segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Do «Livro das Revelações do amor divino» de Santa Gertrudes, virgem (Liv. 2, 23,1.3.5.8. 10: SC 139, 330-340) (Sec. XIII)



Tivestes sobre mim pensamentos de paz

           "A minha alma Vos bendiga, Senhor Deus, meu Criador, a minha alma vos bendiga e do mais íntimo do meu coração Vos louvem as vossas misericórdias de que a vossa infinita piedade tão generosamente me envolveu. Eu Vos dou graças pela vossa imensa misericórdia e pela vossa paciente bondade para comigo. Todos os anos da minha infância e puerícia, da adolescência e da juventude, quase até ao fim dos vinte e cinco anos, decorriam numa cegueira tão louca; pensava, falava e procedia segundo os meus caprichos e não sentia remorso algum de consciência. 

            Dou me conta disso agora. Não Vos prestava atenção alguma, mas apenas me deixava conduzir por uma repugnância natural e inata pelo mal e pelo gosto do bem, ou pelas advertências dos que me rodeavam. Vivia como pagã entre pagãos, como se nunca tivesse ouvido dizer que Vós, meu Deus, recompensais o bem e punis o mal. E no entanto, já desde a infância, concretamente desde os cinco anos, Vós me tínheis escolhido para me admitir entre os mais fiéis dos vossos amigos na prática da santa religião. 

            Por isso, Pai amantíssimo, em reparação das minhas faltas, ofereço Vos todos os sofrimentos de vosso Filho bem amado, desde aquela hora em que, deitado nas palhas do presépio, soltou o primeiro vagido, e tudo o que suportou depois: as dificuldades da infância, as fraquezas da idade pueril, as adversidades da adolescência e as provas da juventude, até ao momento em que, inclinando a cabeça, com forte brado expirou na cruz. De igual modo, para suprir todas as minhas negligências, ofereço Vos, Pai amantíssimo, toda aquela santíssima vida de vosso Filho Unigénito, perfeitíssima em todos os pensamentos, palavras e acções, desde a hora em que foi enviado do trono celeste e desceu à nossa terra até ao momento em que apresentou perante o vosso olhar paterno a glória da sua humanidade vitoriosa.
           Em ação de graças e imersa no mais profundo abismo de humildade, louvo a vossa incomensurável misericórdia e adoro a dulcíssima benevolência pela qual, Pai de misericórdia, no meio da minha vida errante tivestes sobre mim pensamentos de paz e não de desgraça e quisestes elevar me com a multidão e grandeza dos vossos benefícios. Além disso, entre tantos favores, concedestes me o dom inestimável da vossa intimidade e amizade, ao abrir me aquela arca nobilíssima da divindade, a saber, o vosso Coração divino, no qual encontro o tesouro de todas as minhas alegrias.
           Finalmente, atraístes a minha alma com as fiéis promessas que desejais conceder me na morte e depois da morte; e, por isso, ainda que não tivesse recebido de Vós nenhum outro benefício, este dom seria suficiente, por si só, para que o meu coração suspirasse continuamente por Vós com viva esperança."

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