segunda-feira, 20 de agosto de 2012

São Bernardo de Claraval: os graus da contemplação

            
            "Firmemos os pés no reduto, na pedra solidíssima, apoiados com todas as forças em Cristo, como está escrito: “Firmou meus pés sobre a pedra e dirigiu meus passos”. Assim firmes e estáveis contemplemos para ver o que nos dirá e o que responderemos ao que nos repreende.
             O primeiro grau da contemplação é então este, caríssimos, que consideremos sem cessar o que quer o Senhor, o que lhe agrada, aquilo que é aceito diante dele. E já que “em muitas coisas todos nós falamos” e nossa força vai de encontro à retidão de sua vontade, sem poder unir-se ou adaptar-se a ela, humilhemo-nos sob a poderosa mão do Deus altíssimo e procuremos mostrar-nos bem pequeninos aos olhos de sua misericórdia, dizendo: “Cura-me, Senhor, e ficarei curado; salva-me e serei salvo”, e ainda: “Senhor, tem compaixão de mim, cura minha alma porque pequei contra ti”.
           Com os olhos do coração purificados por estes pensamentos, já não entretemos com nosso espírito na amargura, porém, muito mais com o espírito divino com grande atrativo. Deixamos de refletir sobre a vontade de Deus para nós e sim no que ela é em si mesma.
           "Na vontade de Deus se encontra a vida”, por isto não duvidamos de que em tudo o mais útil e conveniente para nós é aquilo que é conforme a sua vontade. Então com a mesma solicitude com que desejamos conservar a vida de nossa alma, não nos desviemos dela, na medida do possível.
            Enfim, tendo-nos adiantado um pouco no exercício espiritual, guiados pelo Espírito pescrutador das profundezas de Deus, pensemos na suavidade do Senhor, como é bom em si mesmo; com o Profeta, roguemos ver a vontade de Deus e visitar já não mais nosso coração, mas seu templo; dizendo, contudo: “Dentro de mim, minha alma está perturbada; por isso lembrar-me-ei de ti”.
           Nestas duas frases condensa-se toda a nossa vida espiritual. Ao olharmos para nós, fiquemos perturbados e tristes quanto à salvação; respiremos desafogados na consideração das coisas divinas, para recebermos a consolação na alegria do Espírito Santo; e daqui, brote em nós a esperança e a caridade".

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