pela virtuosa família que teve por Superior a vosso estimado filho São Simão Stock, por pais e reformadores a seráfica virgem e mística Doutora Santa Teresa de Jesus e ao esclarecido e extático São João da Cruz, assim como por uma de suas digníssimas filhas a exemplar esposa de Jesus Cristo Santa Maria Madalena de Pazzis, vossa devotíssima serva... Vós, que engrandecestes a Ordem com a estimável prenda do Santo Escapulário.., e, em fim, Vós, que de tantas maneiras haveis demonstrado vosso carinhoso amor aos carmelitas e seus devotos, recebei benévola meu coração ardente de fervoroso entusiasmo dado a mais pura das criaturas e a mais amorosa das mães. Não permitais, Senhora, que o leão rugente assuste meu espírito no caminho da perfeição, e fazei que consiga subir a glória, como o haveis alcançado de vosso Divino Jesus para os que invocando-vos com fé e imitando vossas virtudes, morreram piamente com vossa proteção. Amém".

            

Oração da Família



"Senhor, nós vos louvamos pela nossa família e agradecemos a vossa presença em nosso lar.
Iluminai-nos para que sejamos capazes de assumir nosso compromisso de fé na Igreja e de participar da vida de nossa comunidade.
Ensinai-nos a viver a vossa palavra e o Vosso mandamento de Amor, a exemplo da Família de Nazaré.
Concedei-nos a capacidade de compreendermos nossas diferenças de idade, de sexo, de caráter, para nos ajudarmos mutuamente, perdoarmos nossos erros e vivermos em harmonia.
Dai-nos, Senhor, saúde, trabalho e um lar onde possamos viver felizes.
Ensinai-nos a partilhar o que temos com os mais necessitados e empobrecidos, e dai-nos a graça de aceitar com fé e serenidade a doença e a morte quando se aproximem de nossa família.
Ajudai-nos a respeitar e incentivar a vocação de nossos filhos quando quiserdes chamar a Vosso serviço.
Que em nossa família reine a confiança, a fidelidade, o respeito mútuo, para que o amor se fortifique e nos una cada vez mais.
Permanecei em nossa família, Senhor, e abençoai nosso lar hoje e sempre. Amém!"



Nossa Senhora do Pilar


 
Onde aconteceu: Na Espanha.

Quando: Durante o século I - (ano 40 da era cristã)

A quem: Ao apóstolo São Tiago.


A História

         De acordo com uma antiqüíssima tradição, venerada e viva ao longo dos séculos, a Virgem Maria quando ainda morava neste mundo, isto é, antes de subir em corpo e alma aos céus, veio a Zaragoza para confortar e alentar ao Apóstolo São Tiago que no momento, encontrava-se às margens do rio Ebro, pregando o Evangelho.
          Este fato situa-se na noite do dia 2 de janeiro do ano 40 da era cristã.


         S. Tiago o Maior, Apóstolo da Espanha

         Segundo a Anna Catharina Emmerich:
           
         "Partindo de Jerusalém, Tiago o Maior dirigiu-se, pelas ilhas gregas e pela Sicília, à Espanha, onde desembarcou em Gades. Como ali não fosse bem recebido, mudou-se para outra cidade. Mas também não foi tratado melhor, prenderam-no e teria sido morto, se um Anjo não o tivesse livrado milagrosamente. Deixou na Espanha cerca de sete discípulos e, acompanhado de dois outros, voltou por Massília, no sul da França, a Roma.
         Mas voltou depois à Espanha, dirigindo-se de Guedes, por Toledo, a Zaragoza".
     “Ali, diz Catharina Emmerich, se converteu muita gente, ruas inteiras creram no Senhor, com exceção apenas dos que ainda aderiam ao paganismo. Vi Tiago correr também muitos perigos.Soltavam contra ele víboras, as quais tomava tranquilamente nas mãos e não lhe faziam mal, mas viravam-se contra os idólatras que o cercavam, e estes, vendo o milagre, começavam a temê-lo.
         Vi também que em Granada, onde apenas começara a pregar, foi preso com todos os discípulos e cristãos. Tiago invocou no coração o socorro e a proteção da Santíssima Virgem, que nesse tempo ainda vivia em Jerusalém e Maria salvou-o, com todos os seus discípulos, por intermédio de Anjos. A Virgem Santíssima mandou-lhe por um Anjo a ordem de ir à Galícia, pregar ali a fé e depois voltar. Vi Tiago, após a volta, em grandes tribulações, por causa de uma iminente perseguição e provação da comunidade cristã de Zaragoza.Rezava numa noite à beira do rio, fora dos muros da cidade, junto com alguns discípulos, pedindo a Deus conselho, se devia ficar ou fugir. Lembrou-se também da Santíssima Virgem e suplicou-Lhe que o ajudasse a pedir luzes e auxílio do Filho, que certamente não lhe negaria.

            O Pilar de Luz

         Então vi subitamente aparecer por cima do Apóstolo um esplendor no céu e Anjos que entoavam um magnífico canto e transportavam uma coluna resplandecente, que da base projetava um raio fino de luz sobre um lugar, alguns passos distante de Tiagocomo para indicar esse ponto. A coluna tinha um brilho vermelho, era atravessada por muitas veias, muito alta e delgada, terminando em cima como um lírio, que se abre em línguas de luz, das quais uma raiava longe, em direção a Compostela, a oeste, as outras, porém, para as regiões próximas. (Formando assim um pilar)
         Nessa flor de luzvi a figura da Santíssima Virgem em pé, como sempre ficava em vida na terra, durante a oração, toda branca e transparente, com um brilho mais belo e suave que o da seda branca. Estava de mãos postas, uma parte do longo véu cobria-lhe a cabeça, a outra parte, porém, envolvia-a até os pés, de modo que com os pés delicados e pequenos estava sobre as cinco pétalas da flor da luz. Era um quadro indizivelmente doce e belo.
         Vi que Tiago, orando de joelhos, levantou os olhos e recebeu interiormente de Maria a ordem de, sem demora, construir nesse lugar um templo, em que a intercessão de Maria se firmasse como uma coluna. Ao mesmo tempo lhe anunciou a Virgem Santíssima que, depois de acabar a construção da Igreja, devia ir a Jerusalém, Tiago levantou-se, chamou os discípulos, que já tinham visto a luz e correram para junto dele e comunicou-lhes a aparição milagrosa e todos seguiam com os olhos o esplendor que ia desaparecendo.
        Tendo executado em Zaragoza a ordem de Maria, Tiago constituiu uma comissão de doze discípulos, entre os quais também homens doutos, que deviam continuar a obra, que começara com tantas dificuldades e tribulações.
         Em seguida partiu da Espanha para Jerusalém, como lhe ordenara a Virgem. Nessa viagem visitou em Éfeso Maria, que lhe predisse a morte próxima, em Jerusalém, consolando e confortando-o. Tiago despediu-se de Maria e do irmão e continuou a viagem para Jerusalém, onde foi decapitado.

O corpo do Apóstolo São Tiago

O corpo do Apóstolo esteve algum tempo num sepulcro perto de Jerusalém. Quando, porém, se levantou uma nova perseguição, levaram-no alguns discípulos, entre os quais José de Arimatéia e Saturnino, para a Espanha. Mas a perversa rainha Lupa, que já antes perseguira S. Tiago, não quis permitir que o sepultassem ali.
“Os discípulos tinham posto o santo corpo sobre uma pedra, que sob ele formou então uma cavidade, como um sepulcro. Sucedeu também que outros cadáveres, sepultados ao lado, foram lançados fora da terra. Lupa acusou os discípulos perante o rei, que os mandou prender; mas escaparam milagrosamente e o rei que os perseguia com cavalaria, passou sobre uma ponte, que desabou, morrendo ele com todos os companheiros. Lupa assustou-se tanto com esse fato, que mandou dizer aos discípulos que prendessem e atrelassem touros bravos num carro; onde estes levassem o corpo, ali poderiam construir uma Igreja. Esperava que os touros bravos destruíssem tudo. Um dragão opôs-se na região deserta aos discípulos, mas morreu fulminado, quando fizeram o sinal da cruz; os touros bravos, porém, tornaram-se mansos, deixaram-se atrelar ao carro e levaram o santo corpo ao castelo de Lupa. Ali então foi sepultado e o castelo transformado em Igreja, pois lupa converteu-se, confessando a fé cristã, com todo o povo”.
         No sepulcro do santo Apóstolo aconteceram muitos milagres. Mais tarde lhe foram transferidos os ossos para Compostela, que se tornou um dos mais afamados lugares de peregrinação. S. Tiago pregou cerca de quatro anos na Espanha.

A construção do Templo

Segundo uma antiga tradição, desde os primórdios de sua conversão, os cristãos primitivos ergueram uma capelinha em honra da Virgem Maria, às margens do rio Ebro, na cidade de Zaragoza, Espanha.
A capelinha primitiva foi sendo reconstruída e ampliada com o correr dos séculos, até se transformar na grandiosa basílica que acolhe, como centro vivo e permanente de peregrinações a numerosos fiéis que, de todas as partes do mundo, vêm rezar à Virgem e venerar seu Pilar.



Basílica de Zaragoza as margens do rio Ebro - Espanha.

Muito para além dos milagres espetaculares,a Virgem do Pilar é invocada como refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos, Mãe da Espanha.
Sua ação é sobretudo espiritual.
A devoção ao Pilar tem uma enorme penetração na Ibero-américa, cujos países celebram o dia do descobrimento de seu continente a 12 de outubro, isto é, no dia do Pilar.
         A Basílica fica aberta o dia inteiro, mas nunca faltam os fiéis que chegam ao Pilar em busca de reconciliação, graça e diálogo com Deus.
É popular na Espanha, especialmente a região de Aragon, a jaculatória:
"Bendita seja a hora em que a Virgem veio em carne mortal a Zaragoza".

O Papa João Paulo II

O Papa João Paulo II, por duas vezes escolheu este santuário como primeiro passo de suas viagens à América Latina: em 1979, para assistir à Conferência de Puebla e em 1984 para inaugurar as comemorações do V Centenário do descobrimento e o início da evangelização na América.
O Papa dizia nessa basílica, citando Puebla:"Ela (Maria) tem que ser cada vez mais a pedagoga do Evangelho na América Latina" (Puebla, 290)."Sim, continua dizendo o Papa, a pedagoga, a que nos conduz pela mão, que nos ensina a cumprir o mandato missionário de seu Filho e a guardar tudo o que Ele nos ensinou. O amor à Virgem Maria, Mãe e Modelo da Igreja, é garantia da autenticidade e da eficácia redentora de nossa fé cristã".


Consagração a Nossa Senhora do Pilar


Virgem Imaculada! Minha Mãe! Maria!
Eu vos renovo, hoje e para sempre 
a consagração de todo o meu ser para que disponhais de mim
para o bem de todas as pessoas.


Somente vos peço, minha rainha e mãe da igreja, 
força para cooperar fielmente 
na vossa missão de trazer
o reino de Jesus ao mundo.


Ofereço-vos, portanto, 
Coração Imaculado de Maria, as orações e os sacrifícios
deste dia, para que fiéis à nossa consagração, 
sejamos igualmente disponíveis a colaborar convosco 
na construção de um mundo novo,

 

ó Maria concebida sem pecado! 
rogai por nós que recorremos a vós 
e por todos quantos recorrem
a vós, de modo particular as famílias de nossa comunidade paroquial, que vos venera com o título de Senhora do Pilar.


Salve Rainha...


 


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Nossa Senhora de Copacabana - Padroeira da Bolívia






        As margens do Titicaca, o lago mais alto do mundo, na pequena cidade de Copa cabana, situa-se o principal santuário mariano da Bolívia. Habitada pelos incas, com suas tradições religiosas, esta foi uma das primeiras regiões a beneficiar-se com a evangelização dos missionários católicos que ali chegaram com as tropas espanholas.
        Dom Francisco Tito Yupanqui, nobre descendente da família real, convertido ao cristianismo, fez voto de conseguir uma imagem da mãe de Deus que viria tirar do paganismo seus irmãos de Copacabana.
       Certo dia, em seu quarto, tem a visão de uma senhora coberta por longo manto. Sustentava no braço direito um Menino reclinado sobre seu peito e na mão esquerda uma vela acesa. Yupanqui logo teve a certeza de que assim deveria ser a representação da Virgem. Sem talento para a arte, fez jejuns e orações pedindo à Virgem que o ajudasse a fazer uma imagem sua.
      Depois de várias tentativas, primeiro em barro, depois em madeira, conseguiu esculpir uma imagem que estava muito longe da beleza original de sua visão. Prestes a desistir, tem uma inspiração divina, consegue retocar a imagem tornando-a belíssima, com uma expressão tão forte no olhar que comovia a quantos a contemplavam. Diz a lenda que naquela noite dois anjos vieram dourá-Ia envolvendo-a num belíssimo resplendor.
      A estátua original, de um metro de altura, ocupa o altar principal do santuário da cidade de Copacabana. Em 2 de agosto de 1925 Nossa Senhora de Copacabana foi proclamada padroeira da nação boliviana. Sua devoção superou fronteiras e hoje encontram-se igrejas a ela dedicadas em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.



Basílica de Nossa Senhora de Copacabana


Interior do santuário

A Virgem de Catamarca


A predileção de Nossa Senhora pelos índios é notória. Basta pensar em Nossa Senhora de Guadalupe, no México, Nossa Senhora de Coromoto, na Venezuela, Nossa Senhora de Las Lajas, na Colômbia, e tantas outras. Por que esta predileção? Porque uma mãe sempre se desvela por aqueles de seus filhos que mais necessitam. Ora, dada a triste condição espiritual  em que se encontravam  nossos índios na época dos descobrimentos, imersos nas trevas do paganismo, explica-se a solicitude da Mãe de Deus em converter e auxiliar esses seus filhos do Novo Mundo.
Mas por que insistimos neste ponto? Porque, hoje em dia, certos indigenistas e esquerdistas, imbuídos do espírito da luta de classes, tentam manipular os índios jogando-os contra os “brancos”, e para tal procuram reviver costumes pagãos e religiões fetichistas. E isto não só no Brasil, mas também em outros países da América Latina. Daí a importância de mostrar como historicamente Nossa Senhora ajudou muitíssimo os indígenas, mas sempre no sentido de sua conversão e afervoramento na Fé e integração na Civilização Cristã.
Vejamos um belo exemplo disto na história de Nossa Senhora do Vale de Catamarca, na Argentina.
A imagem milagrosa prefere ficar entre os índios
Nossa Senhora do Vale de Catamarca
Por volta de 1542, começaram os espanhóis a civilizar a zona norte da Argentina, onde se encontra o Vale de Catamarca. Diversas expedições foram percorrendo o país e fundando aldeias. Nelas, aos poucos iam se estabelecendo sacerdotes e povoadores católicos, que se empenhavam em fazer apostolado com os silvícolas. Entre os índios dessa região destacavam-se os calchaquíes, muitos dos quais não demoraram em converter-se à santa Religião Católica. E, algum tempo depois, passaram a venerar uma imagem de Nossa Senhora que se encontrava na gruta de Ambato, perto do povoado de Choya. Era uma imagem de mármore, de 42 centímetros de altura, que representava a Imaculada Conceição.
Qual a origem dessa imagem? Isto é objeto de apaixonados debates até hoje. Alguns supõem que a tenha levado São Francisco Solano, o qual pregou missões naquelas paragens. Outros julgam que foram os padres jesuítas. Entre os índios da região era crença geral que o próprio Deus formou a imagem e a colocou na gruta de Ambato.
Os espanhóis tomaram conhecimento da existência da imagem em 1630, pois um dos índios comunicou o fato à autoridade daquela região, Dom Manuel de Salazar, administrador do Vale e defensor dos indígenas. Este cavaleiro, bom cristão e de origem nobre, atuou como deve fazer uma verdadeira autoridade nestes casos: de forma discreta mas eficaz. Foi verificar se era procedente a comunicação, pois temia que  os índios estivessem adorando algum ídolo. Confirmando não haver nada de pagão naquela devoção, tentou convencer os índios a levarem a imagem para a cidade dos espanhóis. Estes, contudo, não o quiseram. Chegaram até a montar guarda diante da imagem, para evitar qualquer problema. Afinal, após verem que a  imagem sorria e refletia uma luz no olhar, consentiram na trasladação. Esta foi levada para um altar na casa do próprio Salazar, onde começou a operar prodígios.
Mas Nossa Senhora, com saudades de seus índios, fugiu  para a primitiva  gruta. Os espanhóis primeiro pensaram que os índios a tinham levado, mas depois comprovaram que estes nada tinham a ver com o desaparecimento. Levaram-na de volta a imagem para a cidade, mas ela  várias vezes retornou à gruta.
Isto perdurou até que foi edificada uma igreja para a milagrosa imagem, tendo-se destacado especialmente os índios nessa construção.
Apostasia dos índios afasta Nossa Senhora
Infelizmente, o coração humano é inconstante. Quem diria que a tribo dos calchaquíes, para a qual a imagem aparecera, tornar-se-ia uma das mais terríveis inimigas da civilização católica na região? Cumprir os Mandamentos divinos é difícil. Às  vezes, pessoas recém-convertidas à verdadeira Fé progridem na vida espiritual, mas depois abandonam a prática da virtude e tornam-se piores do que eram antes da conversão –“Quanto maior a altura, maior o tombo”...

Com a perversão dos índios calchaquíes, a imagem de Nossa Senhora tornou a desaparecer da igreja, mas não para apoiá-los em sua revolta contra os católicos. Pelo contrário, mostrou-lhes seu desgosto com a apostasia. Os documentos da época atestam que os mais terríveis combates da rebelião indígena coincidem com novas desaparições da imagem, a qual retornava à igreja com o manto cheio de pó, salpicado de barro, com pequenas folhas grudadas e a face ruborizada.
Foi especialmente notória a aparição de Nossa Senhora aos indígenas durante o ataque à cidade de Valle Viejo e ao forte São Bernardo, em 1658. Quando, 10 anos após esse ataque, desejando os espanhóis lembrar a vitória, levaram alguns índios prisioneiros à igreja onde se encontrava a imagem, estes começaram a gritar e a pedir para sair da Igreja. Por que razão? Observando a face da imagem, reconheceram nela a "guerreira que vimos em muitas batalhas". E ficaram apavorados.
Que triste reviravolta! Tão amados da Virgem, a ponto de Ela deixar outros filhos para permanecer junto a seus filhos indígenas. E depois tão infiéis, a ponto de se aterrorizarem com Ela!
Tal fato deve servir de ponto de meditação para nós: se isso ocorreu naquela época com indígenas, o mesmo pode ocorrer com católicos que apostatam de sua fé, adotando uma falsa religião ou entregando-se ao neopaganismo. Meditemos nisto a tempo, para evitarmos que tantas imagens de Nossa Senhora que protegem o Brasil se afastem de nós. E também para não chegarmos à tristíssima situação de nos atemorizarmos em presença dEla.
Socorro materno para os filhos fiéis
Os indígenas reconheceram, olhando essa face, "a guerreira que vimos em muitas batalhas"
Mas se nos mantivermos fiéis e não relativizarmos nossa Fé, poderemos presenciar milagres como o ocorrido com um devoto de Nossa Senhora de Catamarca. Após recuperar a saúde graças à intercessão da Virgem, ele decidiu fazer uma peregrinação até seu Santuário, para agradecer-lhe o favor. Tendo atingido a região de Salinas, seca por excelência, faltou-lhe água. Estava para morrer, quando encontrou um jarro de prata cheio de água. Ficou muito surpreso, pois encontrar água já teria sido um prodígio, mas outro prodígio é encontrá-la  num jarro de prata de muito valor, em pleno deserto. Decidiu então levá-lo ao Santuário, em agradecimento a Nossa Senhora. Qual não foi sua surpresa quando, ao entrar na sacristia, tomou conhecimento de que esse mesmo jarro havia desaparecido misteriosamente do Santuário na data em que ele o encontrara no deserto...
Pensemos nesses fatos: alguns tinham tudo e tudo perderam pelo pecado; outro nada tinha e estava às portas da morte; foi salvo pela devoção a Nossa Senhora. Sejamos como este filho confiante e fiel.

Discurso do Papa Bento XVI na ONU


Nova Iorque 
Sexta-feira, 18 de Abril de 2008 
  
Senhor Presidente 
Senhoras e Senhores! 
  
Ao dar início ao meu discurso nesta Assembléia, desejo antes de mais expressar-lhe, Senhor Presidente, a minha sincera gratidão pelas gentis palavras que me dirigiu. Dirijo igual sentimento ao Secretário-Geral, Senhor Ban Ki-moon, por me ter convidado para visitar os escritórios centrais da Organização e pelas boas-vindas que me dirigiu. Saúdo os Embaixadores e os Diplomatas dos Estados-Membros e quantos estão presentes:  através de vós, saúdo os povos que aqui representais. Eles esperam que esta Instituição dê continuidade à inspiração que guiou a sua fundação, a de um "centro para a harmonização dos atos das Nações no perseguimento das finalidades comuns", a paz e o progresso (cf. Carta das Nações Unidas, art. 1.2-1.4). Como disse o Papa João Paulo II em 1995, a Organização deveria ser "centro moral, no qual todas as nações do mundo se sintam na própria casa, desenvolvendo a consciência comum de ser, por assim dizer, uma "família de nações"" (Mensagem à Assembleia Geral das Nações Unidas, no cinquentenário da fundação, Nova Iorque, 5 de Outubro de 1995, 14). 
  
Através das Nações Unidas, os Estados deram vida a objetivos universais que, mesmo se não coincidem com o bem comum total da família humana, sem dúvida representam uma parte fundamental daquele próprio bem. Os princípios fundadores da Organização o desejo da paz, a busca da justiça, o respeito da dignidade da pessoa, a cooperação humanitária e a assistência expressam as justas aspirações do espírito humano e constituem os ideais que deveriam estar subjacentes às relações internacionais. Como os meus predecessores Paulo VI e João Paulo II observaram deste mesmo pódio, trata-se de assuntos que a Igreja Católica e a Santa Sé seguem com atenção e com interesse, porque vêem na vossa atividade como problemas e conflitos relativos à comunidade mundial podem ser submetidos a uma comum regulamentação. As Nações Unidas encarnam a aspiração a "um grau superior de orientação internacional" (João Paulo II, Sollicitudo rei socialis, 43), inspirado e governado pelo princípio de subsidiariedade, e portanto capaz de responder às perguntas da família humana através de regras internacionais vinculantes e mediante estruturas capazes de harmonizar o desenvolvimento quotidiano da vida dos povos. Isto é ainda mais necessário numa época em que experimentamos o óbvio paradoxo de um consentimento multilateral que continua a estar em crise devido à sua subordinação às decisões de poucos, enquanto os problemas do mundo exigem intervenções em forma de ação colectiva da parte da comunidade internacional. 
  
Sem dúvida, questões de segurança, objetivos de desenvolvimento, redução das desigualdades locais e globais, proteção do ambiente, dos recursos e do clima, exigem que todos os responsáveis internacionais ajam conjuntamente e demonstrem uma rapidez no agir em boa fé, no respeito da lei e na promoção da solidariedade em relação às regiões mais débeis do planeta. Penso de modo especial naqueles países da África e de outras partes do mundo que permanecem na margem de um autêntico progresso integral, e por isso correm o risco de experimentar apenas os efeitos negativos da globalização. No contexto das relações internacionais, é necessário reconhecer o papel superior desempenhado pelas regras e estruturas intrinsecamente ordenadas para promover o bem comum, e portanto para defender a liberdade humana. Tais regras não limitam a liberdade; ao contrário, promovem-na, quando proíbem comportamentos e atos que vão contra o bem comum, obstam à sua prática efetiva e por isso comprometem a dignidade de cada pessoa humana. No nome da liberdade deve haver uma co-relação entre direitos e deveres, com os quais cada pessoa está chamada a assumir a responsabilidade das próprias opções, feitas como consequência da entrada em relação com os outros. 
  
Aqui o nosso pensamento dirige-se ao modo como os resultados das descobertas da pesquisa científica e tecnológica por vezes foram aplicados. Não obstante os enormes benefícios que a humanidade pode receber deles, alguns aspectos de tal aplicação representam uma clara violação da ordem da criação, até ao ponto em que não só é contrastado o carácter sagrado da vida, mas a própria pessoa humana e a família são privadas da sua identidade natural. De igual modo, a ação internacional destinada a preservar o ambiente e a proteger as várias formas de vida sobre a terra não deve garantir apenas um uso racional da tecnologia e da ciência, mas deve também redescobrir a imagem autêntica da criação. Isto nunca exige uma opção a ser feita entre ciência e ética:  antes, trata-se de adotar um método científico que seja verdadeiramente respeitador dos imperativos éticos.
  
O reconhecimento da unidade da família humana e a atenção pela dignidade inata de cada homem e mulher encontram hoje uma renovada acentuação no princípio da responsabilidade de proteger. Só recentemente este princípio foi definido, mas já estava implicitamente presente nas origens das Nações Unidas e agora tornou-se cada vez mais uma característica da atividade da Organização. Cada Estado tem o dever primário de proteger a própria população de violações graves e contínuas dos direitos humanos, assim como das consequências das crises humanitárias, provocadas quer pela natureza quer pelo homem. Se os Estados não são capazes de garantir semelhante proteção, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos previstos pela Carta das Nações Unidas e por outros instrumentos internacionais. A ação da comunidade internacional e das suas instituições, suposto o respeito dos princípios que estão na base da ordem internacional, nunca deve ser interpretada como uma imposição indesejada e uma limitação de soberania. Ao contrário, é a indiferença ou a falta de intervenção que causam danos reais. Aquilo de que há necessidade é de uma pesquisa mais profunda de modos de prevenir e controlar os conflitos, explorando todas as possíveis vias diplomáticas e prestando atenção e encorajamento também aos mais débeis sinais de diálogo ou de desejo de reconciliação. 
  
O princípio da "responsabilidade de proteger" era considerado pelo antigo ius gentium como fundamento de qualquer ação empreendida pelos governantes em relação aos governados:  no tempo em que o conceito de Estados nacionais soberanos se ia desenvolvendo, o frade dominicano Francisco de Vitoria, justamente considerado precursor da ideia das Nações Unidas, tinha descrito esta responsabilidade como um aspecto da razão natural partilhada por todas as Nações, e como resultado de uma ordem internacional cuja tarefa era regular as relações entre os povos. Agora, como então, este princípio deve invocar a ideia da pessoa como imagem do Criador, o desejo de uma liberdade absoluta e essencial. A fundação das Nações Unidas, como sabemos, coincidiu com a profunda indignação sentida pela humanidade quando foi abandonada a referência ao significado da transcendência e da razão natural, e como consequência foram gravemente violadas a liberdade e a dignidade do homem. Quando isto acontece, estão ameaçados os fundamentos objetivos dos valores que inspiram e governam a ordem internacional e são minados na base aqueles princípios improrrogáveis e invioláveis formulados e consolidados pelas Nações Unidas. Quando se está diante de desafios novos e insistentes, é um erro retroceder a uma abordagem pragmática, limitada a determinar "um terreno comum", mínimo nos conteúdos e frágil nos seus efeitos
  
A referência à dignidade humana, que é o fundamento e o objetivo da responsabilidade de proteger, leva-nos ao tema sobre o qual somos convidados a concentrar-nos este ano, no qual se celebra o sexagésimo da Declaração Universal dos Direitos do Homem. O documento foi o resultado de uma convergência de tradições religiosas e culturais, todas motivadas pelo comum desejo de colocar a pessoa humana no centro das instituições, leis e intervenções da sociedade, e de considerar a pessoa humana essencial para o mundo da cultura, da religião e da ciência. Os direitos humanos estão cada vez mais presentes como linguagem comum e substrato ético das relações internacionais. Ao mesmo tempo, a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos servem todas de garantias para a salvaguarda da dignidade humana. Contudo, é evidente que os direitos reconhecidos e traçados na Declaração se aplicam a todos em virtude da comum origem da pessoa, a qual permanece o ponto de referência mais alto do desígnio criador de Deus para o mundo e para a história. Tais direitos estão baseados na lei natural inscrita no coração do homem e presente nas diversas culturas e civilizações. Remover os direitos humanos deste contexto significaria limitar o seu âmbito e ceder a uma concepção relativista, segundo a qual o significado e a interpretação dos direitos poderia variar e a sua universalidade seria negada em nome de contextos culturais, políticos, sociais e até religiosos diferentes. Contudo não se deve permitir que esta ampla variedade de pontos de vista obscureça o fato de que não só os direitos são universais, mas também o é a pessoa humana, sujeito destes direitos. 
  
A vida da comunidade, a nível quer interno quer internacional, mostra claramente como o respeito dos direitos e as garantias que deles derivam sejam medidas do bem comum que servem para avaliar a relação entre justiça e injustiça, desenvolvimento e pobreza, segurança e conflito. A promoção dos direitos humanos permanece a estrategia mais eficaz para eliminar as desigualdades entre Países e grupos sociais, assim como para um aumento da segurança. Certamente, as vítimas das privações e do desespero, cuja dignidade humana é violada impunemente, são presa fácil da chamada à violência e podem tornar-se em primeira pessoa violadoras da paz. Contudo o bem comum que os direitos humanos ajudam a alcançar não se pode realizar simplesmente com a aplicação de procedimentos corretos nem sequer mediante um simples equilíbrio entre direitos contrastantes. O mérito da Declaração Universal consiste em ter permitido que diferentes culturas, expressões jurídicas e modelos institucionais convirjam em volta de um núcleo fundamental de valores e, portanto, de direitos. Contudo hoje é necessário duplicar os esforços face às pressões para reinterpretar os fundamentos da Declaração e de comprometer a sua unidade íntima, de modo a facilitar um afastamento da proteção da dignidade humana para satisfazer simples interesses, muitas vezes interesses particulares. A Declaração foi adotada como "comum concepção a ser perseguida" (preâmbulo) e não pode ser aplicada por partes destacadas, segundo tendências ou opções seletivas que simplesmente correm o risco de contradizer a unidade da pessoa humana e portanto a indivisibilidade dos direitos humanos. 
  
A experiência ensina-nos que com frequência a legalidade prevalece sobre a justiça quando a insistência sobre os direitos humanos os faz sobressair como o resultado exclusivo de resoluções legislativas ou de decisões normativas tomadas pelas várias agências dos que estão no poder. Quando são apresentados simplesmente em termos de legalidade, os direitos correm o risco de se tornarem débeis proposições separadas da dimensão ética e racional, que é o seu fundamento e finalidade. Ao contrário, a Declaração Universal fortaleceu a convicção de que o respeito dos direitos humanos está radicado principalmente na justiça que não muda, sobre a qual se baseia também a força vinculante das proclamações internacionais. Este aspecto muitas vezes é desatendido quando se procura privar os direitos da sua verdadeira função em nome de uma mesquinha perspectiva utilitarista. Dado que os direitos e os consequentes deveres surgem naturalmente da interação humana, é fácil esquecer que eles são o fruto de um sentido comum da justiça, baseado primariamente na solidariedade entre os membros da sociedade e por isso válidos para todos os tempos e para todos os povos. Esta intuição foi expressa desde o quinto século por Agostinho de Hipona, um dos mestres da nossa herança intelectual, o qual disse em relação ao Não faças aos outros o que não queres que seja feito a ti que esta máxima "não pode de modo algum variar segundo as diversas compreensões presentes no mundo" (De doctrina christiana, III, 14). Por isso, os direitos humanos devem ser respeitados como expressão de justiça e não simplesmente porque podem ser feitos respeitar mediante a vontade dos legisladores. 
  
Senhoras e Senhores, enquanto a história procede, surgem novas situações e tenta-se relacioná-las com novos direitos. O discernimento, isto é, a capacidade de distinguir o bem do mal, torna-se ainda mais fundamental no contexto de exigências que se referem às próprias vidas e aos comportamentos das pessoas, das comunidades e dos povos. Enfrentando o tema dos direitos, dado que estão envolvidas situações importantes e realidades profundas, o discernimento é ao mesmo tempo uma virtude indispensável e frutuosa. 
  
Portanto, o discernimento mostra como o confiar de modo exclusivo aos Estados individualmente, com as suas leis e instituições, a responsabilidade última de ir ao encontro das aspirações de pessoas, comunidades e povos inteiros por vezes pode ter consequências que excluem a possibilidade de uma ordem social respeitadora da dignidade e dos direitos da pessoa. Por outro lado, uma visão da vida firmemente ancorada na dimensão religiosa pode ajudar a obter tais finalidades, dado que o reconhecimento do valor transcendente de cada homem e mulher favorece a conversão do coração, que leva depois a um compromisso de resistir à violência, ao terrorismo e à guerra e de promover a justiça e a paz. Isto fornece ainda o contexto próprio para o diálogo inter-religioso que as Nações Unidas estão chamadas a defender, do mesmo modo com que defendem o diálogo noutros campos da atividade humana. O diálogo deveria ser reconhecido como meio mediante o qual as várias componentes da sociedade podem articular o próprio ponto de vista e construir o consenso em volta da verdade relativa aos valores e objetivos particulares. É característico da natureza das religiões,livremente praticadas, o fato que possam autonomamente conduzir um diálogo de pensamento e de vida. Se também a este nível a esfera religiosa é mantida separada da ação política, obtêm-se grandes benefícios para os indivíduos e para as comunidades. Por outro lado, as Nações Unidas podem contar com os resultados do diálogo entre religiões e tirar frutos da disponibilidade dos crentes de colocarem as próprias experiências ao serviço do bem comum. Compete-lhes propor uma visão da fé não em termos de intolerância, de discriminação e de conflito, mas em termos de respeito total da verdade, da coexistência, dos direitos e da reconciliação. 
  
Obviamente os direitos humanos devem incluir o direito de liberdade religiosa, compreendido como expressão de uma dimensão que é ao mesmo tempo individual e comunitária, uma visão que manifesta a unidade da pessoa, mesmo distinguindo claramente entre a dimensão de cidadão e a de crente. A atividade das Nações Unidas nos anos recentes garantiu que o debate público ofereça espaço a pontos de vista inspirados numa visão religiosa em todas as suas dimensões, incluída a ritual, de culto, de educação, de difusão de informações, assim como a liberdade de professar ou de escolher uma religião. Por isso é inconcebível que crentes devam suprimir uma parte de si mesmos a sua fé para serem cidadãos ativos; nunca deveria ser necessário renegar Deus para poder gozar dos próprios direitos. Os direitos relacionados com a religião necessitam como nunca de serem protegidos se forem considerados em conflito com a ideologia secular prevalecente ou com posições de uma maioria religiosa de natureza exclusiva. Não se pode limitar a plena garantia da liberdade religiosa à prática livre de culto; ao contrário, deve ser tida em justa consideração a dimensão pública da religião e portanto a possibilidade dos crentes desempenharem a sua parte na construção da ordem social. Na verdade, já o fazem, por exemplo, através do seu envolvimento influente e generoso numa vasta rede de iniciativas, que vão das universidades, às instituições científicas, às escolas, às agências de assistência médica e a organizações caritativas ao serviço dos mais pobres e dos mais marginalizados. A recusa de reconhecer a contribuição à sociedade que está radicada na dimensão religiosa e na busca do Absoluto por sua própria natureza, expressão da comunhão entre pessoas privilegiaria indubitavelmente uma abordagem individualista e fragmentaria a unidade da pessoa. 
  
A minha presença nesta Assembleia é um sinal de estima pelas Nações Unidas e é entendida como expressão da esperança de que a Organização possa servir cada vez mais como sinal de unidade entre Estados e como instrumento de serviço para toda a família humana. Ela mostra também a vontade da Igreja Católica de oferecer a contribuição que lhe é própria para a construção de relações internacionais de uma forma que permita que cada pessoa e a cada povo sinta que pode diferenciar-se. A Igreja trabalha também para a realização de tais objetivos através da atividade internacional da Santa Sé, de modo coerente com a própria contribuição na esfera ética e moral e com a livre atividade dos próprios fiéis. Indubitavelmente a Santa Sé teve sempre um lugar nas assembleias das Nações, manifestando assim o próprio carácter específico como sujeito no âmbito internacional. Como confirmaram recentemente as Nações Unidas, a Santa Sé oferece assim a sua contribuição segundo as disposições da lei internacional, ajuda a defini-la e a ela faz referência. 
  
As Nações Unidas permanecem um lugar privilegiado no qual a Igreja está comprometida a levar a própria experiência "em humanidade", desenvolvida ao longo dos séculos entre povos de todas as raças e culturas, e a pô-la à disposição de todos os membros da comunidade internacional. Esta experiência e atividade, destinadas a obter a liberdade para cada crente, procuram além disso aumentar a proteção oferecida aos direitos da pessoa. Tais direitos estão baseados e modelados sobre a natureza transcendente da pessoa, que permite a homens e mulheres percorrerem o seu caminho de fé e a sua busca de Deus neste mundo. O reconhecimento desta dimensão deve ser fortalecido se quisermos apoiar a esperança da humanidade num mundo melhor, e se quisermos criar as condições para a paz, o desenvolvimento, a cooperação e a garantia dos direitos das gerações futuras. 
  
Na minha recente Encíclica Spe salvi, ressaltei "que é tarefa de todas as gerações a sempre nova fadigosa busca de ordenamentos retos para as coisas humanas" (n. 25). Para os cristãos esta tarefa é motivada pela esperança que brota da obra salvífica de Jesus Cristo. Eis por que a Igreja se sente feliz por estar associada à atividade desta ilustre Organização, à qual está confiada a responsabilidade de promover a paz e a boa vontade em todo o mundo. Queridos amigos, agradeço-vos pela oportunidade que me destes hoje de me dirigir a vós e prometo o apoio das minhas orações pelo prosseguimento da vossa nobre tarefa. 
  
Muito obrigado!

Ladainha de São Pedro


Senhor, tende piedade de nós!
Jesus Cristo, tende piedade de nós!
Senhor, tende piedade de nós!

Simão pescador, rogai por nós!
Filho de João, rogai por nós!
Irmão de André, rogai por nós!
Pescador de Genesaré, intercedei por nós,
intercedei por nós, intercedei por nós!

Discípulo do Batista, rogai por nós!
Seguidor de Jesus, rogai por nós!
Cefas, Simão Pedro, rogai por nós!
Pescador de homens, intercedei por nós,
intercedei por nós, intercedei por nós!

Hospedeiro de Cristo, rogai por nós!
Patrono das viúvas, rogai por nós!
Amigo das famílias, rogai por nós!
Testemunha de Jesus, intercedei por nós,
intercedei por nós, intercedei por nós!

Pedro no Tabor, rogai por nós!
Coluna da Igreja, rogai por nós!
Pedro perseguido, rogai por nós!
Pedro Prisioneiro, intercedei por nós!
intercedei por nós, intercedei por nós!

Mártir da Igreja, rogai por nós!
Animador da fé, rogai por nós!
Líder dos Apóstolos, rogai por nós1
Primeiro Papa, intercedei por nós,
intercedei por nós, intercedei por nós!

Mediador do Céu, rogai por nós!
Fiel companheiro, rogai por nós!
Força na esperança, rogai por nós!
Pedro, Pedra Viva, rogai por nós!
Alicerce da Igreja, intercedei por nós,
Intercedei por nós, intercedei por nós!

Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
perdoai-nos, Senhor!
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
ouvi-nos, Senhor!
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
dai-nos a paz!

 



Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo (Lib. 4,14,2-3;15,1:SCh 100,542.548) (Séc.II)




Através de figuras, Israel aprendia a temer a Deus e a perseverar em seu serviço

      "Desde o princípio Deus criou o homem para lhe comunicar seus dons; escolheu os patriarcas, para lhes dar a salvação; ia formando um povo,para ensinar os ignorantes a seguir a Deus; preparava os profetas, para acostumar os homens a serem morada do Espírito e a viverem em comunhão com Deus. Ele, que não precisava de nada, oferecia a comunhão aos que dele precisavam. Para os que lhe eram agradáveis, desenhava, qual um arquiteto, o edifício da salvação; aos que nada viam no Egito, ele mesmo servia de guia; aos que andavam errantes no deserto, dava uma lei perfeita; aos que entravam na terra prometida, concedia uma herança; enfim, para os que voltavam à casa do Pai, matava o vitelo gordo e dava a melhor roupa. Assim, de muitas maneiras, Deus ia preparando o gênero humano em vista da salvação futura.
         Eis por que João diz no Apocalipse: Sua voz era como o fragor de muitas águas (Ap 1,15). Na verdade, são muitas as águas do Espírito de Deus, porque é muita a riqueza e grandeza do Pai. E, passando através de todas elas, o Verbo concedia generosamente o seu auxílio a quantos lhe estavam submetidos, prescrevendo uma lei adaptada e adequada a cada criatura. 
        Deste modo, dava ao povo as leis relativas à construção do tabernáculo, à edificação do templo, à escolha dos levitas, aos sacrifícios e oblações, às purificações e a todo o restante do serviço do altar.
       Deus não precisava de nada disso, pois é desde sempre rico de todos os bens, e contém em si mesmo a suavidade de todos os aromas e de todos os perfumes, mesmo antes de Moisés existir. Mas educava um povo sempre inclinado a voltar aos ídolos, dispondo-o, através de muitas etapas, a perseverar no serviço de Deus. Por meio das coisas secundárias chamava-o às principais, isto é, pelas figuras à realidade, pelas temporais, às eternas, pelas carnais, às espirituais, pelas terenas, às celestes, tal como foi dito a Moisés: Farás tudo segundo o modelo das coisas que viste na montanha (Ex 25,40).
        Durante quarenta dias, com efeito, Moisés aprendeu a guardar as palavras de Deus, os sinais celestes, as imagens espirituais e as figuras das coisas futuras. Paulo também disse: Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava – e esse rochedo era Cristo (1Cor 10,4). E acrescenta ainda, depois de ter falado dos acontecimentos referidos na Lei: Estas coisas lhes aconteciam em figura e foram escritas para nos admoestar e instruir, a nós que já chegamos ao fim dos tempos (1Cor 10,11).
       Por meio dessas figuras, portanto, eles aprendiam a temer a Deus e a perseverar em seu serviço. E assim a Lei era para eles, ao mesmo tempo, norma de vida e profecia das realidades futuras".

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para a Quaresma de 2013




Crer na caridade suscita caridade  
«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (
1 Jo 4, 16)  
 
Queridos irmãos e irmãs!
            A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da Fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.
 
1. A fé como resposta ao amor de Deus
 
            Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est, 1). A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.
             «A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).
 
2. A caridade como vida na fé
 
             Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).
           Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
            A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).
 
3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
 
           À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialéctica». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo moralista.
           A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência Geral de 15 de abril de 2012). De fato, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc.Caritatis in veritate, 8).
            Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.
            A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
 
4. Prioridade da fé, primazia da caridade
 
             Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).
            Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).
            A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).
           Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!
 
Vaticano, 15 de Outubro de 2012
 
 
BENEDICTUS PP. XVI