sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Santa Edith Stein: A oração é o trato de amizade...


       

        «A oração é o trato de amizade da alma com Deus. Deus é amor, e amor é bondade que se dá a si mesma; uma plenitude existencial que não se encerra em si, mas que se derrama, que quer dar-se e tornar feliz.
        Toda a criação deve o seu ser a esse transbordante amor de Deus. As criaturas mais dignas são os seres dotados de espírito, que recebem esse amor de Deus entendendo-o, e podem corresponder livremente: os anjos e os homens.
           A oração é a atividade mais sublime de que é capaz o espírito humano. Mas não é só fadiga humana. A oração é como a escada de Jacob, pela qual o espírito humano sobe até Deus, e a graça de Deus desce aos homens. Os graus da oração distinguem-se entre si, na medida da participação entre a potência da alma e a graça de Deus.
Ali onde a alma com as suas potências não pode atuar mais, é como um cântaro que se enche de graça, fala-se de vida mística da oração.
       O primeiro grau é a oração vocal, que se realiza com determinadas fórmulas faladas: o Pai Nosso, a Ave Maria, o Rosário, as Horas canônicas. Essa oração vocal não deve entender-se de modo que consista só em pronunciar as palavras. Onde a oração vocal se pratica de modo que o espírito não se eleva para Deus, é uma aparência de oração, não uma oração verdadeira. As palavras são um apoio para o espírito, indicando-lhe um caminho.
        Um nível mais elevado é a meditação. Nela o espírito desenvolve-se em liberdade, sem impedimentos de linguagem. Por exemplo, meditamos no mistério do nascimento de Jesus. A imaginação transporta-nos à gruta de Belém, mostra-nos o Menino no presépio, os seus santos pais, os pastores e os reis.
         O seu entendimento reflete sobre a grandeza da misericórdia divina, o coração sente-se cheio de amor e gratidão, a vontade decide-se a tornar-se mais digna do amor divino. Deste modo, a meditação absorve todas as potências da alma, e, exercida com perseverança, pode pouco a pouco mudar completamente o homem.
         O Senhor costuma premiar essa perseverança na meditação de outro modo: eleva-o a uma forma de oração mais alta. A esse grau mais alto chama-lhe a Santa oração de quietude.
         À atividade transbordante do entendimento, segue-se um recolhimento de todas as potências da alma. A alma já não é capaz de fazer grandes considerações intelectuais e decidir resoluções concretas; vê-se inundada por algo, que se lhe deita em cima sem poder resistir-lhe; é a presença divina que lhe dá sombra e repouso.
          Enquanto que os primeiros graus da oração os pode escalar qualquer crente com esforço humano, ainda que, está claro, ajudado sempre pela graça divina, aqui encontramos as fronteiras da vida mística da graça, que não se podem atravessar com a força humana, porque é só a força divina que nos arrasta para ela.
       E se a evidência da divina presença concentra totalmente a alma e a faz transbordar de incomparáveis alegrias humanas, a união com Deus ultrapassa de maneira inaudita essas alegrias, que aqui se lhe concedem, ainda que como centelhas fugazes.
          Neste grau de graças místicas acumulam-se variedade de experiências, que ainda exteriormente se podem apreciar como extraordinárias: êxtases e visões.
       As potências interiores da alma sentem-se de tal forma cobertas por atuações sobrenaturais, que as suas potências exteriores, os sentidos, se vêem atrofiados: nem vê, nem ouve, o corpo é incapaz de sentir a dor, e está por vezes rígido como um cadáver. Pelo contrário, a alma, aliviada do corpo, abunda de atividade: vê já o Senhor em imagem corpórea, a Mãe de Deus, os anjos, os santos. Contempla esses corpos celestiais como se os visse com os seus próprios olhos. Ou então o entendimento vê-se iluminado por uma luz sobrenatural que lhe permite contemplar verdades ocultas.
         Estas revelações pessoais têm geralmente o fim de instruir a alma sobre o seu próprio estado, ou sobre o estado de outras almas, de familiarizar a alma com os segredos divinos e preparar a alma para uma determinada missão, que o Senhor lhe tem preparada. Nunca faltam na vida dos santos, ainda que não seja o essencial da sua santidade. A maioria das vezes aparecem num determinado estado para novamente desaparecer.
       As almas que o Senhor preparou e provou por meio de frequentes uniões temporais, revelações extraordinárias, sofrimentos e tentações de toda a espécie, quer uni-las consigo. Estabelece com elas uma aliança, que se chama desposório místico. Espera dessas almas que se dediquem completamente ao seu serviço; preocupa se com elas e está sempre disposto a atender as suas petições.
           Finalmente, Teresa chama matrimônio místico ao grau mais alto da graça divina. Cessam as manifestações extraordinárias, mas a alma está sempre unida com o Senhor; goza da sua presença mesmo no meio das atividades exteriores, que em nada lhe impedem a união».

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