sexta-feira, 31 de maio de 2013

Das Homilias de São Beda, o Venerável, presbítero (Lib. 1,4: CCL 122,25-26.30) (Séc.VIII)


Maria engrandece o Senhor que age nela

            "Minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador (Lc 1,46). Com estas palavras, Maria reconhece, em primeiro lugar, os dons que lhe foram especialmente concedidos; em seguida, enumera os benefícios universais com que Deus favorece continuamente o gênero humano.
            Engrandece o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e ao serviço de Deus; e, pela observância dos mandamentos, revela pensar sempre no poder da majestade divina. Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas na lembrança de seu Criador, de quem espera a salvação eterna.
            Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a mais plena ressonância ao serem proferidas pela santa Mãe de Deus. Ela, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual aquele cuja concepção corporal em seu seio era a causa de sua alegria.
            Com toda razão pôde ela exultar em Jesus, seu Salvador, com júbilo singular, mais do que todos os outros santos, porque sabia que o autor da salvação eterna havia de nascer de sua carne por um nascimento temporal; e sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor.
            O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! (Lc 1,49). Maria nada atribui a seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom daquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis,pequenos e fracos, em fortes e grandes.
            Logo acrescentou: E santo é o seu nome! Exorta assim os que a ouviam, ou melhor, ensinava a todos os que viessem a conhecer suas palavras, que pela fé em Deus e pela invocação do seu nome também eles poderiam participar da santidade divina e da verdadeira salvação. É o que diz o Profeta: Então, todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo (Jl 3,5). É precisamente este o nome a que Maria se refere ao dizer: Exulta meu espírito em Deus, meu Salvador.
            Por isso, se introduziu na liturgia da santa Igreja o costume belo e salutar, de cantarem todos, diariamente, este hino na salmodia vespertina. Assim, que o espírito dos fiéis, recordando frequentemente o mistério da encarnação do Senhor, se entregue com generosidade ao serviço divino e, lembrando-se constantemente dos exemplos da Mãe de Deus, se confirme na verdadeira santidade. E pareceu muito oportuno que isto se fizesse na hora das Vésperas, para que nossa mente fatigada e distraída ao longo do dia por pensamentos diversos, encontre o recolhimento e a paz de espírito ao aproximar-se o tempo do repouso."

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Dos Capítulos sobre a Perfeição Espiritual, de Diádoco de Foticéia, bispo (Cap.6,26.27.30: PG65,1160.1175-1176) (Séc.V)


A ciência do discernimento dos espíritos
vem da percepção da inteligência

         "A luz da verdadeira ciência está em discernir sem errar o bem e o mal. Feito isto, a via da justiça que leva a mente a Deus, sol da justiça, introduz então a inteligência naquele infinito fulgor do conhecimento, que lhe faz procurar daí em diante, com segurança, a caridade.
     Os que combatem precisam manter sempre o espírito fora das agitações perturbadoras para discernir os pensamentos que surgem: guardar os bons, vindos de Deus, no tesouro da memória; expulsar os maus e demoníacos dos antros da natureza. O mar, quando tranqüilo, deixa os pescadores verem até o fundo, de sorte que quase nenhum peixe lhes escape; mas, agitado pelos ventos, ele esconde na turva tempestade aquilo que se via tão facilmente no tempo sereno. Assim, toda a perícia dos pescadores se vê frustrada.
          Somente, porém, o Espírito Santo tem o poder de purificar a mente. Se o forte não
entrar para espoliar o ladrão, nunca se libertará a presa. É necessário, portanto, alegrar em tudo o Espírito Santo pela paz da alma, mantendo em nós sempre acesa a lâmpada da ciência. Quando ela não cessa de brilhar no íntimo da mente, conhecem-se os ataques cruéis e tenebrosos dos demônios, o que mais ainda os enfraquece sendo eles manifestados por aquela santa e gloriosa luz.
         Por esta razão diz o Apóstolo: Não apagueis o Espírito, isto é, não causeis tristeza ao Espírito Santo por maldades e maus pensamentos, para que não aconteça que ele deixe de proteger-vos com seu esplendor. Não que o eterno e vivificante Espírito Santo possa extinguir-se, mas é a sua tristeza, quer dizer, seu afastamento que deixa a mente escura sem a luz do conhecimento e envolta em trevas.
         O sentido da mente é o paladar perfeito que distingue as realidades. Pois como pelo paladar, sentido corporal, sabemos discernir sem erro o bom do ruim quando estamos com saúde e desejamos as coisas delicadas, assim nossa mente, começando a adquirir a saúde perfeita e a mover-se sem preocupações, poderá sentir abundantemente a consolação divina e conservar, pela ação da caridade, a lembrança do gosto bom para aprovar o que for ainda melhor, conforme ensina o Apóstolo: Isto peço: que vossa caridade cresça sempre mais na ciência e na compreensão, para discernirdes o que é ainda melhor."

Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo (Lib. 10,1,1-2,2;5.7: CCL 27,155.158) (Séc.V)



Seja eu quem for, sou a ti manifesto, Senhor

            "Que eu te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro dela, ajusta-a a ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Esta é a minha esperança e por isso falo. Nesta esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nesta vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria de chorar quanto menos é chorado. Eis que amas a verdade, pois quem a faz, chega-se à luz. Quero fazê-la no meu coração, diante de ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas testemunhas.
            A ti, Senhor, a cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a ti? Eu te esconderia a mim mesmo, e nunca a mim diante de ti. Agora, porém, quando os meus gemidos testemunham que eu me desagrado de mim mesmo, enquanto tu refulges e agradas, és amado e desejado, que eu me envergonhe de mim mesmo, rejeite-me e te escolha! Nem a ti nem a mim seja eu agradável, anão ser por ti.
            Seja eu quem for, sou a ti manifesto e declarei com que proveito o fiz. Não o faço por palavras e vozes corporais, mas com palavras da alma e clamor do pensamento. A tudo o teu ouvido escuta. Quando sou mau, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a mim. Quando sou bom, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a mim. Porque tu, Senhor, abençoas o justo, antes, porém, o justificas quando ímpio. Na verdade minha confissão, ó meu Deus, faz-se diante de ti em silêncio e não em silêncio porque cala-se o ruído, clama o afeto.
            Tu me julgas, Senhor, porque nenhum dos homens conhece o que há no homem a não ser o espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o próprio espírito do homem, que nele está, conhece. Tu, porém, Senhor, conheces tudo dele, pois tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de ti me despreze e me considere pó e cinza, conheço algo de ti que ignoro de mim.
            É certo que agora vemos como em espelho e obscuramente, ainda não face a face. Por isto enquanto eu peregrino longe de ti, estou mais presente a mim do que a ti e, no entanto, sei que és totalmente impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir. Mas aí está a esperança, porque és fiel e não permites sermos tentados acima de nossas forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la.
            Confessarei aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de mim, por tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que minhas trevas se mudem em meio-dia diante de tua face."

Dos Livros “Moralia” sobre Jó, de São Gregório Magno, papa (Lib. 3,15-16: PL75,606-608) (Séc.VI)



Se da mão de Deus recebemos os bens,
por que não suportaremos os males?


         "Paulo, considerando em seu íntimo as riquezas da sabedoria e vendo-se externamente um corpo corruptível, exclama: Temos este tesouro em vasos de barro! No santo Jó, o vaso de barro sofre no exterior as rupturas das úlceras. Por dentro, porém, continua íntegro o tesouro. Por fora é ferido de chagas. Por dentro, a perene nascente do tesouro da sabedoria derrama-se em palavras santas: Se da mão de Deus recebemos os bens, por que não suportaremos os males? Para ele, os bens são os dons de Deus, tanto os temporais quanto os eternos, enquanto que os males são os flagelos do momento. Diz o Senhor pelo Profeta: Eu, o Senhor, e não há outro, faço a luz e crio as trevas, produzo a paz e crio os males.
        Faço a luz e crio as trevas: quando, pelos flagelos, são criadas exteriormente as trevas do sofrimento, no íntimo, pela correção, acende-se a luz do espírito. Produzo a paz e crio os males. Voltamos à paz com Deus quando os bens criados, porém, mal desejados, por serem males para nós, se transformam em flagelos. Pela culpa, estamos em discórdia com Deus. Portanto, é justo que, pelos flagelos, retornemos à paz com ele. Quando os bens criados começam a causar-nos sofrimento, o espírito assim castigado procura humildemente a paz com o Criador.
        É preciso considerar com muita atenção, nas palavras de Jó, contra a opinião de sua mulher, a justeza do seu raciocínio.Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não suportaremos os males? Grande conforto na tribulação é, em meio às contrariedades, lembrarmo-nos dos dons concedidos por nosso Criador. E não nos abatemos, em face da dor, se logo nos ocorrer à mente o dom que a reanima. Sobre isto está escrito: Nos dias bons, não te esqueças dos maus, e nos dias maus lembra-te dos bons.
        Quem recebe os bens da vida, mas durante os bons tempos deixa inteiramente de temer os flagelos, cai na soberba através da alegria. Quem é atormentado pelos flagelos e nestes dias maus não se consola com os dons recebidos, perde, com o mais profundo desespero, o equilíbrio do espírito.
        Assim sendo, é necessário unir os dois, de modo que um sempre se apoie no outro: que a lembrança dos bens modere o sofrimento dos flagelos e que a suspeita e o medo dos flagelos estejam a mordiscar a alegria dos bens.
        O santo homem com suas chagas, para aliviar o espírito oprimido em meio às dores dos flagelos, pensa na doçura dos dons: Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não haveremos de suportar os males?"




sábado, 25 de maio de 2013

Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Gregório de Agrigento, bispo (Lib. 10, 2:PG98,1138-1139) (Séc.VI)



Aproximai-vos de Deus e ficareis luminosos

        "Suave, diz o Eclesiastes, é esta luz e extremamente bom, para nossos olhos penetrantes, é contemplar o sol esplêndido. Pois sem a luz o mundo não teria beleza, a vida não seria vida. Por isto, já de antemão, o grande contemplador de Deus, Moisés, disse: E Deus viu a luz e declarou-a boa. Porém é conveniente para nós pensar naquela grande, verdadeira e eterna luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo, quer dizer, Cristo, salvador e redentor do mundo, que, feito homem, quis assumir ao máximo a condição humana. Dele fala o profeta Davi: Cantai a Deus, salmodiai a seu nome, preparai o caminho para aquele que se dirige para o ocaso; Senhor é seu nome; e exultai em sua presença.
        Suave declarou o Sábio ser a luz e prenunciou ser bom ver com seus olhos o sol da glória, aquele sol que no tempo da divina encarnação disse: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida. E outra vez: Este o juízo: a luz veio ao mundo. Desta maneira, pela luz do sol, gozo de nossos olhos corporais, anunciou o Sol da justiça espiritual, tão suave àqueles que foram encontrados dignos de conhecê-lo. Viam-no com seus próprios olhos, com ele viviam e conversavam, como um homem qualquer, embora não fosse um qualquer. Era, de fato, verdadeiro Deus que deu vista aos cegos, fez os coxos andar, os surdos ouvir, limpou os leprosos, aos mortos devolveu a vida.
        Todavia, mesmo agora é realmente delicioso vê-lo com olhos espirituais e contemplar demoradamente sua simples e divina beleza. Além disso, é delicioso, pela união e comunicação com ele, tornar-se luminoso, ter o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, adquirir o entendimento e vibrar de uma alegria divina que se estenda a todos os dias da presente vida. O sábio Eclesiastes bem o indicou quando disse: Por muitos anos que viva o homem, em todos eles se alegrará. É evidente que o Autor de toda alegria o é para os que veem o Sol de justiça. Dele disse o profeta Davi:Exultem diante da face de Deus, gozem na alegria; e também: Exultai, ó justos, no Senhor; aos retos convém o louvor."

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Gregório de Agrigento, bispo (Lib. 8,6: PG 98,1071-1074) (Séc.VI)





Exulte minha alma no Senhor

        "Vem, come com alegria teu pão e bebe com coração feliz o teu vinho, porque tuas obras já agradaram a Deus.
        A explicação mais simples e óbvia desta frase parece-me ser uma justa exortação que nos dirige o Eclesiastes: abraçando um tipo de vida simples e apegados à instrução de uma fé sincera para com Deus, comamos o pão com alegria e bebamos o vinho de coração feliz; sem resvalar para as palavras maldosas, nem nos comportar com duplicidade. Pelo contrário, pensemos sempre o que é reto,e, quanto nos seja possível, auxiliemos com misericórdia e liberalidade os necessitados e mendigos, isto é, atentos aos desejos e ações com que o próprio Deus se deleita.
        No entanto, o sentido místico nos leva a mais altos pensamentos e ensina-nos a ver aqui o pão celeste e sacramental que desceu do céu e trouxe a vida ao mundo. Ensina-nos também, com o coração feliz, a beber o vinho espiritual, aquele vinho que jorrou do lado da verdadeira vide, no momento da paixão salvífica. Destes fala o Evangelho de nossa salvação: Tendo Jesus tomado o pão, abençoou-o e disse a seus santos discípulos e apóstolos: Tomai e comei: isto é meu corpo que por vós é repartido para a remissão dos pecados; o mesmo fez com o cálice e disse: Bebei todos dele; este é o meu sangue da nova Aliança, que por vós e por muitos é derramado em remissão dos pecados. Aqueles que comem deste pão e bebem o vinho sacramental, na verdade enchem-se de alegria, exultam e podem exclamar: Deste alegria a nossos corações.
        Ainda mais – julgo eu – este pão e este vinho designam, no livro dos Provérbios, a sabedoria de Deus, subsistente por si mesma, Cristo, o nosso salvador, quando diz: Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que preparei para vós; indicando assim a mística participação do Verbo. Aqueles que são dignos desta participação, trazem em todo o tempo vestes ou obras não menos luminosas do que a luz, realizando o que o Senhor diz no Evangelho: Que vossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam vossas obras boas e glorifiquem vosso Pai que está nos céus. Igualmente se percebe que em suas cabeças core sempre o óleo, isto é, o Espírito da verdade que os protege e defende contra todo dano do pecado."

Das Instruções de São Columbano, abade (Instr.1 de Fide,3-5:Opera, Dublin,1957,pp.62-66) (Séc.VII)



A insondável profundidade de Deus

    "Deus está em todo lugar, imenso e próximo em toda parte, conforme o testemunho dado por ele mesmo: Eu sou o Deus próximo e não o Deus de longe. Não busquemos, então, longe de nós a morada de Deus, que temos dentro de nós, se o merecermos. Habita em nós como a alma no corpo, se formos seus membros sadios, mortos ao pecado. Então verdadeiramente mora em nós aquele que disse: E habitarei neles e entre eles andarei. Se, portanto, formos dignos de tê-lo em nós, em verdade seremos vivificados por ele, como membros vivos seus: nele, assim diz o Apóstolo,vivemos, nos movemos e somos.  
       Quem, pergunto eu, investigará o Altíssimo em sua inefável e incompreensível essência? Quem sondará as profundezas de Deus? Quem se gloriará de conhecer o Deus infinito que tudo enche, tudo envolve, penetra em tudo e ultrapassa tudo, tudo contém e esquiva-se a tudo? Aquele que ninguém jamais viu como é. Por isto, não haja a presunção de indagar sobre a impenetrabilidade de Deus, o que foi, como foi, quem foi. São realidades indizíveis, inescrutáveis, ininvestigáveis; simplesmente, mas com todo o ardor, crê que Deus é como será, do modo como foi, porque Deus é imutável.
     Quem, pois, é Deus? Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus. Não perguntes mais sobre Deus; porque os que querem conhecer a imensa profundidade, têm antes de considerar a natureza. Com razão compara-se o conhecimento da Trindade à profundeza do mar, conforme diz o Sábio: E a imensa profundidade, quem a alcançará? Do modo como a profundeza do mar é invisível ao olhar humano, assim a divindade da Trindade é percebida como incompreensível pelo entendimento humano. Por conseguinte, se alguém quiser conhecer aquele em quem deverá crer, não julgue compreender melhor falando do que crendo; ao ser investigada, a sabedoria da divindade foge para mais longe do que estava.
     Procura, portanto, a máxima ciência não por argumentos e discursos, mas por uma vida perfeita; não pela língua, mas pela fé que brota da simplicidade do coração, não adquirida por doutas conjeturas da impiedade. Se, por doutas investigações procurares o inefável, irá para mais longe de ti do que estava; se, pela fé, a sabedoria estará à porta, onde se encontra; e onde mora poderá ser vista ao menos em parte. Mas em verdade até certo ponto também será atingida, quando se crer no invisível, mesmo sem compreendê-lo; deve-se crer em Deus por ser invisível, embora em parte o coração puro o veja."




Oração à Nossa Senhora Auxiliadora





Santíssima Virgem Maria, a quem Deus constituiu Auxiliadora dos Cristãos, nós Vos escolhemos como Senhora e Protetora desta casa. Dignai-vos mostrar aqui Vosso auxílio poderoso: do incêndio,da inundação, do raio, das tempestades, dos ladrões, dos malfeitores, da guerra e de todas as outras calamidades que conheceis. Abençoai, protegei, defendei, guardai como coisa vossa as pessoas que vivem nesta casa. Sobretudo concedei-lhes a graça mais importante: a de viverem sempre na amizade de Deus, evitando o pecado. Dai-lhes a fé que tivestes na Palavra de Deus e o amor que nutristes para com o Vosso Filho Jesus e para com todos aqueles pelos quais Ele morreu na Cruz. 

Maria, Auxílio dos Cristãos, rogai por todos os que moram nesta casa que Vos foi consagrada.  Assim seja.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Santa Rita de Cássia: santa dos impossíveis e advogada das causas perdidas



Exemplo de virtude em todos os estados de vida pelos quais passou. Sua intercessão é tão poderosa, que se tornou advogada de pessoas com problemas insolúveis

Dedicação e amor a Deus talvez sejam as qualidades que mais definam o caráter de Santa Rita de Cássia; essa mulher humaníssima agüentou como poucos a “tragédia da dor e da miséria, moral e social”. 
Rita nasceu na Úmbria, bispado de Espoletoem Roccaporena um pequeno povoado de Cásscia (Província de Perúgia) na Itália no dia 22 de maio de 1381.
Seus pais, Antonio Mancini e Amata Serri, ambos católicos praticantes, já eram de idade provavelmente casaram em 1339 e tiveram sua única filha, Rita, depois de mais de 40 anos de casados. Seu nascimento foi um grande milagre. Foi batizada, e recebeu a primeira Eucaristia na Igreja de Santa Maria dos Pobres, em Cássia.
Conta uma história que, certa vez, seus pais a levaram para o campo e, enquanto trabalhavam na roça em seus afazeres, deixaram a recém-nascida debaixo de uma árvore, na sombra num berço dormindo. Um enxame de abelhas brancas como a neve voou até a menina e girava em torno de seus lábios, como se fossem flores das mais perfumadas.
Um homem que passava por ali, e que tinha pouco antes ferido a mão, ao ver Rita e as abelhas, gritou assustado aos seus pais. As abelhas foram embora e o homem teve a mão curada naquele mesmo instante.

O CASAMENTO FORÇADO E INFELIZ

Foi num lar católico que Rita cresceu. Antonio e Amata a educaram na fé em casa, e a ensinaram a rezar. Desde a infância, ela demonstrou uma grande afeição a Nossa Senhora e a Jesus Crucificado.
Na adolescência os 12 anos, tinha um desejo intenso de consagrar-se a Deus na vida religiosa. Em Cássia havia um mosteiro das monjas agostinianas. Seus pais, porém, já idosos, queriam que ela se cassasse.
Seu temor a Deus e a obediência que mostrava ter aos seus pais a obrigaram renunciar ao seu desejo de se entregar a religião e se fechar em um convento, para aceitar abraçar o matrimônio com um jovem rapaz da religião, tido como violento daqueles que “não levava desaforo pra casa”, chamado Paulo Ferdinando.
Rita foi obediente, casou-se. Ele se embriagava com freqüência, brigava com os amigos e, chegando em casa, espancava Rita. Houve uma ocasião em que Rita esteve à beira da morte de tanto apanhar do marido.
         Foram muitas as vezes em que Rita não foi à igreja porque Paulo Ferdinando a impediu de ir. Ela, contudo, rezava por ele diante do crucifixo, pedindo pela conversão.
Durante o seu matrimônio, Santa Rita de Cássia era uma mulher doce, preocupada com o bem-estar de seu marido. Mesmo consciente de seu caráter violento, sofria, mas rezava em silêncio, oferecia tudo a Deus.
A bondade de Santa Rita de Cássia era tão aparente que seu marido foi contagiado por ela. Passado um tempo, e perseverando Rita na oração pelo seu marido, Paulo Ferdinando caiu aos seus pés, pediu perdão a ela e a Deus, e mudou sua vida e seus costumes. Rita feliz, agradeceu a graça recebida.
Rita e Paulo Ferdinando tiveram dois filhos: Tiago Antonio e Paulo Maria. Ambos foram educados na fé por seus pais e, com Rita, constantemente saíam de casa para visitar os enfermos e os pobres.

SOFRIMENTO DESDE JOVEM

Em 1402 morreram Antonio e Amata, pais de Rita. Seu pai morreu aos 19 de março e sua mãe aos 25 do mesmo mês, com 90 anos.
Logo depois, alguns antigos inimigos de Paulo Ferdinando, por vingança o assassinaram. Os filhos, já crescidos, e influenciados por amigos, planejaram vingar a morte do pai.
Rita, ao saber do desejo dos filhos Rezou, pedindo a Deus que tirasse este desejo do coração de seus filhos, ou, se fosse vontade divina, que os levasse para a glória do Céu para obterem a salvação, mas que não fossem assassinos. Deus ouviu suas preces, ambos adoeceram, e Rita cuidou deles com amor. Depois de pouco tempo, Tiago Antonio e Paulo Maria morreram.
A mãe carregou no coração a grande dor da perda dos pais, do marido e dos filhos sem perder a fé. Perdoou publicamente os assassinos de Paulo Fernando.

A SOLIDÃO NO MUNDO

Sozinha no mundo, Rita transformou-se numa mulher de oração. Além do trabalho doméstico, ela continuava a visitar os enfermos e os pobres.
Participava da missa no mosteiro das agostinianas. Um dia, procurou a superiora e pediu-lhe para ingressar na ordem, mas não foi aceita. Provavelmente, por ser viúva e não ser mais virgem. As irmãs tinham medo também dos inimigos de Paulo Fernando, já que eles continuavam a ameaçar Rita. Por três vezes Rita pediu para ser admitida no mosteiro, e por três vezes ouviu o “não” da superiora. Rita vivia em casa, sozinha.

MOSTEIRO DAS IRMÃS AGOSTINIANAS

Vivendo em casa, Rita vivia como se estivesse no mosteiro.
Num dia, a noite em profunda oração, ouviu um chamado: "Rita! Rita!". Abriu a porta e eram três homens que foram à sua casa. Ao acolhe-los, ela os reconheceu. Eram os seus três santos protetores: São João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino.
Levantou-se e seguiu seus santos protetores. Era noite, e a porta do convento estava fortemente trancada. Eles então a levaram no interior do mosteiro das agostinianas, em Cássia.Ao amanhecer, as religiosas agostinianas ficaram estupefatas ao verem Rita, na capela do convento, rezando, sendo que a porta estava fechada.
As religiosas, a começar pela superiora, ficaram pasma com a presença de Rita, mesmo estando fechadas as portas do mosteiro. Vendo que era Deus que destinava à vida religiosa, a recebera na Ordem. Há quem veja o acontecimento afirmado que, ao ser aceita no mosteiro, Rita atribuiu a graça aos seus santos protetores.
No mosteiro, Rita mostrou-se serviçal e contemplativa. Ao mesmo tempo em que estava disponível às irmãs, servindo-as, também estava em constante oração, passando muitas horas diante de Jesus crucificado. Mesmo no mosteiro, continuou a sair para visitar os enfermos e os pobres. Enfrentou dificuldades e tentações; a tudo superou na força da fé.

OBEDIÊNCIA TAMBÉM NO CONVENTO

Consciente de que obedecendo à superiora, obedeceria a Jesus.
Certo dia, a superiora, para pô-la a prova, pediu-lhe que, todos os dias, regasse um galho seco pela manhã e à tarde. Em sinal de obediência, Rita o fez com todo o carinho e, tempos depois, milagrosamente, o galho seco se transformou em uma bela videira. Esta ainda existe, em Cássia, e continua produzindo uvas.




O ESPINHO DA COROA DE JESUS

A devoção a Jesus crucificado sempre foi uma constante na vida de Rita. No ano de 1443, Tiago della Marca- depois canonizado – pregou um retiro em Cássia sobre a Paixão e a Morte de Jesus.
Voltando para o mosteiro depois de uma das pregações, Rita prostrou-se diante do crucifixo, na capela, e pediu para participar de alguma forma, da Paixão do Senhor. Foi quando um espinho da coroa de Cristo se destacou e feriu profundamente sua fronte, e ela desmaiou. Ao acordar, tinha uma ferida na testa. Com o tempo, essa ferida tornou-se mal-cheirosa. Rita então passou a viver numa cela à parte, distante das demais monjas; uma religiosa levava alimento a ela, diariamente. A ferida causava muitas dores; tudo ela oferecia a Deus. Por 15 anos Rita carregou consigo a marca feita pelo espinho da coroa de Cristo.

CURAS E PEDIDOS

O povo de Cássia, atento ao que acontecia no mosteiro, percebeu que havia algo de diferente em Rita. Muitos Ian até ela e pediam a sua intercessão, e eram atendidos. Em pouco tempo sua fama de santidade se espalhou pela região.

A PEREGRINAÇÃO A ROMA

Em 1450 o papa Nicolau V proclamou o Ano Santo. De toda parte pessoas iam a Roma em busca de indulgências. As monjas agostinianas de Cássia tomaram a decisão de ir a Roma. Rita queria receber as indulgências plenárias - perdão de todos os pecados - mas, devido a ferida fétida e por estar doente, não obteve da superiora permissão para participar da peregrinação. Diante do crucifixo, ela rezou, pediu a Jesus que retirasse temporariamente a ferida de sua fronte, mas mantivesse a dor para que pudesse ir a Roma. E conseguiu tal milagre. Rita foi a Roma, viu o Papa, obteve as indulgências, visitou os túmulos de Pedro e Paulo e outros lugares sagrados (igrejas). A viagem foi difícil, em parte feita a pé. Rita em nenhum momento perdeu a coragem e o ânimo. Ela estava, então, com 60 anos e, durante toda peregrinação, sentiu a dor do espinho (na fronte). Ao retornar a Cássia, a ferida voltou a se abrir, e a cada dia mais pessoas a visitavam para pedir a sua intercessão diante de Deus.

O ENFRAQUECIMENTO DO CORPO

Aos poucos a saúde de Rita foi se debilitando, até o momento em que já não mais se alimentava, vivendo apenas da Eucaristia. Permaneceu doente por quatro anos, até a morte.

O MILAGRE DA ROSA

Já no leito de morte uma parente de Rita a visitou no inverno, quando tudo estava coberto pela neve. Ao se despedir, a parente perguntou se Rita queria algo. Ela disse que sim, e pediu uma rosa do jardim de sua antiga casa, em Roccaporena. A parente julgou que ela estava delirando; desde quando havia rosas no inverno? Para atender o pedido foi em sua antiga casa e chegando em sua vila, a surpresa: Milagrosamente em meio à neve, havia uma rosa magnífica! A parente a colheu e levou para Rita, que agradeceu a Deus por Sua bondade.

A MORTE DE SANTA RITA

Com o corpo debilitado pela falta de alimento, Rita pediu o Viático e recebeu a Unção dos Enfermos. O tempo todo tinha, sobre o peito, um crucifixo. Morreu no dia 22 de maio de 1457, aos 76 anos de idade, e tendo passado 40 anos no mosteiro. A ferida em sua fronte cicatrizou assim que ela morreu e, em lugar do mau cheiro, passou a exalar um suave perfume. Seu rosto tornou-se sorridente, como quem está pleno de contentamento.

CORPO DE SANTA RITA APÓS A MORTE

Uma grande multidão acorreu ao oratório do mosteiro, para velar o seu corpo. No local da ferida, apenas a marca do que fora o sinal provocado pelo espinho. Todos olhavam para ela admirados, e louvavam a Deus. Já era tida como santa pelo povo. Rita não foi sepultada; seu corpo ficou exposto no oratório até 1595, ocasião em que foi transladado para a igreja anexa ao mosteiro, hoje dedicado a ela. O seu corpo permanece intacto.

OS MILAGRES

Muitos fatos extraordinários e milagres de Deus são atribuídos à intercessão de Santa Rita, conhecida como a SANTA DOS IMPOSSÍVEIS.
São muitas as pessoas que visitam a capela onde Rita recebeu o espinho da coroa de Cristo, bem como a igreja de Cássia, onde está o seu corpo. São inúmeros os testemunhos de conversão, milagres e curas.

A DEVOÇÃO MUNDIAL

A devoção a Rita não ficou restrita a Cássia, nem a Itália. Espalhou-se por todo o mundo. Muitas são as igrejas dedicadas a ela.


A CANONIZAÇÃO DE SANTA RITA

Rita foi beatificada duzentos anos depois de sua morte, em 1628. O papa Leão XIII, aos 24 de maio de 1900, a canonizou.


SOCIEDADE DAS OBRAS DE CARIDADE

Um ano após a canonização de Rita, o padre Salvador Font, da Ordem dos Agostinianos, fundou a Sociedade das Obras de Caridade de Santa Rita. São senhoras que recolhem donativos e costuram roupas com as próprias mãos, para depois oferecê-las aos enfermos e pobres. São imitadoras e discípulas de Santa Rita.

AS LIÇÕES DEIXADAS POR RITA

Eis algumas dentre muitas outras lições que podemos tirar da vida de Santa Rita de Cássia:

1. Ela colocou a vontade de Deus acima de tudo;
2. Ela foi perseverante na oração e no perdão;
3. Ela sempre esteve a serviço dos enfermos e dos pobres;
4. Ela foi fiel à Igreja;
5. Ela amou a sua família;
6. Ela transformou o sofrimento em amadurecimento humano e espiritual;
7. Ela praticou o jejum como caminho para a doação ao próximo e como comunhão com Deus;
8. Ela alimentava-se da Eucaristia, de onde tirava coragem e força;
9. Ela acreditou no amor de Deus em todos os momentos da vida e, Ela nunca se cansou de interceder por aqueles que pediam a sua intercessão.


“Rita foi reconhecida ‘santa’ não tanto pela fama dos milagres que a devoção popular atribui à eficácia de sua intercessão junto de Deus todo-poderoso, porém, muito mais pela sua assombrosa ‘normalidade’ da existência quotidiana, por ela vivida como esposa e mãe, depois como viúva e enfim como monja agostiniana” (João Paulo II, no centenário da canonização de Santa Rita de Cássia).

terça-feira, 21 de maio de 2013

O Espírito Santo é a alma da Igreja: dom Antônio Carlos Rossi Kelle


Pentecost Icon


        "A vinda do Espírito Santo". Este é o título do mais recente artigo de dom Antônio Carlos Rossi Keller, bispo da diocese de Frederico Westphalen, no Estado do Rio Grande do Sul, onde ele afirma que o Espírito Santo é uma pessoa divina, tal como o Pai e o Filho e que nós somos templos de Deus precisamente porque o Espírito Santo habita em nós (Cor 3, 16-17).
        De acordo com o prelado, o Espírito Santo é o autor dos livros inspirados, conhece todas as coisas, incluindo os segredos divinos mais ocultos, pois Ele mesmo é Deus, além de perscrutar o íntimo dos corações e sem nada escapar ao seu olhar divino. Ele ainda destaca que pelo Espírito Santo a Virgem Maria concebeu Jesus no seu seio puríssimo; foi Ele que inspirou todas as ações de Jesus, pois é o Espírito do Pai e Jesus não quer nenhuma coisa fora do que quer o Espírito do Seu Pai.
        "Foi o Espírito Santo que levou Jesus ao deserto e que desceu sobre Ele em forma de pomba; foi por meio d´Ele que Jesus se ofereceu a Seu Pai no altar da cruz e ressuscitou dos mortos. É também por Ele que se realiza diariamente nos nossos altares o grande milagre da transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus. Ele é o grande Consolador prometido por Jesus aos seus discípulos: ´Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que habite em vós para sempre´ (Jo 14, 16)", salienta o bispo.
       Para dom Antônio, o Espírito Santo é também a alma da Igreja, pois é Ele quem leva a cabo toda a obra de organização da Igreja, assinalando a cada um o lugar que lhe está marcado desde toda a eternidade: "Foi num só Espírito que todos fomos batizados, para constituirmos um só corpo" (1 Cor 12, 13). Segundo ele, é o Espírito Santo que opera pelo ministério dos Apóstolos toda a espécie de maravilhas nas almas e torna fecundo o apostolado; é Ele quem ora em nós e a favor de nós com gemidos inenarráveis, mesmo quando nós nem pensamos n´Ele.
        "É Ele quem põe em nossos corações os sentimentos de confiança e de afeto filial para com o Pai; é Ele quem nos santifica fazendo de cada um de nós verdadeiros filhos de Deus em Cristo Jesus. É Ele o Santificador das nossas almas. É Ele a alma da Igreja, Corpo Místico de Jesus Cristo; presente em Jesus Cristo e em cada um dos membros do Seu Corpo, constitui o laço substancial que nos une a todos a Cristo e nos une uns aos outros em Cristo."
         O bispo explica também que o Espírito Santo habita em nós como num templo. Ele acredita que o Espírito Santo é com toda a verdade o nosso espírito, porque, conforme o testemunho da Escritura, nos foi dado como o grande Dom de Deus. Dom Antônio lembra que Jesus, dirigindo-se aos seus discípulos, na tarde da Ressurreição, disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20, 22); porém, foi sobretudo no dia de Pentecostes quando lhes foi dado o Espírito Santo em forma de línguas de fogo: "E todos ficaram cheios do Espírito Santo" (At 2, 4). "Aos três mil israelitas que, depois da pregação de S. Pedro, no dia de Pentecostes, se convertem e perguntam o que devem fazer, o Apóstolo responde-lhes: ´Arrependei-vos e batizai-vos no nome de Jesus Cristo e recebereis o dom do Espírito Santo´ (At 2, 38)", cita o prelado.
         Por fim, dom Antônio ressalta que a nossa sublime vocação, à imitação de Maria, é viver em comunhão de amor com Deus Pai, Filho e Espírito Santo, agora na obscuridade da fé e depois no esplendor da visão beatífica. "As divinas pessoas comunicam-se a nós interiormente e estabelecem em nós uma nova maravilhosa presença. A nossa existência cristã torna-se vida espiritual, animada e guiada pelo Espírito Santo até à santidade e perfeição da caridade. Vivemos e caminhamos neste mundo segundo o Espírito de Deus", conclui."

O Espírito Santo e a Igreja: frei Odair Verussa


        "Cinquenta dias após a Páscoa da Ressurreição do Senhor, os cristãos celebram a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes. Mas quando se deu mesmo essa vinda?      Para Lucas, nos Atos dos Apóstolos (2, 1-13), cinquenta dias após a Páscoa, coincidindo com o Pentecostes dos judeus, quando comemoravam a Aliança e o dom da Lei. Lucas visa preservar a unidade das festas Páscoa-Pentecostes para acentuar que em Jesus se dá a plenitude da aliança e da salvação, prometida e iniciada com o povo da primeira aliança, os judeus. Para o evangelista João (20, 19-23), o Espírito vem no mesmo dia de Páscoa, dado pelo Ressuscitado: “Recebam o Espírito Santo”. As duas opiniões não se opõem, mas se completam, cada autor acentuando seus objetivos.
       Promessa e dom do Pai, o Espírito tem tarefa dupla: ungir e capacitar os profetas que percorrerão o caminho e confirmar esse caminho. A Igreja nasce sob sua ação, fundamentada em Jesus Ressuscitado. Em Lucas nem os representantes de Jerusalém nem os Doze têm o controle da Igreja. É o Espírito que lhe assegura a continuidade com Jesus, e é fonte de vitalidade da missão cristã. Assim a Igreja não existe para si mesma, mas para o mundo, para ser testemunha do que Deus fez por Jesus e através dele. Para a fé cristã, o Espírito Santo não é um dom exclusivo feito à Igreja, mas ao mundo. No início da criação, Ele dá vida ao caos. 
       À medida que a Igreja nasce e se consolida em cada região, anunciando o Reino de Deus, toma características da cultura local sob a ação do Espírito que age no mundo através dos homens. Há, porém, que se entender bem sua ação. Ele não faz a história nem a conduz como se fosse uma força dominadora, capaz de imprimir sua vontade a todos os fatores históricos. Não é uma mão invisível que maneja todos os homens e os obriga a fazer sua vontade. Pelo contrário, o Espírito respeita e promove a liberdade de todos, inclusive dos pecadores, deixando plena liberdade a todos os atores da história. 
      Também em relação à Igreja o Espírito age assim. Ele cria a Igreja como povo de Deus para ser luz do mundo que vai orientando a caminhada de todos, especialmente dos pobres. A Igreja obedece ao Espírito de Deus quando promove a libertação de todos procurando construir uma sociedade mais fraterna, mais justa, compassiva e misericordiosa. Mas, como a Igreja está no mundo e na história, ela pode igualmente ser ou já estar marcada pelo jogo do poder, da riqueza, reflexos da força dos dominadores. Então, em vez de emancipar-se deles, vai-lhes ao encontro. 
       De acordo com as características culturais dos povos e regiões, a Igreja tomou historicamente diferentes caminhos no Oriente Cristão (Oriente Médio) e no Ocidente Cristão. No Oriente é mais mística, no Ocidente é mais jurídica. No Oriente é mais atenta ao Espírito, no Ocidente é mais dada à organização. No Oriente é mais voltada para a espiritualidade, no Ocidente mais para a prática. Os acentos da Igreja oriental não estão ausentes no Ocidente Cristão, mas têm aí menor intensidade. Os acentos da Igreja ocidental não estão ausentes no Oriente Cristão, mas têm nela menor peso. 
         A história da Igreja mostra uma luta constante entre o Espírito e a carne, entre uma Igreja mais fiel ao Espírito do Senhor e sua santa operação e uma Igreja mais presa aos condicionamentos circunstanciais de tempo, lugar e cultura. Sensibilidade para o tempo, os lugares, as culturas e pessoas situadas historicamente é uma exigência do Evangelho e da encarnação do Verbo. Aprisionamento aos condicionamentos leva a comunidade de fé a um desvirtuamento da sua identidade e da sua missão. Sensibilidade e escuta ao Espírito são exigências fundantes da Igreja. Espiritualismo, perda de pé da realidade e estruturação legalista podem levar a Igreja a não permanecer fiel.
     A Igreja do Espírito e do Senhor Ressuscitado precisa ser história e carisma, carisma e história, um buscando o outro, para que o mundo tenha esperança e creia".

Papa Francisco: Jesus não exclui ninguém



Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 19 de 12 de Maio de 2013

        Jesus não excluiu ninguém. Construiu pontes, não muros. A sua mensagem de salvação é para todos. Na manhã de 8 de Maio, durante a missa na Domus Sanctae Marthae, o Papa Francisco meditou sobre a atitude do bom evangelizador: aberto a todos, pronto a ouvir todos, sem exclusões. Felizmente, observou, «esta é uma boa fase na vida da Igreja: estes últimos cinquenta, sessenta anos, foram um tempo positivo. Porque recordo-me que quando eu era criança nas famílias católicas, também na minha, se ouvia dizer: «Não, não podemos ir a casa deles, porque não são casados na Igreja». Tratava-se de uma exclusão. Não, não podias ir! Porque são socialistas ou ateus, não podemos ir. Agora, graças a Deus, já não se diz».
      O Pontífice propõe o exemplo do apóstolo Paulo que no aerópago (Atos dos Apóstolos, 17, 15.22 — 18,1) anuncia Jesus Cristo entre os adoradores de ídolos. Na opinião do Papa, é importante o modo como o faz: «Ele não diz: «Idólatras, ireis para o inferno...», mas «procura chegar aos seus corações»; desde o início não condena, procura o diálogo: «Paulo é um pontífice, um construtor de pontes. Ele não quer tornar-se um construtor de muros». Construir pontes para anunciar o Evangelho, «esta é a atitude de Paulo em Atenas: edificar uma ponte no coração deles, para depois dar mais um passo e anunciar Jesus Cristo».
      Paulo ensina qual deve ser o caminho da evangelização a ser percorrido com coragem. E «quando a Igreja perde esta coragem apostólica, torna-se uma Igreja estagnante. Ordenada, bonita; tudo bom, mas sem fecundidade, porque perdeu a coragem de ir até às periferias, onde vivem muitas pessoas vítimas da idolatria, da mundanidade, do pensamento tíbio». E mesmo se o medo de errar reprime, é necessário pensar que é possível levantar-se e ir em frente. «Quantos não caminham para não errar — concluiu o Papa Francisco — cometem um erro mais grave».
       E na missa celebrada na manhã de 7 de Maio, o Papa recordou que a alegria e a força da suportação cristã rejuvenesce o homem e ajuda a aceitar e a viver pacientemente tribulações e dificuldades da vida. Concelebraram os cardeais Angelo Comastri e Jorge Mejia, os prelados Carlos Aguiar Retes, arcebispo de Tlalnepantla no México, e presidente do CELAM, com o auxiliar Efraín Martinez Mendoza; Vittorio Lanzani, delegado da Fábrica de são Pedro; Francisco Javier Chavolla Ramos, bispo de Toluca no México, e Juan José Omella, bispo de Clahorra y La Calzada-Logroño, Espanha.
      As leituras do dia — tiradas dos Atos dos Apóstolos (16, 22-24) e do evangelho de João (16, 5-11) — ofereceram ao Papa a ocasião para repropor o espírito de suportação testemunhado pelos primeiros mártires cristãos. A este propósito, recordou o testemunho de Paulo e Silas que, prisioneiros, permaneceram em oração e cantaram hinos a Deus. Os outros prisioneiros escutavam-nos admirados: «espancados e cheios de chagas “cantam, rezam... pessoas meio estranhas!”. Mas eles — explicou o Pontífice — estavam em paz. Eram felizes por ter sofrido em nome de Jesus. Estavam tranquilos. Cantavam, rezavam e sofriam. Naquele momento, eles estavam naquele estado de ânimo tão cristão: o da paciência. Quando Jesus iniciou a estrada da sua Paixão, depois da ceia, “entra na paciência”». Entrar na paciência: é este «o caminho que Jesus ensina a nós, cristãos. Entrar na paciência». Mas isto «não quer dizer ser triste. Não, não, é outra coisa! Isto quer dizer suportar, carregar nos ombros o peso das dificuldades, o peso das contradições e das tribulações».
     Um «amigo» que todos os dias se torna para cada um de nós «companheiro de caminho», foi o perfil do Espírito Santo traçado pelo Papa Francisco na missa celebrada na manhã de segunda-feira 6 de Maio, na capela da Domus Sanctae Marthae. Para o conhecer, sobretudo para reconhecer a sua ação na nossa vida «é importante — este é o conselho do Pontífice — fazer o exame de consciência» todas as noites antes de adormecer.
     Na missa de 4 de Maio, o Papa Francisco disse que os cristãos são hoje mais perseguidos do que no início da história do cristianismo. A causa originária de cada perseguição é o ódio do príncipe do mundo em relação a quantos foram salvos e remidos por Jesus com a sua morte e ressurreição. As únicas armas para se defender são a palavra de Deus, a humildade e a mansidão. Indicou também um caminho a seguir para aprender a deslindar-se entre as insídias do mundo.

Papa Francisco: Os problemas de são Paulo




Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 19 de Maio de 2013

        Com o seu testemunho de verdade o cristão deve «incomodar» as «nossas estruturas confortáveis», também correndo o risco de terminar «em maus lençóis», porque animado por uma «loucura espiritual sadia» em relação a todas as «periferias existenciais». Seguindo o exemplo de são Paulo, que passava «de uma batalha campal para outra», os crentes não devem refugiar-se «numa vida confortável» ou nos compromissos: hoje, na Igreja existem demasiados «cristãos de salão, educados», «tíbios», para os quais está sempre «tudo bem», mas que dentro não têm o fervor apostólico. Foi o forte apelo à missão — não só em terras longínquas, mas também nas cidades — lançado pelo Papa Francisco, na manhã de quinta-feira 16 de Maio, durante a missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae.
        Bispos e sacerdotes que se deixam vencer pela tentação do dinheiro e pela vaidade do carreirismo, pastores que se transformam em lobos «que devoram a carne das suas ovelhas». Não usou meios-termos o Papa Francisco para estigmatizar o comportamento de quem — disse, citando santo Agostinho na missa de quarta-feira 15 de Maio — «se apodera da carne da ovelha para a comer, aproveita-se; negocia e é apegado ao dinheiro; torna-se avaro e muitas vezes até simoníaco. Ou aproveita da sua lã para a vaidade, para se vangloriar». Para superar estas «verdadeiras tentações», bispos e sacerdotes devem rezar, mas precisam também da oração dos fiéis.
       O egoísmo não leva a nenhum lugar. Ao contrário, o amor liberta. Por esta razão, quem for capaz de viver a própria vida como «um dom que deve ser oferecido ao próximo» nunca ficará sozinho nem experimentará «o drama da consciência isolada», presa fácil de «Satanás, mau pagador» sempre «pronto para enganar» quem escolhe o seu caminho. Foi a reflexão que o Papa Francisco fez na missa de terça-feira 14 de Maio.
        O Pontífice repropôs a figura de Judas, o qual tem uma atitude contrária em relação a quem ama, porque «nunca compreendeu, coitado, o que é um dom». Judas é um daqueles homens que nunca fazem um gesto de altruísmo e que vivem sempre na esfera do próprio eu, sem se deixar «envolver pelas situações boas». Atitude que, ao contrário, é característica de «Madalena, quando lava os pés de Jesus com o nardo, muito caro». É um momento «religioso — afirmou o bispo de Roma — um momento de gratidão, de amor». Ao contrário, Judas vive isolado, na sua solidão, e nela permanece. «Uma amargura do coração» como a definiu o Santo Padre. E assim «como o amor cresce no dom», também a atitude «do egoísmo cresce. E cresceu, em Judas, até à traição de Jesus». Em síntese, afirmou o Papa, quem ama dá a vida como dom; quem é egoísta, atraiçoa, fica sempre sozinho e «isola a sua consciência no egoísmo, ocupando-se da própria vida, mas no final perde-a».
       Vem vontade de dizer «o Espírito Santo, este desconhecido», pensando nos muitos que ainda hoje «não sabem explicar bem quem é o Espírito Santo» e «dizem: “Não sei o que fazer!” com ele, ou dizem: “O Espírito Santo é a pomba, aquele que nos dá sete prendas”. Mas assim o pobre Espírito Santo é sempre último e não encontra um lugar bom na nossa vida».
       O Papa Francisco voltou a falar do Espírito Santo na missa matutina de segunda-feira, 13 de Maio, ressaltando o pouco conhecimento que ainda hoje muitos cristãos têm dele.
O Pontífice, partindo da narração do encontro de Paulo com alguns apóstolos em Éfeso, durante o qual — como é referido nos Atos dos Apóstolos (19, 1-8) — à pergunta se tinham recebido o Espírito Santo, responderam que nunca tinham ouvido falar da sua existência. Para explicar o episódio, o Santo Padre recorreu à narração de um momento da sua experiência pessoal: «Recordo que uma vez, quando eu era pároco na paróquia de São José Patriarca, em São Miguel, durante a missa para as crianças, no dia de Pentecostes, perguntei: “Quem sabe quem é o Espírito Santo?”. E todas as crianças levantaram a mão». Um deles, a sorrir, respondeu: «”o paralítico!”. Disse assim. Tinha ouvido a palavra “paráclito”, e compreendera “paralítico”! É assim: o Espírito Santo é sempre um pouco o desconhecido da nossa fé. Jesus diz acerca dele aos apóstolos: “Enviar-vos-ei o Espírito Santo: ele ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á tudo quanto vos disse”. Pensemos neste último: o Espírito Santo é Deus, mas é Deus ativo em nós, que faz recordar. Deus que faz despertar a memória. O Espírito Santo ajuda-nos a recordar».

sábado, 18 de maio de 2013

Papa reúne 200 mil pessoas para celebrar a unidade



Cerca de 200 mil membros de movimentos religiosos se reuniram para ouvir o Papa Francisco neste domingo para um encontro de Pentecostes organizado pelo ministério para a Nova Evangelização Foto: Alessandra Tarantino / AP
        Duzentos mil membros de vários movimentos religiosos se reuniram neste sábado na praça de São Pedro, na presença do Papa Francisco, para um encontro de Pentecostes organizado pelo ministério para a Nova Evangelização, anunciou o Vaticano.  
        "Assistimos a uma crise do homem que destrói o homem", alertou o Papa, que chegou à praça a bordo de um jipe.
      "Na vida pública, política, se não há ética, tudo é possível (...) Lemos nos jornais quanto mal faz falta à toda a humanidade a falta de ética na vida pública", afirmou.
       O Papa também criticou a primazia dos bancos sobre as famílias: "os investimentos que fazem os bancos cair são uma tragédia; se as famílias estão mal e não têm o que comer, não importa: esta é a nossa crise de hoje".
         "A Igreja pobre para os pobres é contra esta mentalidade", defendeu.
        O evento, organizado por ocasião da festa de Pentecostes, que celebra o Espírito Santo, estava previsto antes da renúncia de Joseph Ratzinger e foi mantido por seu sucessor.Membros dos movimentos dos Focolares, Comunhão e Libertação, Caminho Neocatecumenal, Legionários de Cristo e Emanuel, entre outros, chegaram ao Vaticano vindos de todo o mundo para participar deste grande encontro de Pentecostes, organizado no âmbito do "Ano da Fé" pelo ministério para a Nova Evangelização, criado em 2010 por Bento XVI.
       O bispo Salvatore Fisichella, que dirige o ministério para a Nova Evangelização, definiu estes movimentos religiosos como "um dos frutos mais evidentes" do Concílio Vaticano II (1962-65).
      Estes movimentos, muito dinâmicos, são vistos por alguns como concorrentes das paróquias tradicionais, que estão em crise. Neste domingo, o Papa celebrará a missa de Pentecostes na presença dos participantes deste encontro, na esplanada da Basílica de São Pedro.

O que é Pentecostes?

           

          Era para os judeus uma festa de grande alegria, pois era a festa das colheitas. Ação de graças pela colheita do trigo. Vinha gente de toda a parte: judeus saudosos que voltavam a Jerusalém, trazendo também pagãos amigos e prosélitos. Eram oferecidas as primícias das colheitas no templo. Era também chamada festa das sete semanas por ser celebrada sete semanas depois da festa da páscoa, no quinquagésimo dia. Daí o nome Pentecostes, que significa "quinquagésimo dia".         
         No primeiro pentecostes, depois da morte de Jesus, cinqüenta dias depois da páscoa, o Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo; todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas (At 2,1-4). As primícias da colheita aconteceram naquele dia, pois foram muitos os que se converteram e foram recolhidos para o Reino.

Quem é o Espírito Santo? 

          O prometido por Jesus: "...ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a realização da promessa do Pai a qual, disse Ele, ouvistes da minha boca: João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias" (At 1,4-5).
          
          Espírito que procede do Pai e do Filho: "quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho..." (Jo 15 26-27). O Espírito Santo é Deus com o Pai e com o Filho. Sua presença traz consigo o Filho e o Pai. Por Ele somos filhos no Filho e estamos em comunhão com o Pai.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Do Tratado Sobre a Trindade, de Santo Hilário, bispo (Lib. 2,1.33.35: PL 10,50-51.73-75) (Séc. IV)

Augusto de Piabetá - Blog Católico


O Dom do Pai em Cristo

        "O Senhor mandou batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, quer dizer, professando a fé no Criador, no Filho e no que é chamado Dom de Deus.
        Um só é o Criador de todas as coisas. Pois um só é Deus Pai, de quem tudo procede; um só é o Filho Unigênito, nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo foi feito; e um só é o Espírito, que foi dado a todos nós.
        Todas as coisas são ordenadas segundo suas capacida­des e méritos: um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita. Nada falta a tão grande per­feição. Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a atividade no Dom.
        Escutemos o que diz a palavra do Senhor sobre a ação do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo 16,12), É bom para vós que eu parta: se eu me for, vos mandarei o Defensor(cf. Jo 16,7).
        Em outro lugar: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará uni outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade (Jo 14,16-17). Ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anuncia­rá. Ele me glorificará porque receberá do que é meu (Jo 16,13-14).
        Estas palavras, entre muitas outras, foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que a nossa fraqueza não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo estabelece um certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à encarnação de Deus.
        Assim, o Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender. Como o corpo natural do homem permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessá­rios para as suas funções - os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural por falta de estímulo para agir - assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento.
        Este Dom de Cristo está inteiramente à disposição de todos e encontra-se em toda parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está conosco até o fim do mundo; ele é o consolador no tempo da nossa espera; ele, pela atividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; ele é a luz do nosso espírito; ele é o esplendor das nossas almas."