quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Do Livro sobre a vida cristã, de São Gregório de Nissa, bispo (PG46,295-298) (Séc.IV)


Combate o bom combate da fé

           "Se há em Cristo nova criação, passou a antiga (2Cor 5,17). Nova criação é o nome dado à inabitação do Espírito Santo no coração puro e irrepreensível, liberto de toda maldade, cobiça e ignomínia. Pois o homem que tem ódio ao pecado e se entrega com todo o empenho ao serviço da virtude e que, tendo mudado de vida, recebeu em si a graça do Espírito, este homem se fez todo novo, restaurado e reconstruído. Ainda mais isto: Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa (1Cor 5,7). E esta: Festejemos, não com o velho fermento, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade (1Cor 5,8). Estas citações concordam com o que foi dito sobre a nova criação.
          Sem dúvida alguma o tentador arma ciladas para nós. A natureza humana é em si mesma fraca demais para obter vitória sobre ele. Por isto o Apóstolo nos ordena cobrir-nos com as armaduras celestes: Vesti a couraça da justiça, tende os pés calçados com o zelo para propagar o Evangelho da paz e ficai de pé, de rins cingidos com a verdade (cf. Ef 6,14). Vês quantos modos de te salvar o Apóstolo te sugere. Todos se dirigem ao mesmo
caminho, ao mesmo fim. Por eles com facilidade se efetua o curso da vida que temem mira a perfeição dos mandamentos de Deus. Em outro lugar diz o mesmo Apóstolo: Pela paciência corramos à luta que nos foi designada, contemplando o autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12,1-2).  
          Por esta razão é necessário a quem desdenha completamente as grandes coisas desta vida e rejeita toda glória mundana, que também renuncie junto com a vida até à própria alma.  Renúncia da alma significa não seguir nunca a sua vontade mas a de Deus, e tomá-la como excelente guia. Em seguida, nada possuir que não seja comum. Porque assim estará mais desembaraçado para realizar com presteza, na alegria e esperança, aquilo que o superior ordena, como servo de Cristo, liberto para o comum serviço dos irmãos. Isto quer o Senhor, quando diz: Quem dentre vós quiser ser o primeiro e o maior, faça-se o último e o servo de todos (cf. Mc 9,35).
          Na realidade, este serviço aos homens deve ser gratuito, e um tal servo irá sujeitar-se a todos e servir os irmãos como um devedor insolvente. Quanto àqueles que ocupam cargos de direção, devem eles assumir maiores trabalhos que os outros, portar-se com mais humildade que os subordinados e demonstrar a imagem e o exemplo do Servo. Considerem um depósito de Deus aqueles que foram confiados à sua fidelidade.
         Assim, pois, cabe aos que governam cuidar dos irmãos, à semelhança de bons educadores em relação às crianças que lhes foram entregues pelos pais. Se for este o sentir dos subordinados ou dos superiores, os primeiros obedecerão com alegria às ordens e determinações, e os outros, por sua vez, terão prazer em guiar os irmãos à perfeição. Se tiverdes atenções uns para com os outros, levareis na terra a vida dos anjos".

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