sexta-feira, 22 de março de 2013

Do Tratado sobre a fé de Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo (Séc. VI) (Cap.22.62: CCL 91A, 726.750-751)


 


Cristo ofereceu-se por nós

         "Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-se por nós.
        De fato, segundo as palavras do Apóstolo, ele se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É ele o verdadeiro Deus e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o seu próprio sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.
        É Cristo, com efeito, que, por si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na sua condição divina, ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.
         Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que se fez carne, se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.
        Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o corpo de Cristo, que ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e seu sangue, que ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que ele ofereceu por nós, e do sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.
        Naqueles sacrifícios anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho (Rm 5,10)".

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo (Sl 85,1: CCL39,1176-1177) (Séc.V)




Jesus Cristo ora por nós, ora em nós,
e recebe a nossa oração

            "Deus não poderia conceder dom maior aos homens do que dar-lhes como Cabeça a sua Palavra, pela qual criou todas as coisas, e a ela uni-los como membros, para que o Filho de Deus fosse também filho do homem, um só Deus com o Pai, um só homem com os homens. Por conseguinte, quando dirigimos a Deus nossas súplicas, não separemos dele o Filho; e, quando o Corpo do Filho orar, não separe de si sua Cabeça. Deste modo, o único salvador de seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração.
             Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração como nosso Deus.
          Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua voz. E quando se disser sobre o Senhor Jesus, sobretudo nos profetas, algo referente àquela humilhação aparentemente indigna de Deus, não hesitemos em lhe atribuir, já que ele não hesitou em fazer-se um de nós. É a ele que toda a criação serve, porque todo o universo é obra de suas mãos.
           Por isso, contemplamos sua divindade e majestade, quando ouvimos: No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez (Jo 1,1-3). Mas se nesta passagem
contemplamos a divindade do Filho de Deus que supera as mais excelsas criaturas, ouvimos também em outras passagens da Escritura o mesmo Filho de Deus que geme, ora e louva.
         Hesitamos então em atribuir-lhe tais palavras, porque nosso pensamento reluta em passar da contemplação de sua divindade à sua humilhação, como se fosse uma injúria reconhecer como homem aquele a quem orávamos como a Deus; por isso, o nosso pensamento fica muitas vezes perplexo, e esforça-se por alterar o sentido das palavras. Porém, não encontramos na Escritura recurso algum para aplicar tais palavras senão ao Filho de Deus, sem jamais separá-las dele.
         Despertemos, pois, e estejamos vigilantes na fé. Consideremos aquele que assumiu a condição de servo, a quem há pouco contemplávamos na condição de Deus; tornando-se semelhante aos homens e sendo visto como homem, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte (cf. Fl 2,7-8). E quis tornar suas as palavras do salmo, ao dizer, pregado na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21,1).
          Ele ora na sua condição de servo, e recebe a nossa oração na sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa oração, pois, se dirige a ele, por ele e nele; oramos juntamente com ele e ele ora juntamente conosco".

terça-feira, 19 de março de 2013

Homilia do Papa Francisco na Santa Missa de Imposição do Pálio e entrega do anel do pescador para o início do ministério petrino do Bispo de Roma


"Guardemos Cristo na nossa vida, Ele é o centro de nossa vocação"




Queridos irmãos e irmãs!
         Agradeço ao Senhor por poder celebrar esta Santa Missa de início do ministério petrino na solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência densa de significado e é também o onomástico do meu venerado Predecessor: acompanhamo-lo com a oração, cheia de estima e gratidão.
       Saúdo, com afeto, os Irmãos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas e todos os fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo a minha cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo, às Delegações oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático.
          Ouvimos ler, no Evangelho, que "José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa" (Mt 1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José: ser custos, guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja, como sublinhou o Beato João Paulo II: «São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo» (Exort. ap. Redentores Custos, 1).
          Como realiza José esta guarda? Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. Desde o casamento com Maria até o episódio de Jesus, aos doze anos, no templo de Jerusalém, acompanha com solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difíceis da vida, na ida a Belém para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento dramático da fuga para o Egito e na busca preocupada do filho no templo; e depois na vida quotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria onde ensinou o ofício a Jesus.
            Como vive José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu. E isto mesmo é o que Deus pede a Davi, como ouvimos na primeira Leitura: Deus não deseja uma casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu desígnio; e é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu Espírito. E José é "guardião", porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!
             Entretanto, a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Gênesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!
           E quando o homem falha nesta responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o coração fica ressequido. Infelizmente, em cada época da história, existem "Herodes" que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.
           Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos "guardiões" da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para "guardar", devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.
            A propósito, deixai-me acrescentar mais uma observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!
           Hoje, juntamente com a festa de São José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que servem com amor capaz de proteger.
          Na segunda Leitura, São Paulo fala de Abraão, que acreditou "com uma esperança, para além do que se podia esperar" (Rm 4, 18). Com uma esperança, para além do que se podia esperar! Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento, existe a necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança! E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus.
     Guardar Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!
         Peço a intercessão da Virgem Maria, de São José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim! Amém.

sábado, 16 de março de 2013

Da Constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II (N.37-38) (Séc.XX)



Toda a atividade humana deve ser purificada
no mistério pascal

              "A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso, grande bem para o homem, traz também consigo uma enorme tentação. De fato, quando a hierarquia de valores é alterada e o bem e o mal se misturam, os indivíduos e os grupos consideram somente seus próprios interesses e não o dos outros. Por esse motivo, o mundo deixa de ser o lugar da verdadeira fraternidade, enquanto o aumento do poder da humanidade ameaça destruir o próprio gênero humano.
               Se alguém pergunta como pode ser vencida essa miserável situação, os cristãos afirmam que todas as atividades humanas, quotidianamente postas em perigo pelo orgulho do homem e o amor desordenado de si mesmo, precisam ser purificadas e levadas à perfeição por meio da cruz e ressurreição de Cristo.
               Redimido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar as coisas criadas pelo próprio Deus. Com efeito, recebe-as de Deus; olha-as e respeita-as como dons vindos das mãos de Deus.
           Agradecendo por elas ao divino Benfeitor e usando e fruindo das criaturas em espírito de pobreza e liberdade, é introduzido na verdadeira pose do mundo, como se nada tivesse e possuísse: Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus (1Cor 3,22-23).
             O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram feitas, que se encarnou e veio habitar na terra dos homens, entrou como homem perfeito na história do mundo, assumindo-a e recapitulando-a em si. Ele nos revela que Deus é amor (1Jo 4,8) e ao mesmo tempo nos ensina que a lei fundamental da perfeição humana, e, portanto, da transformação do mundo, é o novo mandamento do amor.
           Aos que acreditam no amor de Deus, ele dá a certeza de que o caminho do amor está aberto a todos os homens e não é inútil o esforço para instaurar uma fraternidade universal. Adverte-nos também que esta caridade não deve ser praticada somente nas grandes ocasiões, mas, antes de tudo, nas circunstâncias ordinárias da vida.
           Sofrendo a morte por todos nós pecadores, ele nos ensina com o seu exemplo que devemos também carregar a cruz que a carne e o mundo impõem sobre os ombros dos que procuram a paz e a justiça.
           Constituído Senhor por sua ressurreição, Cristo, a quem foi dado todo poder no céu e na terra, age nos corações dos homens pelo poder de seu Espírito. Não somente suscita o desejo do mundo futuro, mas anima, purifica e fortalece por esse desejo os propósitos generosos com que a família humana procura melhorar suas condições de vida e submeter para este fim a terra inteira. São diversos, porém, os dons do Espírito. Enquanto chama alguns para testemunharem abertamente o desejo da morada celeste e conservarem vivo esse testemunho na família humana, chama outros para se dedicarem ao serviço terrestre dos homens e prepararem com esse ministério a matéria do reino dos céus.
           A todos, porém, liberta para que, renunciando ao egoísmo e empregando todas as energias terrenas em prol da vida humana, se lancem decididamente para as realidades futuras, quando a própria humanidade se tornará uma oferenda agradável a Deus".

Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo (Ep.5,1-2:PG26,1379-1380) (Séc.IV)



O mistério pascal reúne na unidade da fé
os que se encontram fisicamente afastados

          "É muito belo, meus irmãos, passar de uma para outra festa, de uma oração para outra, de uma solenidade para outra solenidade. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o anúncio da santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado.
          Do seu alimento nos sustentamos como de um manjar de vida, e a nossa alma se delicia como Sangue precioso de Cristo como numa fonte. E, contudo, temos sempre sede desse Sangue, sempre o desejamos ardentemente. Mas o nosso Salvador está perto daqueles que têm sede, e na sua bondade convida todos os corações sedentos para o grande dia da festa, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba (Jo 7,37).
          Sempre que nos aproximamos dele para beber, ele nos mata a sede; e sempre que pedimos, podemos nos aproximar dele. A graça própria desta celebração festiva não se limita apenas a um determinado momento; nem seus raios fulgurantes conhecem ocaso, mas estão sempre prontos para iluminar as almas de todos que o desejam. Exerce contínua influência sobre aqueles que já foram iluminados e se debruçam dia e noite sobre a Sagrada Escritura. Estes são como aquele homem que o salmo proclama feliz, quando afirma: Feliz aquele homem que não anda conforme o conselho dos perversos; que não entra no caminho dos malvados, nem junto aos zombadores vai sentar-se; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar (Sl 1,1-2).
         Por outro lado, amados irmãos, o Deus que desde o princípio instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona esta santa solenidade que não tem igual no decurso do ano. Esta festa nos sustenta no meio das aflições que encontramos neste mundo. Por ela Deus nos concede a alegria da salvação e nos faz amigos uns dos outros. E nos conduz a uma única assembléia, unindo espiritualmente a todos em todo lugar, concedendo-nos orar em comum e render comuns ações de graças, como se deve fazer em toda festividade. É este um milagre de sua bondade: congrega nesta festa os que estão longe e reúne na unidade da fé os que, porventura, se encontram fisicamente afastados".

sexta-feira, 15 de março de 2013

Coroa Angélica de São Miguel Arcanjo


Esta devoção foi ensinada e pedida pelo próprio Arcanjo à serva Antônia de Astónaco, em Portugal A devoção passou para outros países, foi aprovada por muitos bispos e até pelo Santo Papa Pio IX, que a enriqueceu de indulgências, em 08 de Agosto de 1851. 

Método para rezar:

DEUS vinde em nosso auxílio. 
SENHOR socorrei-nos e salvai-nos. 
Glória ao Pai, ao Filhos e ao Espírito Santo,
como era no princípio, agora e sempre. 
Amém.

Depois, deixando para o final as quatro contas que se sequem, toma-se a primeira conta grande do Rosário e reza-se a primeira saudação, Glória ao PAI e o PAI Nosso e nas três contas pequenas, três Ave Marias, como segue: 

Primeira Saudação:

Pela intercessão de SÃO MIGUEL e do coro celeste dos SERAFINS, fazei-nos SENHOR dignos do fogo da perfeita Caridade. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ... 

Segunda Saudação: 

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos QUERUBINS, pedimos SENHOR a graça de trilharmos a estrada da perfeição cristã. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ...

Terceira Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos TRONOS, pedimos SENHOR que nos deis o espírito da verdadeira humildade. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ... 

Quarta Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das DOMINAÇÕES, pedimos ao SENHOR nos conceda a graça de dominar nossos sentidos, e de nos corrigir das nossas más paixões. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ... 

Quinta Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das POTESTADES, pedimos ao SENHOR se digne de proteger nossas almas contra as ciladas e as tentações de satanás e dos demônios. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ... 

Sexta Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das VIRTUDES, pedimos ao SENHOR a graça de sermos, vencedores no perigoso combate das tentações. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ... 

Sétima Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos PRINCIPADOS, pedimos ao SENHOR que nos dê o espírito de uma verdadeira e sincera obediência a Ele. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ...

Oitava Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste de todos os ARCANJOS, pedimos ao SENHOR nos conceder o dom da perseverança na Fé e nas boas obras, a fim de que possamos chegar a possuir a glória do Paraíso. 
UM PAI NOSSO ... Três Ave Marias ... 

Nona Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste de todos os ANJOS, pedimos ao SENHOR que estes espíritos bem-aventurados nos guardem sempre, e principalmente na hora da nossa morte e nos conduzam à glória do Paraíso. 
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ... 

No final reza-se nas quatro contas grandes:

Um PAI Nosso ... (em honra de São Miguel Arcanjo) 
Um PAI Nosso ... (em honra de São Gabriel) 
Um PAI Nosso ... (em honra de São Rafael) 
Um PAI Nosso ... (em honra do nosso Anjo da Guarda) 

Termina-se rezando:

 Glorioso São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de DEUS, nosso admirável guia depois de Cristo; vós cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção que adiantemos, cada dia mais, na fidelidade em servir a DEUS. 
Amém.

- Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de CRISTO. 
- Para que sejamos dignos de Suas promessas. 

Oração: 

DEUS, todo poderoso e eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhesses para príncipe de vossa Igreja o gloriosíssimo arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós Vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e Augusta Majestade, pelos merecimentos de JESUS CRISTO, Nosso Senhor. 
Amém.

terça-feira, 12 de março de 2013

Coroa de São José


Para implorar seu auxílio em qualquer necessidade

V. Louvemos de todo o coração o Senhor Deus nosso, honrando e recomendando-nos com muito fervor a São José, escolhido para a dignidade mais alta e excelente, depois da divina maternidade.
R. Por todos os séculos dos séculos.
Louvemos e demos graças à Trindade generosíssima, por ter adornado o glorioso Patriarca São José, mais que nenhum outro santo, com seus celestes dons divinos e carismas.
R. Por todos os séculos dos séculos.
Louvemos e demos graças à Trindade bondosíssima, por ter constituído o glorioso São José sobre sua família, e havê-lo instituído em nosso favor, fiel administrador de todos os seus bens.
R. Por todos os séculos dos séculos.

Louvado, exaltado e glorificado seja o Pai Eterno, por ter escolhido o excelso São José para que junto ao Filho de Deus, fizesse suas vezes na terra, e por lhe ter dado um coração amoroso e paternal para com o divino Filho, e supliquemos-lhe com grande fervor e profundíssima humildade, nos conceda benignamente o que tanto desejamos.
Amém.

Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória

Louvado, exaltado e glorificado seja o Filho Unigênito, por ter recebido o excelso São José por seu Pai adotivo, e infundido em seu coração um cuidado amoroso e diligente para zelar por sua vida, alimentá-lo, vesti-lo e defendê-lo;
E supliquemos-lhe confiantemente nos conceda a graça de que tanto necessitamos.
Amém.

Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória

Louvado, exaltado e glorificado seja o Espírito Divino, que no egrégio São José deu à Virgem Imaculada um esposo castíssimo, muito semelhante à celeste Senhora, e fiel custódio da sua virgindade, enchendo ao mesmo tempo o coração do ilustre Patriarca de muito amor e grande estima do tesouro que lhe tinha confiado;
E roguemos-lhe e até importunemo-lo humildemente e com afeto de filhos, para conseguir a graça de que tanto precisamos, que tanto desejamos, e pela qual tanto suspiramos.
Amém.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória

Oração

Oh! glorioso São José, a quem o Pai Eterno comunicou sua paternidade, o Filho divino honrou com esta mesma qualidade e o Espírito Santo escolheu para ser esposo de sua mesma Esposa;
Eu vos felicito e vos dou mil parabéns, porque fostes levantado a tão alta dignidade e adornado de tantas graças.
Mas lembrai-vos oh! glorioso Santo, que de alguma maneira também sois nosso pai, porque o sois de Jesus, nosso irmão maior.
Não esqueçais ainda que sois verdadeiro esposo de nossa Mãe muita amada e por esse mesmo título também pai dos filhinhos daquele Coração Imaculado.
Ora, cheios de confiança filial, erguemos hoje os olhos e os fitamos nesse vosso rosto bondosíssimo, e a Vós bradamos na presente necessidade, bem assim como os pintinhos constantemente bradam por suas mães, e ainda com muito mais razão, porque não há amor de mãe, por extremosa que seja, que iguale nem se possa comparar ao amor que Vós nos tendes.
Lançai, pois, um olhar amoroso para os que assim vos contemplam, e para os que a Vós clamam do fundo de seus corações.
Compadeçam-se essas entranhas, já de si tão ternas, das necessidades em que nos encontramos.
Oh! Pai amado, que nossas obras digam com o nome que levais, que significa acréscimo; desempenhai dignamente o título de Padroeiro e Protetor universal, que vos dá a Igreja.
Fazei conosco segundo a multidão de vossas misericórdias, e sejam as obras garantia de vossos ofícios: fazei, enfim, como quem sois.
Olhai, Pai misericordiosíssimo, que não mudastes de condição, que o vosso poder estende-se a todas as nossas necessidades; eia, zelai por vossa honra.
E se tudo isto não bastar, vo-lo pedimos pelo grande amor que tivestes a vossa amada Esposa e ao bom Jesus, de cuja divina presença desejamos gozar convosco, por toda a eternidade, na celeste Jerusalém.
Amém.

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Do Livro A Autólico, de São Teófilo de Antioquia, bispo (Lib. 1,2.7:PG6,1026-1027.1035) (século II)



Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

         "Se me disserem: “Mostra-me o teu Deus”, dir-te-ei: “Mostra-me o homem que és e eu te mostrarei o meu Deus”. Mostra, portanto, como vêem os olhos de tua mente e como ouvem os ouvidos de teu coração.
         Os que vêem com os olhos do corpo, percebem o que se passa nesta vida terrena, e observam as diferenças entre a luz e as trevas, o branco e o preto, o feio e o belo, o disforme e o formoso, o que tem proporções e o que é sem medida, o que tem partes a mais e o que é incompleto; o mesmo se pode dizer no que se refere ao sentido do ouvido: sons agudos, graves ou harmoniosos. Assim também acontece com os ouvidos do coração e com os olhos da alma, no que diz respeito à visão de Deus.
           Na verdade, Deus é visível para aqueles que são capazes de vê-lo, porque mantêm abertos os olhos da alma. Todos têm olhos, mas alguns os têm obscurecidos e não vêem a luz do sol. E se os cegos não vêem, não é porque a luz do sol deixou de brilhar; a si mesmos e a seus olhos é que devem atribuir a falta de visão. É o que ocorre contigo: tens os olhos da alma velados pelos teus pecados e tuas más ações.
        O homem deve ter a alma pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaçado, o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus.
          Mas, se quiseres, podes ficar curado. Confia-te ao médico e ele abrirá os olhos de tua alma e de teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria dá vida e saúde a todas as coisas. Foi por seu Verbo e Sabedoria que Deus criou o universo: A Palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas (Sl 32,6). Sua Sabedoria é infinita. Com a sua Sabedoria, Deus fundou a terra; com a sua inteligência consolidou os céus; com sua ciência foram cavados os abismos e as nuvens derramaram o orvalho.
          Se compreenderes tudo isto, ó homem, se a tua vida for santa, pura e justa, poderás ver a Deus. Se deres preferência em teu coração à fé e ao temor de Deus, então compreenderás. Quando te libertares da condição mortal e te revestires da imortalidade, então serás digno de ver a Deus. Sim, Deus ressuscitará o teu corpo, tornando-o imortal como a tua alma; e então, feito imortal, tu verás o que é Imortal, se agora acreditares nele".

quinta-feira, 7 de março de 2013

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo (Sermo 43: PL 52,320.322) (Séc.IV)



O que a oração pede, o jejum o alcança 
e a misericórdia o recebe

         "Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.
        O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.
          Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si. Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia;deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e presteza.
       Peçamos, portanto, destas três virtudes – oração,jejum, misericórdia – uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração sob três formas distintas. Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas pelo jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus como ensina o Profeta: Sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um coração arrependido e humilhado (cf. Sl 50,19).
        Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.
         Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá frutos se for regado pela misericórdia, pois a aridez da misericórdia faz secar o jejum. O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da misericórdia.
      Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros também tu não o possuirás".

quarta-feira, 6 de março de 2013

Ladainha de Santa Coleta de Corbie


“O caminho mais seguro para o céu é a abnegação da vontade própria”.
(Santa Coleta)



Senhor, tende piedade de nós!
Jesus Cristo, tende piedade de nós!
Senhor, tende piedade de nós!

Jesus Cristo, ouvi-nos!
Jesus Cristo, atendei-nos!

Deus Pai celestial, tende piedade de nós!
Deus Filho redentor do mundo, tende piedade de nós!
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós!
Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós!

Santa Maria, rogai por nós!
Santa Coleta, rogai por nós!
Santa Coleta esposa escolhida de Cristo, rogai por nós!
Fiel imagem da Mãe de Deus, rogai por nós Santa Coleta!
Virgem prudente, rogai por nós Santa Coleta!
Pomba da inocência, rogai por nós Santa Coleta!
Raio de luz celeste, rogai por nós Santa Coleta!
Verdadeira imitadora de Cristo, rogai por nós Santa Coleta!
Castelo forte do Senhor, rogai por nós Santa Coleta!
Vaso deleitoso de pureza, rogai por nós Santa Coleta!
Exemplo de paciência, rogai por nós Santa Coleta!
Maravilha de abstinência, rogai por nós Santa Coleta!
Prodígio de santidade, rogai por nós Santa Coleta!
Modelo de pobreza evangélica, rogai por nós Santa Coleta!
Flor de virgindade, rogai por nós Santa Coleta!
Santa Coleta, palmeira admirável, rogai por nós Santa Coleta!
Mestra incomparável, rogai por nós Santa Coleta!
Saúde dos enfermos, rogai por nós Santa Coleta!
Padroeira particular das senhoras, rogai por nós Santa Coleta!
Por cuja intercessão inúmeras crianças, escaparam ao perigo de morrer sem receber o santo Batismo, rogai por nós Santa Coleta!
Refúgio seguro de todos que vos invocam, rogai por nós Santa Coleta!
Imitadora das virtudes do Seráfico Pai, São Francisco, rogai por nós Santa Coleta!
Vidente iluminada das coisas futuras, rogai por nós Santa Coleta!
Oliveira frutífera da casa do Senhor, rogai por nós Santa Coleta!
Adorno mavioso no jardim de Deus, rogai por nós Santa Coleta!
Amante da santa cruz, rogai por nós Santa Coleta!
Ornada de todas as virtudes, rogai por nós Santa Coleta!
Vencedora do demônio, rogai por nós Santa Coleta!
Suscitadora dos mortos, rogai por nós Santa Coleta!
Adoradora ardente do Santíssimo Sacramento, rogai por nós Santa Coleta!
Desde a infância inflamada do amor divino, rogai por nós Santa Coleta!
Que distribuístes todos os vossos bens entre os pobres e escolhestes para vós a pobreza, rogai por nós Santa Coleta!
Que reconduzistes a Ordem de Santa Clara à sua pureza e austeridade primitivas, rogai por nós Santa Coleta!
Êmula dos espíritos celestes na oração contínua, rogai por nós, Santa Coleta!
Observadora exata e zeladora fervorosa da disciplina monástica, rogai por nós Santa Coleta!
Que vencestes com constância maravilhosa as muitas dificuldades na reforma da Ordem, rogai por nós, Santa Coleta!
Que fundastes, com o auxílio de Deus, muitos mosteiros de vossa ordem, rogai por nós Santa Coleta!

Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos Senhor!
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos Senhor!
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós!

Rogai por nós, Santa Coleta!
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.


Oremos

Senhor Jesus cristo, que cumulastes de dons celestes a bem-aventurada virgem Coleta, vossa esposa. Concedei, vos pedimos, que, imitando as suas virtudes na terra, com ela nos céus gozemos as eternas alegrias. Vós que viveis e reinais, com o Pai e o Espírito Santo. Amém!

Oração à Santa Coleta em todas as necessidades

Ó Santa e gloriosa virgem coleta, pelo ardente amor e fervorosa devoção, que para com Jesus Sacramentado abrasava o vosso coração, pelas graças maravilhosas com que o Senhor vos enriqueceu, em virtude do seu Santíssimo Corpo e Sangue, pela amável e dolorosa compaixão que tivestes à sua sagrada Paixão, porquanto como que transformada em Jesus Cristo por verdadeiro amor e participação nos seus sofrimentos, impetrai dele a graça de serem atendidos nossos rogos, o que esperamos por vossa valiosa intercessão. Amém.

Bem - aventurada Filipa Mareri de Borgo Sansepolcro - Rieti




         Filipa Mareri nasceu da nobre família dos Mareri, no fim do século XII, no castelo de sua família, na Província de Rieti, Itália. Jovem ainda, foi inspirada por São Francisco, à vida de perfeição evangélica, entre os anos de 1221 a 1225, quando ele esteve em Rieti. Tomou a resolução de consagrar-se a Deus, com tal determinação, que nem a pressão dos parentes e nem a ameaça do irmão Taraso, nem mesmo as insistências dos pretendentes, conseguiram dissuadi-la desse projeto. 
         Impossibilitada de levar uma vida de oração e de ascese em família, semelhante a Clara de Assis, fugiu da casa paterna, junto com algumas servas, e refugiou-se em uma gruta, nas proximidades de Mareri, atualmente denominada Gruta de Santa Filipa, e ali permaneceu até 1228, quando os dois irmãos Taraso e Gentile, com documento datado de 18 de setembro de 1228, lhe doaram o castelo que lhes pertencia, e que tinha anexo uma igreja dedicada a São Pedro de Nolito, numa localidade atualmente conhecida como Borgo São Pedro, para onde Felipa se transferiu com suas companheiras. 
      Vestiu uma veste rude e ali começou a organizar a vida claustral, segundo o programa de vida traçado por Francisco para as Irmãs de São Damião. Neste Mosteiro professou a Regra de Santa Clara, sob a orientação do Bem-aventurado Frei Rogério de Todi, que havida sido designado pelo próprio São Francisco para o cuidado das Clarissas de São Damião. Logo outras jovens, desejosas de viver a mesma vida, atraídas pela amável maneira de ser e de tratar de Felipa, seguiram o mesmo ideal. Assim ela arrastava a juventude daquela redondeza à vivência evangélica. 
        Sob sua orientação, o Mosteiro tornou-se uma escola de santidade. E Felipa, como fundadora, uma mestra de vida espiritual. Embora tivesse todos os dotes para preencher o cargo de Abadessa, preferiu sempre portar-se como a menor de todas e serva de suas irmãs. A principal ocupação daquela comunidade era o culto e o louvor a Deus, a vida litúrgica e a leitura da Sagrada Escritura. Junto às atividades espirituais, dedicavam-se ao trabalho, ao serviço dos pobres e ao apostolado social, com o atendimento médico, dispensado gratuitamente, também às comunidades vizinhas. Com a Palavra dispensada sabiamente, e com a ação caritativa Felipa contribuiu para fazer reviver algumas páginas do Evangelho num mundo que as havia esquecido. 
        A exemplo de São Francisco, dedicou a mais alta estima à virtude da pobreza. Dizia sempre às irmãs que não se preocupassem com o dia seguinte, pois o Senhor proveria tudo.  Foi-lhe revelado o dia de sua morte, causada por uma doença repentina. Despediu-se de suas irmãs, exortando-as a viver fielmente o que haviam prometido. Faleceu no dia 16 de fevereiro de 1236, após ter recebido os sacramentos das mãos de Frei Rogério de Todi, seu diretor espiritual. Logo começaram as peregrinações ao seu túmulo; registraram-se graças e favores celestes, obtidos por seu intermédio. 
       Felipa é tida na Igreja como Bem-aventurada, mas na região de Rieti há tradição fundamentada de que foi canonizada, e assim é reconhecida pelo povo. O título de Santa aparece pela primeira vez numa Bula de Inocêncio IV redigida em 1247, passados apenas dez anos de seu trânsito. Filipa Mareri seria portanto a primeira Santa da Ordem de Santa Clara, ou das Clarissas. 
      Clara ainda estava viva quando teve a alegria de saber do trânsito de sua filha espiritual Felipa morta em fama de santidade. Passados seculos de sua morte, a devoção por ela mostra-se mais viva do que nunca, não só em sua terra natal, mas também além dos Alpes e até além do oceano, para onde emigraram seus devotos, forçados pela necessidade de trabalho. Em suas necessidades e sofrimentos, a ela recorrem com fé. E ainda hoje, quando retornam à Pátria, visitam seu túmulo para entoar-lhe seus cantos de agradecimento. 
       As Clarissas que tiveram sua fundação marcada pela história de Felipa, durante as perseguições religiosas do século XIX e XX, estabeleceram-se em Rieti em novo convento, e adotaram um sistema de semiclausura, dedicando-se à educação de meninas e ao atendimento de idosos. A canonização de Felipa está em estudo pela Igreja, e aguarda o reconheceimento oficial. 

Dos Tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo (Tract.15,10-12.16-17:CCL 36,154-156) (século V)



Veio uma mulher da Samaria para tirar água

      "Veio uma mulher. Esta mulher é figura da Igreja, ainda não justificada, mas já a caminho da justificação. É disso que iremos tratar.
        A mulher veio sem saber o que ali a esperava; encontrou Jesus, e Jesus dirigiu-lhe a palavra. Vejamos o fato e a razão por que veio uma mulher da Samaria para tirar água (Jo 4,7). Os samaritanos não pertenciam ao povo judeu; não eram do povo escolhido. Faz parte do simbolismo da narração que esta mulher, figura da Igreja, tenha vindo de um povo estrangeiro; porque a Igreja viria dos pagãos, dos que não pertenciam à raça judaica.
         Ouçamos, portanto, a nós mesmos nas palavras desta mulher, reconheçamo-nos nela e nela demos graças a Deus por nós. Ela era uma figura, não a realidade; começou por ser figura, e tornou-se realidade. Pois acreditou naquele que queria torná-la uma figura de nós mesmos. Veio para tirar água. Viera simplesmente para tirar água, como costumam fazer os homens e as mulheres.
        Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”. Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. A mulher samaritana disse então a Jesus: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” De fato os judeus não se dão com os samaritanos (Jo 4,7-9.)
        Estais vendo que são estrangeiros. Os judeus de modo algum se serviam dos cântaros dos samaritanos. Como a mulher trazia consigo um cântaro para tirar água, admirou-se que um judeu lhe pedisse de beber, pois os judeus não costumavam fazer isso. Mas aquele que pedia de beber tinha sede da fé daquela mulher.
        Escuta agora quem pede de beber. Respondeu-lhe Jesus? “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva (Jo 4,10).
        Pede de beber e promete dar de beber. Apresenta-se como necessitado que espera receber, mas possui em abundância para saciar os outros. Se tu conhecesses o dom de Deus, diz ele. O dom de Deus é o Espírito Santo. Jesus fala ainda veladamente à mulher, mas pouco a pouco entra em seu coração, e vai lhe ensinando. Que haverá de mais suave e bondoso que esta exortação? Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’,tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva.
       Que água lhe daria ele, senão aquela da qual está escrito: Em vós está a fonte da vida? (Sl 35,10). Pois como podem ter sede os que vêm saciar-se na abundância de vossa morada? (Sl 35,9).
       O Senhor prometia à mulher um alimento forte, prometia saciá-la com o Espírito Santo. Mas ela ainda não compreendia. E, na sua incompreensão, que respondeu? Disse-lhe então a mulher: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la” (Jo 4,15). A necessidade a obrigava a trabalhar, mas sua fraqueza recusava o trabalho.
       Se ao menos ela tivesse ouvido aquelas palavras: Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso! (Mt 11,28). Jesus dizia-lhe tudo aquilo para que não se cansasse mais; ela, porém, ainda não compreendia".