terça-feira, 27 de novembro de 2012

Novena à Nossa Senhora da Medalha Milagrosa



Ato de Contrição

Meu bom Jesus que por mim
morrestes na cruz, tende piedade de mim, perdoai
os meus pecados e dai-me a graça de nunca
mais pecar.

ORAÇÃO DO DIA

Súplica à Nossa Senhora

Ó Imaculada, Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe ao contemplar-nos de braços derramando graças sobre os que vos pedem cheios de confiança na Vossa poderosa intercessão inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas numerosas culpas, acercamo-nos de vossos pés para vos expor durante esta Novena as nossas prementes necessidades...( um instante de silêncio ). Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa este favor que confiantes vos solicitamos para maior glória de Deus, engrandecimento do Vosso nome e bem de nossas almas e para melhor servirmos ao Vosso Divino Filho, inspirai-nos um profundo ódio ao pecado e dai-nos a coragem de nos afirmar sempre verdadeiros cristãos.
Amém

Rezar 03 Ave-Marias

Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.

Oração Final

Santíssima Virgem, eu creio e confesso vossa santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus alcançai-me de vosso amado Filho a humildade, a caridade, a obediência a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e de espírito a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte. Amém.

1º Dia – 1ª Aparição - Contemplamos a Virgem Imaculada, em sua primeira aparição a Santa Catarina Labouré. A piedosa noviça guiada por seu Anjo da Guarda é apresentada a Imaculada Senhora. Consideremos sua inefável alegria. Seremos também felizes, como Santa Catarina, se trabalharmos com ardor na nossa santificação.

2º Dia - Lágrimas de Maria - Contemplemos Maria, chorando sobre as calamidades que viriam sobre o mundo, pensando que o Coração de seu Filho seria ultrajado, a cruz escarnecida e seus filhos prediletos perseguidos. Confiemos na Virgem compassiva e também participaremos no fruto de suas lágrimas.

3º Dia - Proteção de Maria - Contemplemos nossa Imaculada Mãe, dizendo em suas aparições a Santa Catarina: " Eu mesma estarei convosco, não vos perco de vista e vos concederei abundantes graças. Sede para mim, Virgem Imaculada, o escudo e a defesa em todas as necessidades.

4º Dia – 2ª Aparição - Estando Catarina Labouré em oração a 27 de novembro de 1830, apareceu-lhe a Virgem Maria, formosíssima, esmagando a cabeça da serpente infernal; nesta aparição vemos seu desejo imenso de nos proteger sempre contra o inimigo de nossa salvação. Invoquemos a Imaculada Mãe com confiança e amor!

5º Dia - As Mãos de Maria - Contemplemos, hoje, Maria, desprendendo de suas mãos raios luminosos. "Estes raios, disse ela, são a figura das graças que derramo sobre todos aqueles que me pedem e aos que trazem com fé minha medalha".
Não desperdicemos tantas graças! Peçamos com fervor, humildade e perseverança, e Maria Imaculada no-las alcançará.

6º Dia – 3ª Aparição - Contemplemos Maria, aparecendo à Santa Catarina, radiante de luz, cheia de bondade, rodeada de estrelas, e mandando cunhar uma medalha, prometendo a todos que a trouxerem com devoção e amor, muitas graças. Guardemos fervorosamente a Santa Medalha e como escudo, ela nos protegerá nos perigos.

7º Dia - Súplica - Ó Virgem Milagrosa, Rainha excelsa, Imaculada Senhora, sede meu refúgio nesta terra, meu consolo nas tristezas e aflições, minha fortaleza e advogada na hora da morte.

8º Dia - Súplica - Ó Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa, fazei que esses raios luminosos que irradiam de vossas mãos virginais, iluminem minha inteligência para melhor conhecer o bem, e abrasem meu coração com vivos sentimentos de fé, esperança e caridade.

9º Dia - Súplica - Ó Mãe Imaculada, fazei que a cruz de vossa Medalha brilhe sempre diante de meus olhos, suavize as penas da vida presente e me conduza à vida eterna.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Do Opúsculo sobre a oração, de Orígenes, presbítero (Cap. 25: PG 11, 495-499) (Séc. III)

Venha o teu reino
             "O Reino de Deus, conforme as palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o reino de Deus está dentro de nós (cf. Lc 16,21), pois a palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (cf. Rm 10,8). Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do reino de Deus pede - justamente por ter em si um início deste reino - que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição.
              Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o  Pai e, junto com o Pai reina Cristo na pessoa perfeita, segundo as palavras: Viremos a ele e nele faremos nossa morada  (Jo 14,23).
              Então o reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1 Cor 15,24.28). Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos Céus: Santificado seja teu nome, venha o teu reino (Mt 6,9-10).
             É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniqüidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial. (cf. 2 Cor 6,14-15), assim o reino de Deus não pode substituir junto com o reino do pecado.
             Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortificaremos nossos membros que estão na terra (cf. C1 3,5) e produzamos fruto no Espírito. Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só ele, junto com seu Cristo; e que em nós se assente   à destra de sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de seus pés (S1 98,5), lançados fora todo principado, potestade e virtude.
               Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1 Cor 15,26). E Cristo diga também dentro de nós: Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória? (1 Cor 15,55;cf. Os 13,14)Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1 Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição".

Consagração a Cristo Rei

 
Ó dulcíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lançai sobre nós, humildemente prostrados na Vossa presença, o Vosso olhar. Nós somos e queremos ser Vossos. E a fim de podermos viver mais intimamente unidos a Vós, cada um de nós se consagra, espontaneamente, neste dia, ao Vosso Sacratíssimo Coração.
Muitos há que nunca Vos conheceram; muitos, desprezando Vossos mandamentos, Vos renegaram. Benigníssimo Jesus, tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao Vosso Sagrado Coração.
Senhor, sede Rei não somente dos fiéis que nunca de Vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos que Vos abandonaram: fazei que estes retornem quanto antes à casa paterna, para não perecerem de miséria e de fome.
Sede Rei dos que vivem iludidos no erro ou separados de Vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da fé, a fim de que em breve haja um só rebanho e um só Pastor.
Senhor, conservai incólume a Vossa Igreja e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos os povos; fazei que de um pólo a outro do mundo ressoe uma só voz: louvado seja o Coração divino que nos trouxe a salvação, honra e glória a Ele por todos os séculos. Amém.

domingo, 18 de novembro de 2012

A Catequese do Papa Bento XVI: Mudança de vida a exemplo de Santo Odon de Clunyradical



O Papa dedicou a catequese da audiência geral de quarta-feira 2 de Setembro, à reflexão sobre a figura e o exemplo do abade beneditino de Cluny, Santo Odon.
Queridos irmãos e irmãs
Depois de uma longa pausa, gostaria de retomar a apresentação dos grandes Escritores da Igreja do Oriente e do Ocidente da época medieval porque, como num espelho, nas suas vidas e nos escritos vemos o que quer dizer ser cristão.Hoje proponho-vos a figura luminosa de Santo Odon, abade de Cluny:  ela insere-se naquela idade média monástica que viu o surpreendente difundir-se na Europa da vida e da espiritualidade inspiradas na Regra de São Bento.
Naqueles séculos houve um prodigioso surgir e multiplicar-se de claustros que, ramificando-se no continente, difundiram amplamente o espírito e a sensibilidade cristã. Santo Odon leva-nos, em particular, a um mosteiro, Cluny, que na idade média foi um dos mais ilustres e celebrados, e ainda hoje revela através das suas ruínas majestosas os sinais de um passado glorioso pela intensa dedicação à ascese, ao estudo e, de modo especial, ao culto divino, repleto de decoro e de beleza.
Odon foi o segundo abade de Cluny. Nascera por volta de 880, nos confins entre o Maine e a Touraine, na França. O seu pai consagrou-o ao santo bispo Martinho de Tours, sob cujas sombra benéfica e memória, depois, Odon passou toda a sua vida, concluindo-a no final junto do seu túmulo. Nele, a escolha da consagração religiosa foi precedida pela experiência de um momento de graça especial, do qual ele mesmo falou a outro monge, João, o Italiano, que depois foi seu biógrafo.
Odon era ainda adolescente, tinha cerca de 16 anos quando, durante uma vigília de Natal, sentiu subir espontaneamente aos lábios esta oração à Virgem:  "Minha Senhora, Mãe de misericórdia, que nesta noite deste à luz o Salvador, intercede por mim. Ó Piedosíssima, o teu parto glorioso e singular seja o meu refúgio" (Vita sancti Odonis, i 9:  pl 133, 747).
O apelativo "Mãe de misericórdia", com que então o jovem Odon invocou a Virgem, será aquele com que depois gostará de se dirigir a Maria, chamando-lhe também "única esperança do mundo... graças à qual nos foram abertas as portas do paraíso" (In veneratione S. Mariae Magdalenae:  pl 133, 721). Nessa época, encontrou a Regra de São Bento e começou algumas das suas observâncias, "carregando, quando ainda não era monge, o jugo leve dos monges" (ibid., i, 14:  pl 133, 50). Num dos seus sermões, Odon celebrará Bento como "lâmpada que resplandece no estádio tenebroso desta vida" (De sancto Benedicto abbate:  pl 133, 725), e qualificá-lo-á como "mestre de disciplina espiritual" (ibid.:  pl 133, 727). Com afeto, relevará que a piedade cristã "com maior docilidade faz memória" dele, na consciência de que Deus o elevou "entre os sumos e eleitos Padres na santa Igreja" (ibid.:  pl 133, 722).
Fascinado pelo ideal beneditino, Odon deixou Tours e entrou como monge na abadia beneditina de Baume, e depois passou para a de Cluny, da qual se tornou abade em 927. Daquele centro de vida espiritual pôde exercer uma vasta influência sobre os mosteiros do continente. Da sua guia e da sua reforma beneficiaram também na Itália diversos cenóbios, entre os quais o de São Paulo fora dos Muros. Odon visitou Roma várias vezes, chegando também a Subiaco, Montecassino e Salerno. Foi precisamente em Roma que, no Verão de 942, adoeceu. Sentindo-se próximo do fim, com todos os esforços quis regressar depressa junto do seu São Martinho, em Tours, onde faleceu no oitavário do Santo, no dia 18 de Novembro de 942.
Ao sublinhar em Odon a "virtude da paciência", o biógrafo oferece um longo elenco de outras suas virtudes, como o desprezo pelo mundo, o zelo pelas almas e o compromisso pela paz das Igrejas. Grandes aspirações do abade Odon eram a concórdia entre os reis e os príncipes, a observância dos mandamentos, a atenção aos pobres, o emendamento dos jovens, o respeito pelos idosos (cf. Vita sancti Odonis, i 17:  pl 133, 49). Gostava da pequena cela onde residia, "subtraído aos olhos de todos, solícito em agradar somente a Deus" (ibid., i 14:  pl 133, 49). Porém, não deixava de exercer também, como "fonte superabundante", o ministério da palavra e do exemplo, "chorando este mundo como imensamente miserável" (ibid., i 17:  pl 133, 51).
Num só monge, comenta o seu biógrafo, encontravam-se reunidas as diversas virtudes existentes de forma espalhada nos outros mosteiros:  "Jesus na sua bondade, haurindo dos vários jardins dos monges, formava num pequeno lugar um paraíso, para irrigar a partir da sua fonte os corações dos fiéis" (ibid., i 14:  pl 133, 49).
Num trecho de um sermão em honra a Maria de Magdala, o abade de Cluny revela-nos como ele concebia a vida monástica:  "Maria que, sentada aos pés do Senhor, com espírito atento ouvia a sua palavra, é o símbolo da docilidade da vida contemplativa cujo gosto, quanto mais é saboreado, tanto mais induz a alma a desapegar-se das coisas visíveis e dos tumultos das preocupações do mundo" (In ven. S. Mariae Magd., pl 133, 717).
É uma concepção que Odon confirma e desenvolve nos outros seus escritos, dos quais transparecem o amor pela interioridade, uma visão do mundo como de uma realidade frágil e precária da qual desarraigar-se, uma inclinação constante ao desapego das coisas sentidas como fontes de inquietação, uma sensibilidade perspicaz pela presença do mal nas várias categorias de homens e uma íntima aspiração escatológica. Esta visão do mundo pode parecer bastante distante da nossa, todavia a de Odon é uma concepção que, vendo a fragilidade do mundo, valoriza a vida interior aberta ao outro, ao amor pelo próximo, e precisamente assim transforma a existência e abre o mundo à luz de Deus.
Merece particular menção a "devoção" ao Corpo e ao Sangue de Cristo que Odon, diante de uma difundida negligência por ele vivamente deplorada, sempre cultivou com convicção. Com efeito, estava firmemente persuadido da presença real, sob as espécies eucarísticas, do Corpo e do Sangue do Senhor, em virtude da conversão "substancial" do pão e do vinho. Escrevia:  "Deus, o Criador de tudo, tomou o pão, dizendo que era o seu Corpo, e que o teria oferecido pelo mundo, e distribuiu o vinho, chamando-lhe seu Sangue"; pois bem, "é lei de natureza que se verifique a mudança segundo o mandamento do Criador", e eis, portanto, que "imediatamente a natureza muda a sua condição habitual:  sem hesitação, o pão torna-se carne, e o vinho torna-se sangue"; à ordem do Senhor, "a substância transforma-se" (Odonis Abb. Cluniac. occupatio, ed. A. Swoboda, Leipzig 1900, pág. 121).
Infelizmente, anota o nosso abade, este "sacrossanto mistério do Corpo do Senhor, no qual consiste toda a salvação do mundo" (Collationes, xXVIii:  pl 133, 572), é celebrado com negligência. "Os sacerdotes, ele admoesta, que acedem ao altar indignamente, mancham o pão, ou seja, o Corpo de Cristo" (ibid.pl 133, 572-573). Só quem está unido espiritualmente a Cristo pode participar de modo digno no seu Corpo eucarístico:  caso contrário, comer a sua carne e beber o seu sangue não seria um benefício, mas uma condenação (cf. ibid., xxx:  pl 133, 575). Tudo isto nos convida a crer com nova força e profundidade na verdade da presença do Senhor.  A presença do Criador no meio de nós, que se entrega nas nossas mãos e nos transforma como transforma o pão e o vinho, assim transforma o mundo.
Santo Odon foi um verdadeiro guia espiritual, quer para os monges quer para os fiéis do seu tempo. Diante da "vastidão dos vícios" difundidos na sociedade, o remédio que ele propunha com decisão era o de uma mudança de vida radical, fundada sobre a humildade, a austeridade, o desapego das coisas efêmeras e a adesão às eternas (cf. Collationes, xxx:  pl 133, 613). Não obstante o realismo do seu diagnóstico a respeito da situação da sua época, Odon não se abandona ao pessimismo:  "Não dizemos isto esclarece ele para fazer precipitar no desespero quantos quiserem converter-se. A misericórdia divina está sempre disponível; ela espera a hora da nossa conversão" (ibid.:  pl 133, 563). E exclama:  "Ó inefáveis vísceras da piedade divina! Deus persegue as culpas e todavia protege os pecadores" (ibid.:  pl 133, 592).
Fortalecido por esta convicção, o abade de Cluny gostava de se deter na contemplação da misericórdia de Cristo, o Salvador que sugestivamente ele qualificava como "amante dos homens""amator hominum Christus" (ibid., liii:  pl 133, 637). Jesus assumiu sobre si os flagelos que seriam reservados a nós observa para salvar assim a criatura, que é sua obra e que Ele ama (cf. ibid.:  pl 133, 638).
Aqui aparece uma característica do santo abade, à primeira vista quase escondida sob o rigor da sua austeridade de reformador:  a profunda bondade da sua alma. Era austero, mas sobretudo bom, um homem de grande bondade, uma bondade que provém do contacto com a bondade divina. Odon, assim nos dizem os seus coetâneos, difundia ao seu redor a alegria da qual estava repleto. O seu biógrafo testemunha que jamais ouviu sair da boca de um homem "tanta docilidade de palavra" (ibid., i, 17:  pl 133, 31).
O biógrafo recorda que ele costumava convidar para o canto as crianças que encontrava ao longo do caminho, para depois lhes oferecer um pequeno dom, e acrescenta:  "As suas palavras eram cheias de exultação... a sua hilaridade infundia no nosso coração uma alegria íntima" (ibid., ii, 5:  pl 133, 63). Deste modo, o vigoroso e ao mesmo tempo amável abade medieval, apaixonado pela reforma, com uma ação incisiva, alimentava nos monges, como também nos fiéis leigos do seu tempo, o propósito de progredir com passo diligente ao longo do caminho da perfeição cristã.
Esperamos que a sua bondade, a alegria que provém da fé, unidas à austeridade e à oposição aos vícios do mundo, sensibilizem inclusive o nosso coração, a fim de que também nós possamos encontrar a fonte da alegria que jorra da bondade de Deus.

sábado, 17 de novembro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para a Jornada Mundia da Juventude








«Ide e fazei discípulos entre as nações!» (cf. Mt 28,19)

Queridos jovens,
              Desejo fazer chegar a todos vós minha saudação cheia de alegria e afeto. Tenho a certeza que muitos de vós regressastes a casa da Jornada Mundial da Juventude em Madri mais «enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé» (cf. Col 2,7). Este ano, inspirados pelo tema: "Alegrai-vos sempre no Senhor" (Fil 4,4) celebramos a alegria de ser cristãos nas várias Dioceses. E agora estamo-nos preparando para a próxima Jornada Mundial, que será celebrada no Rio de Janeiro, Brasil, em julho de 2013.
              Desejo, em primeiro lugar, renovar a vós o convite para participardes nesse importante evento. A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas de que o mundo precisa.
              Convido a vos preparardes para a Jornada Mundial do Rio de Janeiro, meditando desde já sobre o tema do encontro: "Ide e fazei discípulos entre as nações» (cf. Mt 28,19). Trata-se da grande exortação missionária que Cristo deixou para toda a Igreja e que permanece atual ainda hoje, dois mil anos depois. Agora este mandato deve ressoar fortemente em vosso coração. O ano de preparação para o encontro do Rio coincide com o Ano da Fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos à nova  evangelização para a transmissão da fé cristã". Por isso me alegro que também vós, queridos jovens, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros.

1. Uma chamada urgente

               A história mostra-nos muitos jovens que, através do dom generoso de si mesmos, contribuíram grandemente para o Reino de Deus e para o desenvolvimento deste mundo, anunciando o Evangelho. Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia. Penso, por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século XVI, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de vinte anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo. Mas penso também em tantos de vós que se dedicam generosamente à missão da Igreja: disto mesmo tive um testemunho surpreendente na Jornada Mundial de Madrid, em particular na reunião com os voluntários.
               Hoje, não poucos jovens duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho. De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam: E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso, deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação e de vida nova.
             A Igreja, para continuar esta missão de evangelização, conta também convosco. Queridos jovens, vós sois os primeiros missionários no meio dos jovens da vossa idade! No final do Concílio Ecumêncio Vaticano II, cujo cinquentenário celebramos neste ano, o Servo de Deus Paulo VI entregou aos jovens e às jovens do mundo inteiro uma Mensagem que começava com estas palavras: «É a vós, rapazes e moças de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher o facho das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas transformações da sua história, sois vós quem, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: salvar-vos-eis ou perecereis com ela». E concluía com um apelo: «Construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados!» (Mensagem aos jovens, 8 de dezembro de 1965).
              Queridos amigos, este convite é extremamente atual. Estamos passando por um período histórico muito particular: o progresso técnico nos deu oportunidades inéditas de interação entre os homens e entre os povos, mas a globalização destas relações só será positiva e fará crescer o mundo em humanidade se estiver fundada não sobre o materialismo mas sobre o amor, a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas. Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e se torna incapaz de amar seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós. Qualquer pessoa que entenda essa necessidade, não poderá deixar de exclamar com São Paulo: «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho» (1 Cor 9,16).

2. Tornai-vos discípulos de Cristo

               Esta chamada missionária vos é dirigida também por outro motivo: é necessário para o nosso caminho de fé pessoal. O Beato João Paulo II escrevia: «É dando a fé que ela se fortalece» (Encíclica  Redemptoris missio, 2). Ao anunciar o Evangelho, vós mesmos cresceis em um enraizamento cada vez mais profundo em Cristo, vos tornais cristãos maduros. O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza. E o anúncio do Evangelho não pode ser senão consequência da alegria de ter encontrado Cristo e ter descoberto n’Ele a rocha sobre a qual construir a própria existência. Comprometendo-vos no serviço aos demais e no anúncio do Evangelho, a vossa vida, muitas vezes fragmentada entre tantas atividades diversas, encontrará no Senhor a sua unidade; construir-vos-eis também a vós mesmos; crescereis e amadurecereis em humanidade.
              Mas, que significa ser missionário? Significa acima de tudo ser discípulo de Cristo e ouvir sem cessar o convite a segui-Lo, o convite a fixar o olhar n’Ele: «Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29). O discípulo, de fato, é uma pessoa que se põe à escuta da Palavra de Jesus (cf. Lc 10,39), a quem reconhece como o Mestre que nos amou até o dom de sua vida. Trata-se, portanto, de cada um de vós deixar-se plasmar diariamente pela Palavra de Deus: ela vos transformará em amigos do Senhor Jesus, capazes de fazer outros jovens entrar nesta mesma amizade com Ele.
               Aconselho-vos a guardar na memória os dons recebidos de Deus, para poder transmiti-los ao vosso redor. Aprendei a reler a vossa história pessoal, tomai consciência também do maravilhoso legado recebido das gerações que vos precederam: tantos cristãos nos transmitiram a fé com coragem, enfrentando obstáculos e incompreensões. Não o esqueçamos jamais! Fazemos parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que nos transmitiram a verdade da fé e contam conosco para que outros a recebam. Ser missionário pressupõe o conhecimento deste patrimônio recebido que é a fé da Igreja: é necessário conhecer aquilo em que se crê, para podê-lo anunciar. Como escrevi na introdução do YouCat, o Catecismo para jovens que vos entreguei no Encontro Mundial de Madri, «tendes de conhecer a vossa fé como um especialista em informática domina o sistema operacional de um computador. Tendes de compreendê-la como um bom músico entende uma partitura. Sim, tendes de estar enraizados na fé ainda mais profundamente que a geração dos vossos pais, para enfrentar os desafios e as tentações deste tempo com força e determinação» (Prefácio).

3. Ide!

              Jesus enviou os seus discípulos em missão com este mandato: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo» (Mc 16,15-16). Evangelizar significa levar aos outros a Boa Nova da salvação, e esta Boa Nova é uma pessoa: Jesus Cristo. Quando O encontro, quando descubro até que ponto sou amado por Deus e salvo por Ele, nasce em mim não apenas o desejo, mas a necessidade de fazê-lo conhecido pelos demais. No início do Evangelho de João, vemos como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus: quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele. Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas para Ele.
            Pelo Batismo, que nos gera para a vida nova, o Espírito Santo vem habitar em nós e inflama a nossa mente e o nosso coração: é Ele que nos guia para conhecer a Deus e entrar em uma amizade sempre mais profunda com Cristo. É o Espírito que nos impulsiona a fazer o bem, servindo os outros com o dom de nós mesmos. Depois, através do sacramento da Confirmação, somos fortalecidos pelos seus dons, para testemunhar de modo sempre mais maduro o Evangelho. Assim, o Espírito de amor é a alma da missão: Ele nos impele a sair de nós mesmos para «ir» e evangelizar. Queridos jovens, deixai-vos conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de «sair» de vós mesmos para «ir» ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.

4. Alcançai todos os povos

            Cristo ressuscitado enviou os seus discípulos para dar testemunho de sua presença salvífica a todos os povos, porque Deus, no seu amor superabundante, quer que todos sejam salvos e ninguém se perca. Com o sacrifício de amor na Cruz, Jesus abriu o caminho para que todo homem e toda mulher possa conhecer a Deus e entrar em comunhão de amor com Ele. E constituiu uma comunidade de discípulos para levar o anúncio salvífico do Evangelho até os confins da terra, a fim de alcançar os homens e as mulheres de todos os lugares e de todos os tempos. Façamos nosso esse desejo de Deus!
            Queridos amigos, estendei o olhar e vede ao vosso redor: tantos jovens perderam o sentido da sua existência. Ide! Cristo precisa de também de vós. Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos «afastados». Alguns encontram-se geograficamente distantes, enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido, vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade verdadeira, dará seus frutos. Os «povos», aos quais somos enviados, não são apenas os outros Países do mundo, mas também os diversos âmbitos de vida: as famílias, os bairros, os ambientes de estudo ou de trabalho, os grupos de amigos e os locais de lazer. O jubiloso anúncio do Evangelho se destina a todos os âmbitos da nossa vida, sem exceção.
              Gostaria de destacar dois campos, nos quais deve fazer-se ainda mais solícito o vosso empenho missionário. O primeiro é o das comunicações sociais, em particular o mundo da internet. Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos jovens, «senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! [...] A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital”» (Mensagem para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2009). Aprendei, portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos na rede.
              O segundo campo é o da mobilidade. Hoje são sempre mais numerosos os jovens que viajam, seja por motivos de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas penso também em todos os movimentos migratórios, que levam milhões de pessoas, frequentemente jovens, a se transferir e mudar de Região ou País, por razões econômicas ou sociais. Também estes fenômenos podem se tornar ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho. Queridos jovens, não tenhais medo de testemunhar a vossa fé também nesses contextos: para aqueles com quem vos deparareis, é um dom precioso a comunicação da alegria do encontro com Cristo.

5. Fazei discípulos!

              Penso que já várias vezes experimentastes a dificuldade de envolver os jovens da vossa idade na experiência da fé. Frequentemente tereis constatado que em muitos deles, especialmente em certas fases do caminho da vida, existe o desejo de conhecer a Cristo e viver os valores do Evangelho, mas tal desejo é acompanhado pela sensação de ser inadequados e incapazes. Que fazer? Em primeiro lugar, a vossa solicitude e a simplicidade do vosso testemunho serão um canal através do qual Deus poderá tocar seu coração. O anúncio de Cristo não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós; por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o bom Samaritano, devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e ajudar, para conduzir, quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. Lc 10,29-37) Queridos amigos, nunca esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. Aos seus apóstolos, Jesus ordena: «Fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei» (Mt 28,19-20). Os meios que temos para «fazer discípulos» são principalmente o Batismo e a catequese. Isto significa que devemos conduzir as pessoas que estamos evangelizando ao encontro com Cristo vivo, particularmente na sua Palavra e nos Sacramentos: assim poderão crer n’Ele, conhecerão a Deus e viverão da sua graça. Gostaria que cada um de vós se perguntasse: Alguma vez tive a coragem de propor o Batismo a jovens que ainda não o receberam? Convidei alguém a seguir um caminho de descoberta da fé cristã? Queridos amigos, não tenhais medo de propor aos jovens da vossa idade o encontro com Cristo. Invocai o Espírito Santo: Ele vos guiará para entrardes sempre mais no conhecimento e no amor de Cristo, e vos tornará criativos na transmissão do Evangelho.
6. Firmes na fé

             Diante das dificuldades na missão de evangelizar, às vezes sereis tentados a dizer como o profeta Jeremias: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Mas, também a vós, Deus responde: «Não digas que és muito novo; a todos a quem eu te enviar, irás» (Jr 1,6-7). Quando vos sentirdes inadequados, incapazes e frágeis para anunciar e testemunhar a fé, não tenhais medo. A evangelização não é uma iniciativa nossa nem depende primariamente dos nossos talentos, mas é uma resposta confiante e obediente à chamada de Deus, e portanto não se baseia sobre a nossa força, mas na d’Ele. Isso mesmo experimentou o apóstolo Paulo: «Trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós» (2 Cor 4,7).
            Por isso convido-vos a enraizar-vos na oração e nos sacramentos. A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração; pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas; pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do seu amor. E, de modo mais geral, rezamos pela missão de toda a Igreja, de acordo com a ordem explícita de Jesus: «Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!» (Mt 9,38). Sabei encontrar na Eucaristia a fonte da vossa vida de fé e do vosso testemunho cristão, participando com fidelidade na Missa ao domingo e sempre que possível também durante a semana. Recorrei frequentemente ao sacramento da Reconciliação: é um encontro precioso com a misericórdia de Deus que nos acolhe, perdoa e renova os nossos corações na caridade. E, se ainda não o recebestes, não hesiteis em receber o sacramento da Confirmação ou Crisma preparando-vos com cuidado e solicitude. Junto com a Eucaristia, esse é o sacramento da missão, porque nos dá a força e o amor do Espírito Santo para professar sem medo a fé. Encorajo-vos ainda à prática da adoração eucarística: permanecer à escuta e em diálogo com Jesus presente no Santíssimo Sacramento, torna-se ponto de partida para um renovado impulso missionário.
             Se seguirdes este caminho, o próprio Cristo vos dará a capacidade de ser plenamente fiéis à sua Palavra e de testemunhá-Lo com lealdade e coragem. Algumas vezes sereis chamados a dar provas de perseverança, particularmente quando a Palavra de Deus suscitar reservas ou oposições. Em certas regiões do mundo, alguns de vós sofrem por não poder testemunhar publicamente a fé em Cristo, por falta de liberdade religiosa. E há quem já tenha pagado com a vida o preço da própria pertença à Igreja. Encorajo-vos a permanecer firmes na fé, certos de que Cristo está ao vosso lado em todas as provas. Ele vos repete: «Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus» (Mt 5,11-12).



7. Com toda a Igreja

              Queridos jovens, para permanecer firmes na confissão da fé cristã nos vários lugares onde sois enviados, precisais da Igreja. Ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato «fazei discípulos» é formulado no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja: seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos uns com os outros (cf. Jo 13,35). Agradeço ao Senhor pela preciosa obra de evangelização que realizam as nossas comunidades cristãs, as nossas paróquias, os nossos movimentos eclesiais. Os frutos desta evangelização pertencem a toda a Igreja: «um é o que semeia e outro o que colhe», dizia Jesus (Jo 4,37).
             A propósito, não posso deixar de dar graças pelo grande dom dos missionários, que dedicam toda a sua vida ao anúncio do Evangelho até os confins da terra. Do mesmo modo bendigo o Senhor pelos sacerdotes e os consagrados, que ofertam inteiramente as suas vidas para que Jesus Cristo seja anunciado e amado. Desejo aqui encorajar os jovens chamados por Deus a alguma dessas vocações, para que se comprometam com entusiasmo: «Há mais alegria em dar do que em receber!» (At 20,35). Àqueles que deixam tudo para segui-Lo, Jesus prometeu o cêntuplo e a vida eterna (cf. Mt 19,29).
             Dou graças também por todos os fiéis leigos que se empenham por viver o seu dia-a-dia como missão, nos diversos lugares onde se encontram, tanto em família como no trabalho, para que Cristo seja amado e cresça o Reino de Deus. Penso particularmente em quantos atuam no campo da educação, da saúde, do mundo empresarial, da política e da economia, e em tantos outros âmbitos do apostolado dos leigos. Cristo precisa do vosso empenho e do vosso testemunho. Que nada – nem as dificuldades, nem as incompreensões – vos faça renunciar a levar o Evangelho de Cristo aos lugares onde vos encontrais: cada um de vós é precioso no grande mosaico da evangelização!

8. «Aqui estou, Senhor!»

             Em suma, queridos jovens, queria vos convidar a escutar no íntimo de vós mesmos a chamada de Jesus para anunciar o seu Evangelho. Como mostra a grande estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o seu coração está aberto para amar a todos sem distinção, e seus braços estendidos para alcançar a cada um. Sede vós o coração e os braços de Jesus. Ide testemunhar o seu amor, sede os novos missionários animados pelo seu amor e acolhimento. Segui o exemplo dos grandes missionários da Igreja, como São Francisco Xavier e muitos outros.
             No final da Jornada Mundial da Juventude em Madri, dei a bênção a alguns jovens de diferentes continentes que partiam em missão. Representavam a multidão de jovens que, fazendo eco às palavras do profeta Isaías, diziam ao Senhor: «Aqui estou! Envia-me» (Is 6,8). A Igreja tem confiança em vós e vos está profundamente grata pela alegria e o dinamismo que trazeis: usai os vossos talentos generosamente ao serviço do anúncio do Evangelho. Sabemos que o Espírito Santo se dá a quantos, com humildade de coração, se tornam disponíveis para tal anúncio. E não tenhais medo! Jesus, Salvador do mundo, está conosco todos os dias, até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).
             Dirigido aos jovens de toda a terra, este apelo assume uma importância particular para vós, queridos jovens da América Latina. De fato, na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Aparecida, no ano de 2007, os bispos lançaram uma «missão continental». E os jovens, que constituem a maioria da população naquele continente, representam uma força importante e preciosa para a Igreja e para a sociedade. Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que a Jornada Mundial da Juventude retorna à América Latina, exorto todos os jovens do continente: transmiti aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa fé.
              A Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, também invocada sob os títulos de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Guadalupe, acompanhe cada um de vós em vossa missão de testemunhas do amor de Deus. A todos, com especial carinho, concedo a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 18 de outubro de 2012.

BENEDICTUS PP XVI


  

Ladainha de Santa Isabel



Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.

Deus Pai dos Céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.

Santa Maria, Mãe de Misericórdia, rogai por nós.

Santa Isabel, mãe dos pecadores, rogai por nós.
Santa Isabel, temente a Deus desde a infância, rogai por nós.
Santa Isabel, fervorosíssima adoradora de Deus, rogai por nós.
Santa Isabel, devota do discípulo amado de Jesus, rogai por nós.
Santa Isabel, imitadora de São Francisco, rogai por nós.
Santa Isabel, nobilíssima pela geração e pela fé, rogai por nós.
Santa Isabel, dada a todos os actos de piedade, rogai por nós.
Santa Isabel, que pernoitáveis na oração e contemplação, rogai por nós.
Santa Isabel, consolada muitas vezes com visões divinas, rogai por nós.
Santa Isabel, amável a Deus e aos homens, rogai por nós.
Santa Isabel, admirável desprezadora do mundo, rogai por nós.
Santa Isabel, modelo
de pobreza, castidade e obediência, rogai por nós.
Santa Isabel, consoladora dos casados, rogai por nós.
Santa Isabel, espelho das viúvas, rogai por nós.
Santa Isabel, norma de penitência e de humildade, rogai por nós.
Santa Isabel, dotada de admirável mansidão, rogai por nós.
Santa Isabel, que desprezastes as delícias da real casa paterna, rogai por nós.
Santa Isabel, amante da Cruz de Cristo, rogai por nós.
Santa Isabel, luz das mulheres piedosas, rogai por nós.
Santa Isabel, Mãe dos órfãos, rogai por nós.
Santa Isabel, consoladora de todas as aflições, rogai por nós.
Santa Isabel, que destes aos pobres todas as vossas riquezas, rogai por nós.
Santa Isabel, privada do auxílio dos vossos parentes, rogai por nós.
Santa Isabel, pacientíssima nas contrariedades, rogai por nós.
Santa Isabel, abrigo dos peregrinos e dos doentes, rogai por nós.
Santa Isabel, arrimo de todos os necessitados, rogai por nós.
Santa Isabel, afugentadora dos demónios, rogai por nós.
Santa Isabel, que alcançáveis de Deus a conversão dos vaidosos e dos viciados, rogai por nós.
Santa Isabel, que ouvistes cantar os anjos em vossa morte, rogai por nós.
Santa Isabel, adornada de milagres na vida e na morte, rogai por nós.
Santa Isabel, que socorreis misericordiosamente aos vossos devotos, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

V. Rogai por nós, Santa Isabel.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos

Ó Deus clementíssimo, que entre outros eminentes dotes ornastes a Rainha Santa Isabel com a prerrogativa de aplacar os horrores da guerra, concedei-nos por sua intercessão que, depois de passarmos em paz esta vida mortal, como humildemente pedimos, alcancemos as alegrias eternas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que convosco vive e reina com o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos.
Amém.

Da Carta do Conrado de Marburgo, director espiritual de Santa Isabel (Ao Sumo Pontífice, no ano 1232; A. Wyss, Hessisches Urkundenbuch I, Leipzig 1879, 31-35)

            

             "Isabel começou muito cedo a distinguir se na virtude. Em toda a sua vida foi consoladora dos pobres; a dada altura dedicou-se inteiramente aos famintos e, junto de um castelo seu, mandou construir um hospital onde recolhia muitos enfermos e estropiados. Distribuía largamente os dons da sua beneficência, não só a quantos ali acorriam a pedir esmola, mas em todos os territórios da jurisdição de seu marido, chegando ao ponto de gastar nessas obras de assistência todas as rendas provenientes dos quatro principados e vendendo por fim, para utilidade dos pobres, todos os objetos de valor e vestes preciosas. Costumava visitar duas vezes por dia, de manhã e à tarde, todos os seus doentes, ocupando se pessoalmente dos que apresentavam aspecto mais repugnante. Dava de comer a uns, deitava outros na cama, transportava outros aos ombros e dedicava se a todo o género de serviço humanitário. Em todas estas coisas nunca ela encontrou má vontade em seu marido de grata memória.
             Finalmente, depois da morte deste, no desejo da suma perfeição, pediu-me com lágrimas que a autorizasse a pedir esmola de porta em porta. Precisamente no dia de Sexta-Feira Santa, estando desnudados os altares, numa capela da sua cidade, onde acolhera os Frades Menores, na presença de testemunhas e postas as mãos sobre o altar, renunciou à sua própria vontade, a todas as pompas do mundo e ao que o Salvador no Evangelho aconselha a deixar. Feito isto e vendo que poderia ser absorvida pelo tumulto do século e pela glória mundana naquela terra, em que no tempo do marido vivera com tanta grandeza, veio para Marburgo contra minha vontade. Nesta cidade construiu um hospital para receber doentes e aleijados dos quais sentou à sua mesa os mais miseráveis e desprezados.
            Além destas atividades caritativas, diante de Deus o afirmo, raras vezes encontrei mulher mais dada à contemplação. Algumas religiosas e religiosos viram muitas vezes que, quando voltava do recolhimento da oração, o seu rosto resplandecia maravilhosamente e os seus olhos brilhavam como raios de sol. Antes de morrer ouvi-a de confissão. Perguntando-lhe o que se devia fazer dos seus haveres e mobiliário, respondeu-me que tudo quanto parecia possuir era já dos pobres desde há muito tempo e pediu me que distribuísse tudo por eles, excepto a pobre túnica com que estava vestida e com a qual desejava ser sepultada. Depois recebeu o Corpo do Senhor e, seguidamente, até à hora de Vésperas, falou muitas vezes do que mais a tinha impressionado na pregação. Por fim, encomendou devotamente a Deus os que lhe assistiam e expirou como quem adormece suavemente".

Ladainha de Santa Hilda

Senhor, tende piedade.
Cristo, tende piedade.
Senhor, tende piedade.
 
Cristo, ouvi-nos.
Cristo, atendei-nos.
 
Deus, o Pai do céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus, o Espírito Santo, tende piedade de nós .
Santíssima Trindade, um só Deus, tende piedade de nós.
 
Santa Maria, rogai por nós.
Santa Mãe de Deus, rogai por nós.
Mãe de Cristo, rogai por nós.
Santa Virgem das Virgens, rogai por nós.
Mãe do bom conselho, rogai por nós.
Rainha das Virgens, rogai por nós.
Santa Hilda, rogai por nós.
Santa Hilda prudentíssima, rogai por nós.
Santa Hilda louvável, rogai por nós.
Santa Hilda virgem fiel, rogai por nós.
Santa Hilda líder da sua comunidade, rogai por nós.
Santa Hilda conselheira venerável, rogai por nós.
Santa Hilda consoladora dos necessitados, rogai por nós.
Santa Hilda homenageada pelos seus pares, rogai por nós.
Santa Hilda navio casto da unidade, rogai por nós.
Santa Hilda corajosa em tempo de sofrimento, rogai por nós.
Santa Hilda obediente à Santa Regra, rogai por nós.
Santa Hilda paciente na hora da aflição, rogai por nós.
Santa Hilda trabalhadora para a harmonia, rogai por nós.
Santa Hilda cheia de amor pela Santa Igreja, rogai por nós.
 
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo.
Perdoai-nos Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo.
Atendei-nos Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo.
Tem piedade de nós.

Oremos

Deus Todo-Poderoso, nós que somos afligidos pelo fardo da discórdia, possamos pela gloriosa intercessão de Santa Hilda, que através da inspiração do Espírito Santo foi fundamental na unificação da Igreja na Inglaterra, possamos ser levados ao porto seguro da unidade e da paz e livres de todas as adversidades possamos alcançar a salvação eterna, através de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Deus. Amém.


Ruínas da Abadia de Whitby, Inglaterra

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Nossa Senhora de Almudena, padroeira de Madrid

               
A origem da atual capital espanhola se perde na noite dos tempos. Roma ainda não havia sido fundada e já Madri se orgulhava de sua Antigüidade.
            Foi ela das primeiras vilas na Península Ibérica a abraçar o Cristianismo, quando, segundo a tradição, São Tiago aí pregou o Evangelho. Com seus discípulos, construiu ele um modesto templo, dedicado à Santíssima Virgem, no qual deixou uma imagem da mesma Senhora, esculpida em madeira.
             Perseguida pelos romanos, a Igreja aí estabelecida viu inúmeros dos seus filhos sofrerem o martírio. Os invasores godos, porém, após vencerem os romanos, curvaram-se ao doce jugo do cristianismo, e uma igreja substituiu a primitiva capela de São Tiago.
             No início do século VIII um traidor, o conde D. Julián - nome execrável nos anais da história da Espanha - por vingança, abriu as portas da Península aos árabes do norte da África. A horda invasora, sempre vitoriosa, aproximava-se de Madri no transcurso do ano 714.
            Clero e povo, alvoroçados, se reuniram então em torno da venerada imagem da Mãe de Deus para suplicar-lhe auxílio naquela hora de angústia, certos de que seriam atendidos.
            Entretanto, a vila não dispunha de meios para resistir. Qual seria, nessas condições, o destino da tão honrada escultura? Muito provavelmente seria destruída, tal como os ímpios filhos de Mafoma vinham fazendo em todo seu devastador percurso. A única saída, concordaram todos, seria escondê-la num vão da muralha da cidade. E assim se fez, confiados em que mais tarde a pudessem resgatar.

           Os inimigos triunfantes, dispostos a permanecer em Madri para sempre, transformaram a igreja em mesquita, parecendo que o nome da Virgem nunca mais seria invocado naquele local, onde distribuíra tantas graças.
        Velas postas há 369 anos aparecerem milagrosamente acesas! Trezentos e sessenta e nove anos se passaram quando D. Alfonso VI, rei de Castela, com o auxílio do celebérrimo D. Rodrigo Díaz de Bivar, El Cid Campeador, derrotou os mouros em Toledo, tornando-se viável a reconquista de Madri, efetivada pouco depois.
Assim, em 1083 a antiga igreja foi reconsagrada e novamente dedicada à Rainha dos Céus.
           Os habitantes locais ainda se recordavam, embora de modo muito confuso, de que uma milagrosa imagem da Virgem fôra escondida na muralha por ocasião da tomada da vila, propondo-se o próprio monarca católico a encontrá-la. Ordenou, por um pregão, que durante nove dias todos os nobres, burgueses e povo da vila, por meio de jejuns, orações e penitências, suplicassem à Virgem que se dignasse indicar o local que abrigava sua santa imagem.
          No último dia da novena, 9 de novembro de 1083, uma concorrida procissão dirigiu-se à igreja. Dela participavam D. Alfonso VI, D. Sancho de Aragão e Navarra, os infantes, cardeal D. Fernando e D. Martin, numerosos eclesiásticos e grandes cavaleiros. Entre todos se destacava El Cid, herói nacional, vencedor
de sete reis mouros!
          Após celebração de Missa solene, o portentoso cortejo começou a percorrer a vila, em piedosa investigação. Mas nada sucedeu de extraordinário. Decepção, desalento... Teria a Virgem sido surda a tão piedosa súplica?
          Não! Eis que, durante essa mesma noite, a muralha dividiu-se por si só, deixando aparecer em um improvisado nicho a milagrosa imagem, tão fresca como se tivesse sido ali depositada no dia anterior. E - milagre maior! - acesas todas as velas, a seu lado colocadas há quase quatro séculos por confiantes devotos!
          Nova procissão, ainda mais solene e jubilosa que a anterior, conduziu com todo carinho a bendita Santa Maria ao seu antigo altar.
          D. Alfonso VI quis que esta passasse a se chamar Santa Maria la Real de la Almudena, por haver permanecido tantos séculos escondida em um local da muralha perto do almudin (mercado ou armazém) que os mouros ali haviam instalado. Sob a mesma invocação, a Santíssima Virgem foi ainda proclamada Padroeira de Madri.

Trigo providencialmente descoberto salva cristãos
          Poucos anos depois da morte de Alfonso VI, Madri foi novamente atacada pelos mouros, comandados pelo terrível Alí-Aben-Jucet. Outra vez a cidade se achava inteiramente despreparada para a defesa, embora seus habitantes procurassem desesperadamente salvaguardar as muralhas.
          Tranqüilo, Alí Jucet determinou manter o cerco à cidade, até que a fome obrigasse o povo à rendição. Não havendo qualquer esperança humana, os sitiados suplicaram à Mãe de Deus que lhes valesse. E o atendimento não tardou: uma terrível peste assolou o campo inimigo com tanto rigor, que obrigou os não atingidos a fugir espavoridos.
         Vinte anos mais tarde, novo assalto. Os sarracenos sitiaram a cidade, esperando que esta se rendesse pela escassez de alimentos. Quando já não havia mais o que comer, uns meninos que brincavam junto à igreja, abriram um buraquinho num de seus pilares. Imediatamente por ele começou a escorrer um pó branco que se verificou ser farinha de trigo, de ótima qualidade. Derrubada parte da parede lateral da igreja, onde o tal pilar se encostava, descobriu-se um desconhecido silo. A abundância do trigo encontrado levou os espanhóis a jogar parte dele sobre os mouros, numa demonstração de fartura, para que perdessem a esperança de subjugá-los pela fome. O exército inimigo, uma vez mais, retirou-se humilhado. Um quadro de Alonso Cano, na igreja, lembra até hoje esse fato. E em outra pintura, no mesmo local, está retratado o milagre narrado abaixo.

Criança salva milagrosamente do poço
             A esta imagem recorreu Santo Isidro, o Lavrador, quando seu filho caiu num poço. Assim que rezou à Virgem, as águas do mesmo começaram a subir suavemente até que o santo pai pôde resgatar o filho são e salvo.
             A milagrosa imagem é esculpida em madeira odorífica, que lembra os cedros do Líbano; e a pintura é tão consistente que mesmo os desgastes naturais do tempo não conseguiram deteriorá-la.
            Uma particularidade surpreendente com relação a essa imagem - comprovada historicamente - é a impossibilidade de se conseguir uma cópia idêntica ao original. Muitos pintores célebres tentaram reproduzi-la, mas todos confessaram seu fracasso.

Reis tornam-se escravos de Nossa Senhora
            Em 29 de agosto de 1640, instituiu-se na igreja de Santa Maria a Esclavitud de la Virgen de la Almudena, constituindo-se seu primeiro escravo o próprio rei, D. Felipe IV.
 
Exemplo seguido depois por seus sucessores

            A Virgem de la Almudena é uma das nove imagens objeto de devota prática por parte das Rainhas da Espanha. Estas, quando estão para dar à luz, costumam visitar tais imagens rogando a Maria Santíssima que lhes conceda um bom parto, colocando sob Sua proteção o fruto de suas entranhas. Essa prática foi imitada por senhoras de todas as condições até quase nossos tristes dias, em que o neopaganismo se esforça por destruir tudo quanto é santo e venerável.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lição de perseverança: autor desconhecido

          


          Já observou a atitude dos pássaros perante as adversidades?  Ficam dias e dias fazendo seu ninho, recolhendo materiais, às vezes trazidos de locais distantes...
          ... E quando ele já está pronto e estão preparados para pôr os ovos, as inclemências do tempo ou a ação do ser humano ou de algum animal destrói o que com tanto esforço se conseguiu...
           O que faz o pássaro? Pára, abandona a tarefa?
          De maneira nenhuma. Começa, outra vez, até que no ninho apareçam os primeiros ovos.
          Muitas vezes, antes que nasçam os filhotes, um animal, uma criança, uma tormenta, volta a destruir o ninho, mas agora com seu precioso conteúdo...
         Dói recomeçar do zero... Mas ainda assim o pássaro jamais emudece, nem retrocede, segue cantando e construindo, construindo e cantando...
           Já sentiu que sua vida, seu trabalho, sua família, seus amigos não são o que você sonhou?
           Tem vontade de dizer basta, não vale a pena o esforço, isto é demasiado para mim?
           Você está cansado de recomeçar, do desgaste da luta diária, da confiança traída, das metas não alcançadas quando estava a ponto de conseguir?
           Mesmo que a vida o golpeie mais uma vez, não se entregue nunca, faça uma oração, ponha sua esperança na frente e avance. Não se preocupe se na batalha for ferido, é esperado que algo assim aconteça. Junte os pedaços de sua esperança, arme-a de novo e volte a ir em frente.
           Não importa o que você passe... Não desanime, siga adiante.
           A vida é um desafio constante, mas vale a pena aceitá-lo.
           E, sobretudo... Nunca deixe de cantar.
 

Da Regra Pastoral, de São Gregório Magno, papa (Lib. 2,4: PL 77,30-31) (Séc.VI)

 

O pastor seja discreto no silêncio, útil na palavra

               "Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir. Muitas vezes, pastores imprudentes, temendo perder as boas graças dos homens, têm medo de falar abertamente o que é reto. E segundo a palavra da Verdade, absolutamente não guardam o rebanho com solicitude de pastor, mas, por se esconderem no silêncio, agem como mercenários que fogem à vinda do lobo.
             O Senhor, pelo Profeta, repreende estes tais dizendo: Cães mudos que não conseguem ladrar (Is 56,10). De novo queixa-se: Não vos levantastes contra nem opusestes um muro de defesa da casa de Israel, de modo a entrardes em luta no dia do Senhor (Ez 13,5). Levantar-se contra é contradizer sem rebuços aos poderosos do mundo em defesa do rebanho. E entrar em luta no dia do Senhor quer dizer: por amor à justiça resistir aos que lutam pelo erro.
            Quando o pastor tem medo de dizer o que é reto, não é o mesmo que dar as costas, calando-se? É claro que se, pelo rebanho, se expõe, opõe um muro contra os inimigos em defesa da casa de Israel. Outra vez, se diz ao povo pecador: Teus profetas viram em teu favor coisas falsas e estultas; não revelavam tua iniqüidade a fim de provocar à penitência (Lm 2,14). Na Sagrada Escritura algumas vezes os profetas são chamados de doutores porque, enquanto mostram ser transitórias as coisas presentes, manifestam as que são futuras. A palavra divina censura aqueles que vêem falsidades, porque, por medo de corrigir as faltas, lisonjeiam os culpados com vãs promessas de segurança; não revelam de modo nenhuma iniqüidade dos pecadores porque calam a palavra de censura. 
            Por conseguinte, a chave que abre é a palavra da correção porque, ao repreender, revela a falta a quem a cometeu, pois muitas vezes dela não tem consciência. Daí Paulo dizer: Que seja poderoso para exortar na sã doutrina e para convencer os contraditores (Tt 1,9). E Malaquias: Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei porque é um mensageiro do Senhor dos exércitos (Ml 2,7). Daí o Senhor admoestar por meio de Isaías: Clama, não cesses; qual trombeta ergue tua voz (Is 58,1).
           Quem quer que entre para o sacerdócio, recebe o ofício de arauto, porque caminha à frente, proclamando a vinda do rigoroso juiz, que se aproxima. Portanto, se o sacerdote não sabe pregar, que protesto elevará o arauto mudo? Daí se vê por que sobre os primeiros pastores o Espírito Santo pousou em forma de línguas; com efeito, imediatamente impele a falar sobre ele aqueles que inunda de luzes".